A conceituada violoncelista francesa, Ophélie Gaillard, é artista residente do Festival ZêzereArts. Foto: Facebook Ophélie Gaillard

O Festival ZêzereArts está a encher de novo de música clássica os concelhos de Ferreira do Zêzere e Tomar desde o dia 18 de julho. Uma das artistas residentes, que não é estreante nas andanças do ZêzereArts, é a consagrada violoncelista franco-suiça Ophélie Gaillard, que vai dar um concerto no dia 26 de julho (seg, 21h), no Bêco (Ferreira do Zêzere), e com quem o mediotejo.net teve oportunidade de trocar algumas palavras. Ophélie Gaillard enaltece “a excelência do ensino e o agradável convívio que reina no festival”.

Ophélie Gaillard, 47 anos, nasceu em Paris e foi também no Conservatório da capital francesa onde realizou os seus estudos, durante os quais obteve os primeiros três prémios musicais (um em música de câmara na aula de Maurice Bourgue, outro em violoncelo na aula de Philippe Muller, e o terceiro em violoncelo barroco na aula de Christophe Coin). Desde então, nunca mais parou de fazer vida da música clássica.

Gaillard desde cedo ganhou notoriedade no panorama artístico da música clássica, como quando ganhou a Competição Internacional Johann Sebastian Bach em 1998 ou quando, em 2003, ganhou o prémio Revelação de Instrumentista a solo dos prémios “Victoires de la Musique Classique”. Em 2005 fundou o grupo Pulcinella, que se dedica a tocar música barroca em instrumentos de época. Além dos vários discos e atuações que já leva na bagagem, a violoncelista dedica-se igualmente ao ensino desde o ano de 2000, lecionando atualmente na Haute école de musique Genève – Neuchâtel, na Suiça.

Sobre as suas visitas regulares ao ZêzereArts, diz que tem a agradecer a valorização feita a um “incrível património arquitetónico e musical”, assim como enaltece a excelência do ensino que é feito através das masterclasses do festival, além do “agradável convívio que reina no ZêzereArts”.

VÍDEO | Ophélie Gaillard a tocar E lucevan le stelle, obra do compositor italiano Giacomo Puccini, em conjunto com a Morphing Chamber Orchestra

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A violoncelista refere que a presença misturada de cantores e instrumentistas dá uma excelente dinâmica às masterclasses e que essa mistura é “particularmente importante e frutífera”.

“Esta reunião que é feita no verão para partilhar uma paixão comum dá alento para o ano inteiro e sentido às nossas vidas, além de que é também assim que se pode construir e rejuvenescer o público presente nos concertos”, diz a também professora de violoncelo.

Ophélie Gaillard vai dar um concerto no dia 26 de julho (seg, 21h), naquele que é um recital para violoncelo solo a decorrer na recentemente restaurada Igreja Matriz de Santo Aleixo, na freguesia do Bêco, em Ferreira do Zêzere. Dispondo de 100 lugares disponíveis, os bilhetes gratuitos para o espetáculo são adquiridos no Posto de Turismo de Ferreira do Zêzere (tel. 249 360 151).

Para o concerto, Gaillard vai utilizar um raro violoncelo de 1737, feito pelo mestre italiano Francesco Goffriller, e que sendo-lhe emprestado há vários anos pelo banco francês CIC (Crédit Industriel et Commercial), tem sido o seu companheiro fiel.

Em 2018, naquele que é para Gaillard um “evento traumático”, este violoncelo foi-lhe roubado em Paris e depois devolvido anonimamente, após o assalto ter sido exposto nas redes sociais. Aliás, relativamente a este episódio, Ophélie sempre congratula a imprensa e as redes sociais, graças às quais foi possível espalhar rapidamente a informação sobre o roubo, o que “aparentemente assustou o ladrão que, certamente, não sabia que é praticamente impossível conseguir vender um instrumento destes”. O instrumento foi assim colocado à frente da casa da violoncelista pouco tempo depois do roubo.

Dois dias depois do concerto de Ophélie Gaillard, a 28 de julho (qua, 18h30) é a vez de os alunos da sua masterclass de “dois dias de intenso trabalho com um grupo restrito de estudantes avançados” colocarem à prova o que aprenderam com a profissional francesa, através de um recital de violoncelo e piano, o qual decorre no Auditório da Biblioteca Municipal de Tomar. Limitado a 90 lugares, os bilhetes podem ser adquiridos de forma gratuita no Posto de Turismo de Tomar (tel.249 329 823).

Quando inquirida sobre o estado da música clássica e de câmara em Portugal, Ophélie Gaillard responde fazendo referência aos talentos portugueses, mencionando que duas das alunas portuguesas de Catherine Strynckx (igualmente artista em residência do ZêzereArts), já ingressaram em escolas superiores na Suíça, onde ela própria trabalha.

Gaillard refere ainda as duas sopranos portuguesas “magníficas” com quem trabalha – Ana Vieira Leite e Raquel Camarinha – e ex-alunos que são hoje em dia violoncelistas “brilhantes”, como Hugo Paiva ou Simão Alcoforado, o qual é atualmente o principal violoncelista da Orquestra do Teatro de Florença.

Ophélie Gaillard. Foto: ZêzereArts

Ophélie considera que existe em Portugal uma escola de cordas muito boa e, que no que toca ao violoncelo, o ensino é de excelência, embora tenha perdido recentemente um magnífico representante, o violoncelista Paulo Gaio Lima, que faleceu este ano.

A violoncelista francesa diz ainda que estes factos podem ser agradecidos, em parte, a Guilhermina Suggia, violoncelista portuguesa falecida em 1950 e uma “figura feminina excecional no violoncelo”, que indicou às futuras gerações o caminho a seguir.

Aos seus alunos e aos amantes deste género musical, Ophélie Gaillard deixa uma frase que lhe é muito querida, do poeta do século XX seu compatriota, René Char: “Impõe a tua sorte, serve a tua felicidade, vai em direção ao risco. Eles vão-se habituar a olhar para ti.”

Licenciado em Ciências da Comunicação e mestre em Jornalismo. Natural de Praia do Ribatejo, Vila Nova da Barquinha, mas com raízes e ligações beirãs, adora a escrita e o jornalismo.

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