A Festa da Nossa Senhora da Boa Viagem existe há mais de 200 anos, soma-se mais um ano de Festas do Concelho que reúne as gentes de Constância e muitos forasteiros. Esta é uma festa coletiva?
Sim, sem sombra de dúvida que é uma festa coletiva. Porque a Câmara é apenas o vértice da pirâmide – organiza, articula, contrata os artistas, contrata a logística – mas uma Festa, só possível de fazer, com a Câmara, com as Juntas de Freguesia, com a paróquia, com as associações de cultura, recreio e desporto, com o Agrupamento de Escolas, com os moradores, Portanto, é uma festa que envolve todo o concelho: a vila e as três freguesias.
A segunda-feira de Páscoa continua a ser o ponto alto, ou seja, o dia mais marcante para quem é de Constância?
Sim. É o dia com mais emoção porque é o dia que se revive uma tradição com mais de 200 anos. Independentemente da pessoa ser ou não crente, a procissão em honra da Nossa Senhora da Boa Viagem, com a bênção dos barcos no rio Zêzere e no rio Tejo, a descida da imagem à zona baixa da vila, aos rios, é algo que se repete há 200 anos e que marca o concelho e em especial a vila.

Tem memórias de infância deste dia? Mudou alguma coisa, nomeadamente na componente religiosa?
Desde que me lembro de ser gente sempre me lembro das festas. Em termos da procissão e da envolvente, quer nos rios quer na Praça Alexandre Herculano, a festa pouco se alterou naquilo que são as minhas memórias de infância. Continua a tradição a ser o que era. Obviamente com anos em que participam mais pessoas na procissão e na bênção dos barcos, um ano com mais embarcações e outro ano com menos embarcações, mas naquilo que é fundamental e a que é a raiz da festa, mantém-se igual.
Falando de rituais, o pároco ainda visita as casas, os lares da cada família, com a coroa da Nossa Senhora da Boa Viagem?
Tratando-se de uma questão tão própria da Igreja, não sei. Enquanto presidente de Câmara tenho ideia de ter sido ainda realizado. Mas quando era miúdo lembro-me desse ritual acontecer nas casas na vila de Constância. Não na minha casa porque morava em Santa Margarida.

A chegada das embarcações e a bênção dos barcos e das viaturas é algo, para si, tocante? Ainda se vive com devoção a Semana Santa como faziam os marítimos no passado?
A bênção das viaturas é recente. Original da festa da Nossa Senhora da Boa Viagem é a descida da procissão e a bênção dos barcos. Eram barcos que, na altura, as pessoas utilizavam na sua vida no rio. Hoje há algumas pessoas que fazem vida do rio mas são muito poucas, em comparação com as existentes há 60 ou 70 anos. Lembro-me sempre das viaturas mas terá sido iniciada a bênção nos finais da década de 1980, princípios de 1990. Foi criada a parte pagã que se juntou à parte religiosa. As Festas do Concelho nasceram nos finais da década de 1980. O festejar do concelho era pelo 10 de junho, com ligação a Camões, do qual já não tenho ideia. Nasci em 1985 e só me recordo das Festas do Concelho no formato que temos atualmente.
Mas é algo tocante. Ninguém fica indiferente à bênção dos barcos tal como não fica indiferente à bênção das viaturas porque é arrepiante o buzinão geral no final, normalmente está um carro dos bombeiros e uma ambulância, e é mesmo impactante. As pessoas ficam comovidas, ainda mais para quem sente a terra, quem gosta da sua terra e vive o concelho muito mais o sente, no sentido do que está a assistir mas também pensar que a bênção das embarcações se realiza há 200 anos. É uma responsabilidade muito grande! Quando vou na procissão e olho para a imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem lembro-me sempre da responsabilidade que as pessoas, que levam aquele andor, têm às costas. Aos ombros, melhor dizendo. Porque é uma imagem com 200 anos, numa vila com ruas tão inclinadas em que, se acontece um acidente qualquer, podemos perder uma imagem que conta uma história com 200 anos. Portanto, é um marco vivo para o concelho e para a vila.

De onde vêm as embarcações este ano?
Vêm embarcações desde Vila Velha de Rodão até à foz do rio Tejo em Lisboa. Vêm dos concelhos ribeirinhos praticamente todos. Nós convidamos – ainda estamos a convidar as embarcações – devemos ter este ano entre 20 a 30, mas temos representações praticamente de toda a zona do Tejo. O número de embarcações tem oscilado entre estes valores. Houve um ano que tivemos um problema com uma grua de engenharia em que tínhamos perto de 40, era um ano muito bom em comparação com os anos anteriores. Mas tirando esse ano, o número ronda entre as 20 e as 35 embarcações.
Trazer as embarcações requer uma significativa logística, porque já não sobem ou descem o Tejo como antigamente, vêm de Tancos até ao cais de Constância, não é verdade?
Normalmente as embarcações vêm em viaturas rodoviárias até ao cais de Tancos, são descarregadas por uma grua e navegam pelo rio Tejo até Constância. Algumas a montante, que vêm do Tramagal, e essas descem o rio. Antigamente subiam e desciam o rio. Esta logística é recente, desde que houve o assoreamento dos rios e a falta de água. Há alguns anos o método é este: descem no cais de Tancos, sobem o rio e terminada a bênção sobem até à zona da pesqueira onde são carregadas novamente para as viaturas para seguirem viagem até aos destinos. Chegam a Tancos em camiões, carrinhas, algumas embarcações pertencem a municípios ribeirinhos, conforme temos algumas e participamos nomeadamente nas Festas de São Pedro do Montijo, nas festas do Seixal, da Moita…

É só é possível com a colaboração da EDP Distribuição, por causa no nível do caudal do Tejo…
Claro! Pedimos para libertarem água de Castelo de Bode para termos água suficiente e já nos responderam que este ano havia condições para libertar água e queremos acreditar que irá correr tudo bem. No ano passado, com o ano de seca que tivemos, de Castelo de Bode obtivemos a resposta de que não tinham capacidade para libertar água e não libertaram. Libertaram água no rio Tejo mas tivemos de fazer um compasso de espera de meia hora, porque houve um contratempo na libertação da água, mas mesmo assim os barcos chegaram a Constância com grande dificuldade. Porque se o Tejo libertar água e levar alguma corrente o próprio Zêzere se não levar corrente recua e ao recuar faz baía nesta zona e permite que os barcos venham até ao areal, o mesmo acontece com o Zêzere, se Castelo de Bode libertar água o Zêzere entra pelo rio Tejo e como os barcos sobem aquela zona debaixo da ponte do rio Tejo tem sempre água que permite chegar até Constância.
Por falar em caudais dos rios, a oscilação de caudais resulta em cada vez menor quantidade de peixe no rio, quase nenhuma lampreia este ano, sendo que, em contraponto, Constância teve em 2022 o primeiro ano com uma praia fluvial no Zêzere. Portanto, rio e margens ribeirinhas continuam indutoras de dinâmicas para os territórios?
Sim, sem dúvida. Um território que seja banhado pelo rio ou pelo mar tem sempre uma vantagem relativamente aos outros, torna sempre o território mais aprazível, mais bonito. E nós temos a vantagem de ter dois rios, o Zêzere e o Tejo. A praia fluvial foi uma ambição da população há muitos anos e que superou em muito aquilo que eram as nossas expectativas. Contávamos que fosse um equipamento muito utilizado mas não contávamos ter as enchentes que tivemos em 2022 e estamos a contar voltar a ter em 2023.
Mesmo com o Zêzere com baixo caudal…
As pessoas vêm na mesma. Até sabe melhor andar dentro de água com baixo caudal, porque se o Zêzere tiver muita corrente não é fácil estar dentro do rio. Por dois motivos: pela corrente e porque a água torna-se mais fria. Tivemos dias magníficos de verão na nossa praia.

Voltando às festas, teme que a tradição acabe ou acha que não está em causa?
Não acredito que a tradição morra. Percebo que hoje vivemos tempos difíceis não só no que diz respeito às atividades e iniciativas religiosas, mas também no movimento associativo, na própria política. Cada vez é mais difícil conseguirmos mobilizar as pessoas para participarem nesse tipo de desígnios, de intervenção ao serviço dos outros, mas não acredito que aqui a tradição morra. A festa é uma só, obviamente que a parte religiosa, a responsabilidade da organização da procissão e das bênçãos, diz respeito à paróquia, mas toda a gente sabe que a Festa do Concelho existe porque há 200 anos que existe aquela tradição. E como é uma festa que não é apenas a Câmara que organiza – a Câmara está envolvida mas tem todo o movimento associativo envolvido e à volta da festa – não acredito que esta tradição algum dia tenha possibilidade de desaparecer.
Outro atrativo é a ornamentação das ruas, com flores de papel – provavelmente também de plástico…
No ano passado houve flores de plástico, mas este ano não há, optamos por não comprar plástico. Ou melhor, é muito residual, as flores que existirão este ano de plástico são stock que tínhamos do ano passado que será definitivamente gasto este ano. Portanto, quero acreditar que a larga maioria das ruas vai ser em papel.

Mas em relação ao passado houve uma quebra ou um aumento do número de ruas decoradas? Como é que este trabalho está a correr este ano? Há um espaço comum onde as pessoas se reúnem para fazer essas flores ou passou a ser um trabalho individual?
No passado é provável que existissem mais ruas embelezadas por um motivo: o centro histórico da vila era habitado, tinha muitos moradores. Hoje em dia o centro histórico está a ser reabilitado – existem alguns moradores mas muito poucos -, mas no sentido do alojamento local, de comércio ou de serviços, não propriamente para habitação própria e permanente. Desse ponto de vista acredito que haja determinadas ruas no centro histórico, que eram embelezadas e hoje não são. Existem ruas engalanadas na vila porque são as associações de cultura, recreio e desporto do concelho que as embelezam, cada coletividade fica com uma rua para embelezar. Na maioria dos casos é um trabalho comum, ou seja, sei que nesta fase há associações a trabalhar há semanas, todos os dias à noite reúnem grupos de pessoas, dos corpos sociais e pessoas que ajudam a coletividade, para fazer flores em conjunto e a preparar as coisas para na próxima semana, nomeadamente quinta-feira começarem a embelezar as ruas.
Portanto, antigamente eram os moradores que faziam esse trabalho?
Essa tradição começou com os próprios moradores. Mais tarde com a decadência do centro histórico e com o desaparecimento de grande parte dos moradores do centro histórico, felizmente não morreram todos mas a larga maioria era de idade avançada… e é a lei da vida. A partir daí chamou-se as associações para este trabalho e as associações praticamente todas do concelho têm um apontamento numa das ruas. As coletividades escolhem os temas, dizem a cor do papel que querem, os materiais, a Câmara adquire e o tema e a decoração é tudo com eles, a Câmara não interfere em absolutamente nada.

Por seu lado, o Agrupamento de Escolas enfeita a Praça Alexandre Herculano… como disse a decoração fica ao gosto do grupo ou entidade que a executa. Mas estender esta prática aos alunos da escola é uma forma de passar a tradição às gerações futuras e de criar nos mais novos uma identidade cultural?
Sim. Para além do Agrupamento participar como uma parte ativa nas festas a ideia é também que os nossos jovens fiquem sensibilizados que esta é a festa da terra deles e para que haja aqui o assegurar da continuidade daquilo que há muito deixou de ser uma festa regional. É uma festa nacional e de âmbito internacional e que é importante para a economia local.
Sendo internacional, nesta altura chegam pessoas de além fronteiras, designadamente emigrantes?
Sim. Temos emigrantes que vêm nesta altura. Temos estrangeiros, algumas comunidades estrangeiras que vêm propositadamente para a festa. Portanto é uma festa que traz pessoas não só da região, como do país e até fora do país.
O presidente está satisfeito com o programa?
Estou. Acho um bom programa, independentemente do gosto musical de cada um – e nessa matéria sou um leigo, não tenho problemas nenhuns em o afirmar. A decisão final é minha mas nunca sou eu que vou à procura dos artistas. Há outras pessoas na Câmara, internamente, nomeadamente o vereador Pedro [Pereira] responsável pela Cultura e quem tem mais sensibilidade para esta matéria. Propõe uma panóplia de nomes e depois a maioria que gere a Câmara Municipal decide. Mas por aquilo que tenho ouvido da população e da reação nas redes sociais acho que é um cartaz que contempla o gosto de todos, dos mais novos aos mais velhos.
Há alguma novidade este ano?
Percebemos desde muito cedo que a festa precisava de uma revitalização, no sentido de não ser todos os anos a mesma coisa e trazer cá pessoas, e há uma parte da festa que não conseguimos mudar, que é a religiosa. A própria disposição da festa, em si, também não permite grandes alterações no centro histórico que tem as condições que tem. Portanto, a nossa aposta em artistas mais comerciais é precisamente nessa tentativa que temos vindo a fazer, há alguns anos, de revitalizar as festas e trazer cada vez mais pessoas às nossas festas. No ano passado isso foi conseguido, no último ano que fizemos a festa, antes da covid-19, também foi conseguido e tenho a certeza que este ano também será conseguido com o cartaz que apresentamos. Obviamente com quatro artistas do panorama nacional e que são bastante conhecidos. Mas sem esquecer todas as outras atividades à volta da festa e gostaria de destacar a tarde de folclore dinamizada pelo Racho Folclórico Os Camponeses de Malpique.
Não podemos esquecer que esta festa é muito alicerçada no passado da vila, ligada aos rios e aos marítimos, mas nas outras duas freguesias, Santa Margarida da Coutada e Montalvo, eram freguesias rurais, ligadas ao mundo agrícola. Esta tarde de folclore existe precisamente, não só para proporcionar uma tarde de cultura a uma geração mais sénior, mas também homenagear esses homens e essas mulheres que neste mundo rural trabalharam na agricultura e naqueles afazeres que marcaram a freguesia de Santa Margarida e a freguesia de Montalvo. O Racho Folclórico Os Camponeses de Malpique foi fundado em Malpique em 1985, na freguesia de Santa Margarida da Coutada, e tenta recriar todo o ambiente da vida rural, incluindo no rigor dos trajes. Tem uma série de apontamentos durante o espetáculo, por exemplo debulhar, abrir camisas de milho, que se usavam antigamente nos colchões das camas. Um grupo que, para além das músicas e danças, reúne um conjunto de painéis que recriam atividades à época. Também são importantes na preservação dessas tradições e dessa cultura que marcam as outras duas freguesias do concelho. O Rancho Folclórico organiza a tarde de folclore e traz mais dois ou três grupos, de outras regiões do país, e em contrapartida o nosso racho irá atuar em festivais ou em atividades desses ranchos que vêm cá de forma gratuita. É o Rancho que convida os grupos para virem atuar à festa.

A partir de quando e o que implica concretizar uma festa anual popular, com animação musical e cultural e também religiosa que é talvez a mais importante do concelho – a par das Pomonas Camonianas e do Mercado Quinhentista -, como é que se fazem as escolhas?
A questão dos artistas começamos a preparar em finais de outubro. A questão da ornamentação das ruas, das tasquinhas, dos quiosques é entre janeiro e fevereiro. É uma festa que se começa a preparar com muitos meses de antecedência. Implica a contratação de artistas, contratação da tenda para as tasquinhas, dos stands, do som, da luz, do fogo de artifício, Sociedade Portuguesa de Autores, uma série de passos que é preciso dar.
Há um equilíbrio entre a qualidade e o custo ou a festa é pensada apenas para atrair pessoas, ou seja, com um programa mais popular?
A festa é pensada não só para atrair pessoas a Constância. Temos consciência que durante quatro dias é importante ter cá muita gente, por vários motivos. Por um lado, para ajudar o comércio local – cafés, restauração e outros estabelecimentos que existem na vila -, por outro lado temos consciência que as associações que participam nas tasquinhas e nos quiosques de venda de bebidas, o dinheiro que realizam durante estes dias é fundamental para manterem a sua atividade ao longo do ano. Um outro objetivo da festa é dar a conhecer o concelho a quem ainda não o conhece e projetá-lo para fora das nossas fronteiras. Quanto aos custos, não há muito por onde se possa cortar. Só a logística da festa – tendas, palcos, stands, iluminação, som – custa cerca de 100 mil euros.
Mas a sua realização implica um défice financeiro, ou seja a despesa é maior do que a receita…
A Câmara investe esse valor e não tem retorno do valor que investe. A despesa é maior que a receita. A única receita da Câmara Municipal é das inscrições dos atletas no Grande Prémio da Páscoa em Atletismo e dos artesãos que se inscrevem para os stands, se bem que o Município não cobra aos artesãos o preço que paga pelo stand, cobra uma taxa abaixo do custo do stand de forma a incentivar e podermos contar com mais artesãos na nossa mostra. Mas o Município não vê esta festa como uma despesa, mas sim como um investimento no concelho.
E qual é o investimento este ano?
O investimento rondará entre 160 a 180 mil euros. É o custo da festa. Como disse 100 mil a logística e cerca de 60 mil os artistas e depois há refeições e outros custos que atingirá os 180 mil.
E já agora a receita prevista?
Não lhe sei dizer esses valores mas é muito pouco. Se calhar estamos a falar de 10 ou 11 mil euros. Temos o apoio da Celulose do Caima que costuma rondar os 35 mil euros.

Portanto, há um valor que não se consegue medir em euros…
Exato. Não podemos deixar de investir nesta festa porque sabemos a importância que têm para a divulgação externa do concelho, para a dinamização do concelho e para as associações de cultura, recreio e desporto do concelho e para o comércio local. No ano passado, no sábado, as associações não tiveram mãos a medir com o número de refeições que serviram. Houve associações que, aquilo que tinham comprado para quatro dias de festa, ao segundo dia tiveram de ir às compras porque já tinham vendido tudo ou quase tudo. E quando recebemos esse feedback por parte das associações obviamente que nos sentimos realizados e contentes com isso porque o nosso objetivo é precisamente esse: que prestem um bom serviço nas festas mas que também vão da festa com os cofres cheios para poderem dinamizar as atividades culturais, recreativas e desportivas que fazem ao longo do ano e que são fundamentais para manter vivo o movimento associativo. São fundamentais na dinamização de um conjunto de atividades culturais, recreativas e desportivas muito para além daquilo que a Câmara oferece, é um complemento aquilo que a Câmara oferece.
Constância consegue responder em termos de oferta gastronómica e hoteleira a todas as pessoas que visitam o concelho durante esses dias?
A nível da restauração, onde incluo as tasquinhas, penso que os espaços que existem são suficientes para responder. A nível de hotelaria penso que não. Não temos essa capacidade. Temos uma residencial pequenina e alguns alojamentos locais residuais. Penso que virá muita gente de fora que acabará por ficar em espaços nos concelhos vizinhos. E se me fizesse essa pergunta fora do fim de semana da festa não teria dúvidas em afirmar que a nível da restauração e do alojamento, Constância, para a procura que tem tido, não tem resposta suficiente. Aliás, são os próprios empresários de restauração que dizem que não têm muitas vezes capacidade para responder à procura. Alguns até ficaram surpreendidos porque este ano o movimento começou a sentir-se em logo em fevereiro. Constância é muito mais badalado no período de primavera/verão, no inverno tem menos procura, mas este ano houve um incremento muito grande e tiveram algumas dificuldades em conseguir dar resposta.
Ou seja, investimentos na área de hotelaria e restauração em Constância eram bem-vindos.
Eram bem-vindos. Vamos ter mais um restaurante em junho. Abriu no sábado como café, o rés-do-chão, e o primeiro andar vai abrir como restaurante, em junho, na Praça Alexandre Herculano.

Hoje existem as tasquinhas das coletividades, mas no passado as pessoas dinamizavam a oferta gastronómica desta festa nas garagens, entretanto essa realidade perdeu-se. O que levou a isso? Talvez a ASAE…
Foi a mudança dos tempos. A ASAE… obviamente que todas as regras ligadas à parte da restauração levaram a que tivéssemos de optar – não nós, mas quem tinha a gestão da Câmara anteriormente – pela solução de uma tenda onde são congregadas as associações, um espaço com outro tipo de condições. E se atualmente, nesta festa, quiséssemos fazer isso seria impossível. Grande parte desses imóveis estavam sem uso e alguns até em situações precárias… lembro-me da antiga cadeia onde era quase sempre a tasquinha do Agrupamento de Escuteiros, numa parte que hoje é da residencial, era o Rancho que fazia lá a tasquinha. portanto, imóveis que estavam devolutos, desocupados e alguns a precisarem de obras urgentes. Hoje felizmente que já não temos esses imóveis nessas condições no centro histórico e essa realidade. Não acredito que hoje, como em larga medida os imóveis são restaurantes, os proprietários deixassem que fossem lá feitas as tasquinhas. Obviamente que compreendo que a festa tinha muito mais encanto, com as pessoas andar pela festa na rua e encontrar uma tasquinha aqui outra acolá e poder comer. Lembro-me da tasquinha dos Osgas, na rua Grande, que não tem trânsito, é pedonal – reservada aos moradores –, num edifício que é da Câmara (precisa de ser reabilitado) e comíamos na rua. Tinha outro encanto.
Falando em hotelaria, pergunto como está a situação da empreitada do hotel que iniciou construção à entrada da vila?
Relativamente a tudo aquilo que já foi dito neste momento não há mais nenhuma novidade.
O estacionamento na vila nestes dias de festa é um problema? Há alguma solução prevista?
O estacionamento é sempre difícil. Junto ao rio é reservado às pessoas das tasquinhas, aos artesãos, aos trabalhadores da Câmara Municipal. Mas o Município tem criado há vários anos um circuito com um miniautocarro, há várias zonas de estacionamento na zona alta da vila, que circula de meia em meia hora. As pessoas deixam os carros nesses parques de estacionamento que estão identificados, há paragens definidas em que o miniautocarro passa, apanha as pessoas, leva até à zona da festa e no regresso igual. O autocarro irá circular sexta, sábado, domingo, até às 4 da manhã e segunda-feira até às 2 da manhã.

Sendo Constância um concelho dividido pelo rio Tejo, tenho de lhe perguntar como tem defendido o executivo municipal junto do governo a necessidade de uma nova travessia sobre o Tejo, sendo que no passado dia 22, numa comissão parlamentar, o ministro das Infraestruturas, João Galamba, falou em “mais uma travessia na zona de Constância” quando respondia a dois deputados a propósito do Eco-parque do Relvão. Há novidades que possa revelar?
Nesta fase não tenho novidades. Também ouvi essa declaração do sr. ministro. Quando o sr. primeiro-ministro veio visitar a Caima, na intervenção que fiz na Caima, fiz referência à questão da ponte sobre o rio Tejo. Continuamos a acompanhar, continuamos a insistir junto do governo central para nos resolver este problema e tem sido esta a nossa postura: relembrar e reiterar a necessidade de resolver o constrangimento que temos, não o concelho de Constância mas esta região do país.
Mas é ou não um constrangimento para um concelho dividido pelo rio?
O primeiro constrangimento é para o concelho porque somos nós que estamos cá e temos de atravessar de uma margem para a outra. Mas esta ponte não pode ser encarada como uma ponte local porque nunca foi uma ponte local, nem é. Às vezes as pessoas esquecem-se e é preciso reavivar as memórias: antes desta ponte ser interdita ao trânsito de pesados no ano de 2011, a larga maioria do trânsito desta região fazia-se por esta ponte, porque tem a ligação mais direta à A23 e porque a localização geográfica de Constância não se pode alterar, fica no centro do país. Tenho a certeza que no dia em que se encontrar – espero que não falte muito – uma solução que permita nesta zona passagem de pesados e viaturas nos dois sentidos, muitos problemas que se fazem sentir na região vão deixar de se sentir.