A 20 de junho de 1991 a vila do Entroncamento foi elevada à categoria de cidade. Momento simbólico de “grande regozijo” para os entroncamentenses, o presidente da Câmara Municipal diz que, a cada dia, o objetivo é tornar o concelho numa cidade “pensada estrategicamente, com sentido ambiental forte e com mais cultura”, onde “as pessoas gostem de viver”. Em entrevista ao mediotejo.net, Jorge Faria (PS) defende ainda que “o grande projeto” de que o concelho necessita, com urgência, é a construção de uma nova estação de comboios.
Atualmente num caminho de regeneração urbana profunda e requalificação de infraestruturas – como é o caso da reabilitação dos bairros ferroviários, do novo parque empresarial ou do projeto de construção de uma nova centralidade – a intenção de continuar a aprofundar aquele que é o ADN entroncamentense, a ferrovia, continua bem presente nas mãos de quem gere os destinos do concelho.
Com a característica de cidade dormitório mas cada vez mais casa de imigrantes – contando hoje com cerca de 54 nacionalidades – a autarquia vê com bons olhos a chegada de novos habitantes, com a preocupação a centrar-se na criação de “cada vez mais emprego para aqueles que queiram trabalhar cá”.
Em entrevista ao mediotejo.net a propósito dos 30 anos de elevação do Entroncamento a cidade, Jorge Faria defende que “o grande projeto” de que o concelho necessita, com urgência, é a construção de uma nova estação de comboios.
O Entroncamento celebra 30 anos de elevação de vila à categoria de cidade. Enquanto presidente da Câmara Municipal, que significado tem para si este marco?
Um aniversário é sempre uma forma de comemorar o passado e pensar o futuro. E, de facto, há 30 anos, quando foi feita a elevação da vila do Entroncamento a cidade, foi um motivo de contentamento geral porque normalmente estas classificações têm esse significado, ou seja, há um reconhecimento pelos outros que uma determinada comunidade passou a ter mais qualidade urbana e merece ser chamada de cidade. Foi com grande regozijo que as pessoas do Entroncamento passaram a viver num centro urbano que passou a ser designado de cidade, reconhecido como tendo mais qualidade.
Há 30 anos era presidente de Câmara José Cunha, que muito trabalhou também para que o Entroncamento fosse elevado a cidade e hoje, estamos há oito anos no governo da cidade, também tudo temos feito para melhorar a qualidade de vida das pessoas, melhorar a qualidade urbana, para que cada vez mais a nossa cidade seja um espaço que as pessoas gostem de viver cá, usufruam daquilo que é oferecido.
O facto de o Entroncamento ter passado de vila a cidade veio trazer mais oportunidades ao concelho?
O passar de vila para cidade tem essencialmente uma dimensão simbólica. Naturalmente, a elevação a cidade gera um conjunto de expectativas diferentes, gera dinâmicas diferentes e, de facto, acho que o Entroncamento ter sido elevado de vila a cidade também tem contribuído para aumentar o desenvolvimento da nossa cidade.
“É isto que nós cada vez mais queremos que seja o Entroncamento: uma cidade pensada estrategicamente, com um sentido ambiental forte”
E esse desenvolvimento de que fala, tem sido visível aos olhos de quem chega e de quem vive na cidade?
Outros melhor o poderão dizer, mas eu penso que sim. Reportando ao nosso trabalho destes últimos anos, temos feito um trabalho na área da regeneração urbana, na recuperação do edificado – por exemplo, o cineteatro, a recuperação de todo o património em torno do Museu Nacional Ferroviário, o Mercado Diário, os vários equipamentos escolares que foram sendo construídos ao longo do tempo, a estrutura ciclável, a melhoria das vias de comunicação, os espaços desportivos – um conjunto de investimentos que foram sendo feitos e todos têm contribuído para a melhoria das infraestruturas e da qualidade de vida no Entroncamento.
Nós temos vindo a fazer investimentos na área das infraestruturas de água e saneamento, que são aqueles investimentos que muitas vezes só se dá por eles quando se fazem os buracos (…) mas que são estruturantes para melhorar essas infraestruturas nos próximos 40 ou 50 anos. E nós não abdicamos de o fazer porque estamos a trabalhar para uma cidade e para um futuro. E vamos tendo resultados disso: nós tínhamos níveis de perda de água de consumo que atingiam há oito anos cerca de 46% e hoje estamos perto dos 26% de perdas, o que é muito significativo. Também a iluminação pública, a substituição por Led’s, que já fizemos mais de metade na cidade e espero que ainda durante o mês de julho possamos iniciar o resto que falta substituir. Os investimentos na infraestruturas de abastecimento de água e de iluminação pública têm dimensões ambientais importantes. Hoje, nós somos uma cidade com uma menor pegada de carbono, com uma pegada ecológica mais vincada. (…) E é isto também que nós cada vez mais queremos que seja o Entroncamento: uma cidade pensada estrategicamente, com um sentido ambiental forte, e uma cidade com mais cultura e equipamentos culturais.
ÁUDIO | Jorge Faria, em entrevista ao mediotejo.net
Uma cidade com mais cultura e que tem também vindo a apostar no reforço da sua identidade ferroviária?
Claro. Nós temos vindo a trabalhar quer na recuperação dos bairros ferroviários quer na criação de novos equipamentos. Temos neste momento um conjunto de equipamentos culturais em fase de lançamento empreitada, como seja a recuperação Bairro do Boneco para a instalação do Centro Ciência Viva, para instalação do Centro de Documentação Ferroviário, para instalação de mais uma área museológica associada aos militares e à ferrovia, como seja a recuperação da Escola das Tílias, em que vamos instalar um Centro de Interpretação da Medalhística e uma área de expressão da juventude.
Temos vindo a trabalhar intensamente com as empresas da área, não só na recuperação do património – estamos a concluir o novo Parque Empresarial do Entroncamento em espaços que negociámos com as Infraestruturas de Portugal. Este parque vai ser servido por um novo ramal ferroviário e muitas das empresas vão usar a ferrovia para escoar os seus produtos ou até, no caso de uma, poderá até vir a desenvolver materiais para usar na ferrovia.
Estamos atentos. Estamos a procurar desenvolver novas áreas de competência na área da ferrovia, estamos a trabalhar para criar uma instituição universitária com foco nas engenharias e na área ferroviária e da logística e também a tentar desenvolver um centro de competências ligado à ferrovia e temos vindo a fazer contactos, a procurar captar investimentos nessa área. A nossa matriz, o nosso ADN social que nos diferencia dos outros concelhos, continuamos a trabalhar no sentido de aprofundar essa característica diferenciadora.
” [É] importante e urgente nós conseguirmos desbloquear a construção de uma nova estação, uma estação moderna”
ÁUDIO | Jorge Faria, em entrevista ao mediotejo.net
Ligada à questão da ferrovia, o Entroncamento é também conhecido como uma cidade dormitório. É uma característica que ainda corresponde à realidade?
É uma característica que nos acompanha há muitos anos mas que nós temos vindo a trabalhar para que seja menos dormitório. No entanto, nós tínhamos há sete, oito anos cerca de 5500 pessoas que diariamente saíam da cidade para trabalhar fora mas, em contrapartida, tínhamos cerca de 3800 que entravam no Entroncamento para trabalhar. Ora, nós estamos a trabalhar, justamente com a captação de investimento para a cidade para alterar esta situação. Haverá sempre pessoas que optarão por viver no Entroncamento e trabalhar em concelhos limítrofes – não é isso que nos preocupa. O que nos preocupa é ter cada vez mais emprego para aqueles que queiram trabalhar cá ou para aqueles que vivem à volta virem trabalhar para o Entroncamento.
ÁUDIO | Jorge Faria, em entrevista ao mediotejo.net
Não deixamos de trabalhar, justamente na perspetiva de transformar cada vez mais a nossa cidade numa cidade não de dormitório mas que oferece opções de trabalho àqueles que queiram cá trabalhar ou àqueles que queiram vir para cá trabalhar. (…) Vamos também trabalhar na renovação do parque habitacional da nossa cidade. Está ainda em fase de desenvolvimento este projeto mas estou seguro que vai atingir os cerca de 15 milhões de euros.
ÁUDIO | Jorge Faria, em entrevista ao mediotejo.net
O Entroncamento é também uma cidade multicultural, com a população imigrante no concelho a crescer nos últimos anos …
É verdade. Isso para nós não é um problema, é um desafio, é uma oportunidade. Nós hoje temos cerca de 54 nacionalidades no concelho, temos um número de migrantes muito relevante – cerca de 12% dos estudantes do ensino público são hoje filhos de imigrantes e têm vindo a chegar à cidade imigrantes que vieram diretamente dos países de origem ou outros que se estão a deslocalizar de outros pontos de Portugal, nomeadamente, da grande Lisboa para aqui. Uns menos qualificados, outros mais qualificados, são um conjunto de pessoas que vem procurar melhorar a sua vida, que são bem acolhidos e que nós tudo faremos para os enquadrar, quer do ponto de vista profissional, da saúde, da integração dos filhos nas escolas e até do ponto de vista do apoio social necessário para singrarem na sua vida.
Para nós, obviamente que cria aqui algumas dificuldades acrescidas, mas não é um problema, é uma oportunidade e também vem dar resposta à crescente necessidade de mão de obra que se sente na cidade e na região à volta.
O Entroncamento está hoje a ser alvo de um conjunto de intervenções, conforme referiu anteriormente, mas pergunto-lhe o que é que mais falta faz a esta cidade, no seu 30.º aniversário?
Andamos sempre em torno da ferrovia e aquele projeto que já temos vindo a dialogar com a Infraestruturas de Portugal, IP e com a secretaria de estado das infraestruturas é a construção de uma nova estação, que proporcione um acesso seguro e funcional a todos aqueles que querem usar o comboio – o uso do comboio será cada vez maior, é o meio de transporte mais seguro, amigo do ambiente, confortável.

Um dos projetos que eu considero mais importante e mais urgente nós conseguirmos desbloquear é justamente a construção de uma nova estação, uma estação moderna – que não substituísse o atual edifício da estação, porque é um edifício a preservar, que é uma dimensão da nossa identidade enquanto comunidade. Nós já fizemos a nossa parte, já discutimos várias vezes com a IP, já apresentámos inclusive um projeto que seria de acordo com aquilo que eram as expectativas dos enquadramentos financeiros existentes para essa possibilidade – já o fizemos praticamente há um ano –, esperemos que haja alguma resposta nesse sentido. Era, de facto, muito importante para a nossa cidade.
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