Fernando Lopes, 57 anos, é investigador do LNEG especializado em métodos e técnicas de Inteligência Artificial (IA) com principal incidência para os ‘Agentes Inteligentes’ e a sua aplicação na área da Energia. Diz que num futuro próximo a IA terá um impacto na vida diária dos seres humanos semelhante ao impacto profundo que teve a Internet e os telemóveis. Não será a revolução das máquinas para dominar o mundo como acontece nos filmes, mas acredita que a IA poderá mudar a sociedade ao longo das próximas décadas e substituir os humanos em muitas atividades. O mediotejo.net foi conhecer melhor o trabalho deste engenheiro natural de São Miguel do Rio Torto, Abrantes.
Fernando Lopes é um engenheiro com uma visão prática e otimista do futuro. Depois de ter passado por algumas das mais prestigiadas universidades portuguesas, como estudante e professor, viajou até Inglaterra onde na Universidade de Liverpool efetuou trabalho de investigação em colaboração com o professor Michael Wooldridge.
Nessa universidade britânica, Fernando Lopes, nascido em São Miguel do Rio Torto, pode “robustecer os conhecimentos sobre Inteligência Artificial”, tendo o trabalho incidido, nomeadamente sobre a negociação automática.
Licenciado em Engenharia, com doutoramento e pós-doutoramento em Engenharia Informática e de Computadores, é atualmente investigador do Laboratório Nacional de Energia e Geologia (LNEG), obteve o grau de Agregado pela Universidade Nova de Lisboa em outubro de 2020, sendo editor da revista ‘International Journal of Artificial Intelligence’ desde 2008. Vive em Lisboa mas gosta da sua terra natal que visita com regularidade e onde sente as suas raízes, ao ponto de fazer questão de integrar o Rotary Clube de Abrantes.
Em São Miguel do Rio Torto fez “a escola primária e a antiga telescola. Muito diferente de hoje mas tenho recordações muito boas desse tempo. Tínhamos escola pela televisão e depois um período de tempo – cerca de uma hora – o professor local, na sala, revia toda a matéria que tinha sido lecionada na aula, não só teórica mas também os exercícios. Nesse tempo aprendi muita coisa!”, recorda ao mediotejo.net.
Após os estudos na cidade de Abrantes, Fernando foi estudar para a Faculdade de Ciência e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Prosseguiu a sua vida académica em Lisboa e pouco tempo depois de terminar o doutoramento ganhou uma bolsa da Fundação para a Ciência e Tecnologia que o levou em 2006 até ao departamento de Informática da Universidade de Liverpool.
“Um período muito importante! A Inglaterra é um país com uma série de características diferentes das portuguesas. As escolas, as universidades, as instituições funcionam de uma forma em que as pessoas são um pouco mais coordenadas e cooperativas. Não há tanto aquele espírito de olhar só para o próprio, em termos profissionais, académicos, em termos de valorização profissional, Há um olhar mais para o grupo, coisa que poderia ser melhor em Portugal”, opina.

Os seus interesses de investigação incluem o estudo de métodos e técnicas de Inteligência Artificial com principal incidência para os ‘agentes inteligentes’ e a sua aplicação na área da Energia, designadamente em mercados de eletricidade.
Ao nosso jornal explica que os ‘agentes inteligentes’ “são ‘entidades’ que existem no interior de um computador (ou, se quisermos, no interior do ‘corpo’ de um robot) e que têm a capacidade de executar programas específicos”. Além disso, “possuem conhecimentos sobre o ambiente (ou mundo) em que operam, têm objetivos e desenvolvem planos para atingir esses objetivos”.
Podem até “exibir um certo grau de autonomia, o que significa que podem executar ações sem a intervenção direta (ou controlo) dos seres humanos. E possuir capacidades de aprendizagem, fazendo uso de novos conhecimentos e aprendendo com a experiência”.
Foi neste contexto que Fernando Lopes efetuou o seu doutoramento, no Instituto Superior Técnico, no âmbito do qual desenvolveu um modelo para ‘agentes inteligentes’ tendo em conta as capacidades cognitivas de planeamento e negociação. Por um lado, os agentes que desenvolveu “podem construir planos para atingir objetivos”, por outro lado “podem negociar os termos e as condições associadas à compra e venda de um determinado produto, como um livro ou um computador”, ou em contextos mais complexos os termos e as condições relativas à negociação entre patrões e sindicatos, ou entre advogados (antes destes recorrerem aos tribunais) ou mesmo entre nações em ambiente de conflito”, refere.
Salienta que “esses agentes suportam a integração de duas importantes capacidades cognitivas: o planeamento e a negociação”. Um aspeto que considera “relevante” uma vez que “um dos grandes desafios da IA continua a ser a integração, firme e efetiva, das várias capacidades cognitivas individuais e sociais”.
No entanto, para Fernando Lopes o sucesso da IA não significa que as máquinas dominarão o homem. “As máquinas, por si só, não deverão ter motivações para nos fazer mal, para dominar o mundo como acontece nos filmes”, diz. Contudo, admite a possibilidade de “serem programadas para resolver determinados problemas” e que durante o seu trabalho “executem ações que não estão alinhadas com os interesses da humanidade. Este processo de alinhamento de interesses existe e várias pessoas já se encontram a trabalhar nele”, garante.
Sendo certo que o desenvolvimento das máquinas ditas inteligentes “ainda se encontra numa fase inicial, faltando percorrer um longo caminho até ao sucesso final”, dá conta.
Atualmente a IA “está presente num conjunto de aplicações relevantes para o dia-a-dia dos seres humanos”. Apesar disso, “a maioria das pessoas não tem consciência do uso de IA nessas aplicações. Por exemplo, o caso da aprovação de transações eletrónicas com cartão de crédito” ou até neste cenário de pandemia “já existem sistemas que permitem auxiliar os médicos a fazer os seus diagnósticos, pequenos robots que permitem auxiliar os cirurgiões em operações delicadas, aos olhos, ao coração ou ao cérebro”, refere.
As próprias redes sociais como o Facebook ou o motor de pesquisa Google “têm técnicas de Inteligência Artificial”, assegura o engenheiro. Lembra que recentemente o Facebook noticiou estar a estudar “sistemas de software que conversavam entre si através de técnicas de compreensão de linguagem natural e também tentavam estabelecer um acordo em relação aos termos e às condições da venda de um conjunto de livros”.
Fernando Lopes acredita que num futuro próximo tenha “um impacto semelhante” ao “impacto profundo que a Internet e os telemóveis tiveram na vida diária dos seres humanos”.
Considera que a IA poderá mudar a sociedade ao longo das próximas décadas “na medida em que os agentes inteligentes/robots poderão substituir os humanos em muitas atividades, como por exemplo, call centers, seleção de notícias, condução de veículos, ensino, advocacia ou medicina. Será um processo progressivo, mas provavelmente inevitável, dado que as máquinas poderão ser mais fiáveis e mais baratas de operar do que os humanos com capacidades técnicas equivalentes. Importa que a sociedade comece a ter consciência desta pequena revolução que se aproxima”, diz.
Sendo certo também que a importância dos agentes designados por ‘assistentes pessoais’, que auxiliam os humanos em tarefas inerentes à sua profissão, tem aumentado ao longo dos anos. “Por exemplo, agentes que efetuam traduções automáticas em diferentes linguagens e mostram simultaneamente o resultado no computador” indica.
Os veículos com condução autónoma “é uma das aplicações mais promissoras da Inteligência Artificial. “Podem constituir um auxiliar importante aos seres humanos. O progresso no desenvolvimento de veículos com condução autónoma tem sido notável” mas “falta ainda percorrer um vasto caminho antes de ser atingido o objetivo final. Existem questões éticas e a condução autónoma precisa de regras que têm de ser definidas pelos próprios seres humanos” sublinha.
Portanto, segundo Fernando Lopes, a melhor estratégia passa pela “adaptação. Da forma possível, à medida que as coisas forem acontecendo para quando acontecerem, não ser uma surpresa”. E a mudança não passará apenas pela “perda ou substituição de empregos” vaticina. “Muito provavelmente haverá uma mudança aos níveis da produtividade, uma robotização de muitas tarefas. Será um progresso que levará também à criação de novos empregos”.

Em 2012 concorreu e ganhou um projeto de investigação financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, na área da Energia. O projeto permitiu desenvolver um sistema baseado em ‘agentes inteligentes’ que simula os principais aspetos do mercado de energia.
O sistema designa-se de MATREM (Multi Agent Trading in Electricity Markets) e tem subjacente várias técnicas de Inteligência Artificial, permitindo estabelecer uma simbiose natural entre duas áreas distintas: a IA e a Energia.
A Energia é “uma área fundamental para o país e para a sociedade em geral. Algo que está subjacente a quase todas as tarefas que efetuamos ao longo do dia. A dependência da eletricidade é cada vez maior e é natural. O meu trabalho passou pela aplicação dos agentes inteligentes na área da Energia”, resume.
Posteriormente, em 2018, publicou um livro sobre “A produção Crescente de Energia de Base renovável e o Mercado da Eletricidade”. O livro surgiu de forma natural, fruto de parte do trabalho de investigação realizado entre 2012 e 2017, e “tendo sempre bem presente a importância da energia elétrica no dia-a-dia de todos nós”, sublinha.
O gosto por computadores está na vida de Fernando Lopes praticamente “desde sempre”, nos anos 1990 foi trabalhar para Lisboa “os computadores de secretária estava a dar os primeiros passos e achei fascinante trabalhar com computadores. Tinha uma curiosidade para novos conhecimentos nesta área, conhecia algumas pessoas que trabalhavam na área que me motivaram bastante. Foi assim que me interessei”, conta.
Antes da pandemia “vinha regularmente à terra. Tenho a minha mãe no Lar Domus Pacis em Abrantes e venho visitá-la. Tenho familiares em São Miguel, amigos de infância, e tenho muito gosto em falar com eles”.
Além disso, “nunca esqueci as minhas raízes”. Motivo que o levou a tornar-se membro do Rotary Clube de Abrantes em 2002. “É um clube que reúne semanalmente, tem em média um jantar por mês, e sempre que posso venho às reuniões. Também tenho uma série de amigos no Rotary com quem gosto muito de conversar”, confessa, fazendo notar que Abrantes “desenvolveu-se muito em relação há 20 anos. Existem aspetos menos positivos e aspetos mais positivos. Fez-se um açude insuflável, que criou um espelho de água, embelezou o rio e a zona ribeirinha, embora o açude em termos ambientais nem sempre seja algo pacifico”, reconhece.
A propósito da Central Termoelétrica do Pego lembra que a “produção de energia mudou muito”. Na época da sua construção “era importante construir uma Central pois os níveis de geração de renovável não eram os que são hoje”.
Aborda ainda “as descargas poluentes” no rio Tejo, “um problema referido regularmente. Penso que está muito melhor do que estava. Os empresários estão mais conscientes dos aspetos ambientais sendo importante fazer cumprir a lei”, opina.
Falando sobre o impacto da produção de energia no meio ambiente nota que “a produção de energia renovável aumentou muito ao longo dos últimos anos, principalmente a produção de energia eólica. Estamos no bom caminho! E é expectável que esta produção renovável ainda aumente mais nos próximos anos, tendo em conta as metas nacionais e as metas europeias. Na Central do Pego, a biomassa anunciada poderá ser uma boa solução”, considera.
Quanto à procura de Energia no mercado dá conta que “a tecnologia existente permite que os consumidores tenham cada vez mais controlo sobre decisões relativas ao seu consumo” mas que em Portugal, contrariamente a outros países, essa tecnologia ainda não é muito utilizada.
Por exemplo, “os consumidores munidos de informação de que os preços do mercado, numa determinada hora do dia, serão elevados, poderão gerir o seu consumo de energia, de forma a que seja inferior ao normal, durante o período em questão”. No entanto, essa possibilidade implica o uso de contadores que permitam leituras hora a hora e “tarifas com preços indexados aos preços horários do mercados. Essas tarifas ainda não começaram a ser praticadas em Portugal. Se isso acontecesse poderia trazer vantagens para todos: os consumidores e o próprio mercado”.

Muito bom!
O Professor Doutor Engenheiro/Investigador é um caso incontornável, no significado mais profundo do termo ,pois o que tem implementado e desenvolvido em termos científicos ultrapassa bem as nossas fronteiras. Liverpool que o diga. Por ele passou em abundância,no topo,um dos melhores “Filões “de inteligência e dedicação suprema” que se têm revelado em S.Miguel do Rio Torto de Cima. Conhecendo-o desde sempre reconheço nele um verdadeiro cidadão cuja contribuição para a sociedade ao mais elevado nível tem passado despercebido pois sempre foi essa a sua maneira de ser. Vale por ele próprio ,investigando até à exaustão. A história reconheceê-lo-å.