Maria dos Anjos Esperança, coordenadora da Unidade de Saúde Pública do ACES Médio Tejo. Foto: mediotejo.net

Um ano depois da notificação do primeiro caso positivo para a covid-19 na região, a coordenadora da Unidade de Saúde Pública do Agrupamento de Centros de Saúde (ACES) do Médio Tejo explica, em entrevista, como foi pegar no telefone e ter de comunicar a uma pessoa, pela primeira vez, que estava infetada com o novo coronavírus.

Teria depois de voltar a fazer o mesmo tipo de telefonema milhares de vezes – e não há experiência acumulada que possa preparar qualquer profissional de saúde para apaziguar com confiança plena o medo que se sentia, quase palpável, do outro lado da linha.

“Houve quem chorasse, quem me dissesse que não queria morrer…”, conta Maria dos Anjos Esperança, reconhecendo que nenhum médico poderia, em consciência, dizer que iria ficar tudo bem. Esta era – e ainda é – uma doença com muitos fatores desconhecidos. E uma doença que, infelizmente, veio para ficar.

A delegada de saúde pública considera que, a curto prazo, teremos de continuar a manter todos os cuidados de higiene, usando máscara e mantendo o distanciamento social. “No próximo ano, pelo menos, não vejo como possam haver mudanças nos nossos comportamentos”, diz.

A médio prazo, é difícil fazer outras previsões, lamenta. “Não sei quando poderemos retomar uma vida mais normalizada, retomando contactos de afecto, como um abraço, ou até de cordialidade. Não sei, sinceramente.”

Ao longo deste ano, em que foram registados 13.513 casos positivos na região e a covid-19 provocou 393 óbitos, viveu dias muito duros mas também guarda memória de alguns momentos especiais.

Recorda, por exemplo, a relação que criou com um idoso de Olaias, no concelho de Tomar, que ficou positivo e tinha muito medo de pegar a doença à mulher. Por isso isolou-se numa outra casa, mas ficou sem ter quem o ajudasse. Era diabético e nem sequer tinha médico de família, por isso Maria dos Anjos Esperança ligava-lhe todos os dias e conseguiu arranjar uma equipa que o ia visitar e verificar se estava bem de saúde.

“Ele ficou bem, recuperou da doença, e um dia recebi no centro de saúde um ramo de flores com um cartão… É um cartão que anda sempre comigo”, revela emocionada, esticando a mão para a carteira, para ler a mensagem:

“Os meus agradecimentos à Dra. Maria, que foi um Anjo e nos momentos difíceis me deu Esperança.”

Sou diretora do jornal mediotejo.net, diretora editorial da Médio Tejo Edições e da chancela de livros Perspectiva. Sou jornalista profissional desde 1995 e tenho a felicidade de ter corrido mundo a fazer o que mais gosto, testemunhando momentos cruciais da história mundial. Fui grande-repórter da revista Visão e algumas da reportagens que escrevi foram premiadas a nível nacional e internacional. Mas a maior recompensa desta profissão será sempre a promessa contida em cada texto: a possibilidade de questionar, inquietar, surpreender, emocionar e, quem sabe, fazer a diferença. Cresci no Tramagal, terra onde aprendi as primeiras letras e os valores da fraternidade e da liberdade. Mantenho-me apaixonada pelo processo de descoberta, investigação e escrita de uma boa história. Gosto de plantar árvores e flores, sou mãe a dobrar e escrevi quatro livros.

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