Esta semana estou repleto de desafios profissionais, com menos tempo para pensar, refletir, escrever. Esta é, pois, uma semana de muito trabalho, muita concentração, alinhamento, estratégia, definição de planos, fixação de metas, lançamento de desafios. E digo-o com orgulho e felicidade. A empresa onde trabalho e na qual desenvolvo a minha atividade há quase cinco anos requisita-me, convoca-me e mobiliza-me em termos de focalização, concentração e dedicação. Com muito orgulho e com muita energia dou o meu melhor.

A vida dos adultos nem sempre é fácil, nem sempre é um caminho plano, com descidas suaves e subidas fáceis de vencer, ou uma vasta planície repleta de flores perfumadas e pássaros a chilrear entre o marulhar de águas correntes de um qualquer riacho repleto de açudes e árvores frondosas que nos confiram sombra e proteção.

Esta visão de Shangri-La, este desejo idílico, esta utopia em que gostaríamos de viver imersos é contrariada pelas adversidades do quotidiano, pela necessidade de superação, pela permanente demanda por provas que transmitam a nossa firmeza e por uma nunca confessada vontade de sermos reconhecidos pelo que somos, pelo que fazemos, pelos esforços, pelos sacrifícios, pelas ousadias, pela forma como sonhamos e tentamos materializar esses sonhos em resultados.

Procuramos que sejam justos na apreciação que fazem de nós e esta medida da justiça é um alimento fundamental para continuarmos com níveis motivacionais elevados. Por vezes sentimos que somos valorizados e reconhecidos, porque o merecemos. Outras vezes merecemos e não somos e também sucede sermos valorizados de modo imerecido.

Esta tem sido a minha história. Com orgulho, em geral. Não mudava muito do que vivi para trás, em termos de desafios profissionais. Sempre tive de trabalhar muito, bem e, de preferência, com rapidez, agilidade, com princípios éticos. Com permanente necessidade de provar. Nunca tive nada que me tivesse sido oferecido numa bandeja mas também nunca fui um coitado, um enjeitado e um excluído. Sou, pois, nos dias que correm, um privilegiado. Tenho emprego, tenho carreira, tenho teto, tenho família, tenho pão, tenho saúde, tenho ambição.

E, no entanto, olho para ambos os lados e vejo multidões que sofrem sem emprego, sem sustento, sem motivos para se sentirem confortáveis, dignos e cidadãos de pleno direito. Pessoas a quem a vida passou uma ou mais rasteiras. É nestes momentos de relativa abundância, de contraste entre a vida de quem tem a vida organizada e quem a tem desestruturada que devemos parar para refletir.

Conheço o espectro do desemprego na família. Em vários elementos da minha família. E tento ajudar, procuro ser válido, procuro contribuir. E o mundo, a vida, as organizações nem sempre atendem a esta necessidade premente. E surge a incompreensão. Surgem sentimentos negativos sobre a equidade, a universalidade do direito ao emprego e à proteção no desemprego, a estupidez que é sentir que vidas que poderiam ser felizes, na tal “planície repleta de flores perfumadas e pássaros a chilrear entre o marulhar de águas correntes de um qualquer riacho repleto de açudes e árvores frondosas”.

Nem sempre encontramos as respostas que procuramos e de que necessitamos. Mas compete a cada um de nós sabermos encontrar a forma certa de procurar um ideal de felicidade no meio das contrariedades. Não há vidas perfeitas. Eu, que me sinto privilegiado pela vida que tenho e pelas oportunidades que me têm sido criadas e aproveitadas, estou longe de estar plenamente satisfeito e feliz. O ser humano é mesmo assim – é um ser que se adapta ao meio e às suas circunstâncias. E é por isso que consegue ser feliz com pouco e triste com muito. O que não se explica facilmente mas que é verdade.

Pessoalmente procuro encontrar o espaço de conforto com um balanceamento adequado das horas do dia e dos dias da semana, das semanas do ano, entre trabalho, lazer, família e amigos. É este o work-life balance que encontrei para me sentir equilibrado. Cada um deve saber encontrar o seu.

Quando terminar esta semana vou estar exausto. E ainda bem. Apenas gostaria que muito mais pessoas pudessem dizer o mesmo, sentir o mesmo, poder partilhar o mesmo.

Pedro Marques

Pedro Marques, 47 anos, é gestor, gosta de ler, de exercício físico e de viajar

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