A exposição “Imagem Útil em Ecologia” da autoria da investigadora Luísa Nunes, decorre até 29 de Janeiro próximo no Instituto Superior de Agronomia e integra-se na celebração de 20 anos de vida do Centro de Ecologia Aplicada Baeta Neves e a propósito dos 100 anos do nascimento do Prof. Doutor Baeta Neves que é figura de referência da silvicultura nacional e do Instituto Superior de Agronomia.
Esta exposição pelo seu conteúdo é uma feliz homenagem a quem foi um dos pioneiros da conservação da natureza em Portugal, nomeadamente como fundador da Liga para a Proteção da Natureza.
Aceitei o convite da Luisa Nunes para produzir um contributo escrito relativo ao Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros uma área que é significativa para a identidade e caraterização da nossa região e que por isso aqui quero partilhar!
“O Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros está integrado na unidade geomorfológica do Maciço Calcário Estremenho assim designada pelo geógrafo português Fernandes Martins, em 1949, na sua tese de doutoramento, que continua a ser o estudo de referência sobre esta parcela do território nacional.
O Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros foi criado em 1979 (Decreto-Lei nº118/79,de 4 de Maio), sob a orgânica do Serviço Nacional de Parques, Reservas e Património Paisagístico na Secretaria de Estado do Ordenamento Físico, Recursos Hídricos e Ambiente do Ministério da Habitação e Obras Públicas.
Na caraterização da sua identidade ressalta em primeiro lugar a paisagem singular resultante da geomorfologia cársica onde sobressaem as serras de Aire e Candeeiros, e o planalto de Sto. António.
Temos como referências paisagísticas os campos de lápias, o Polje Mira-Minde, a Fórnea de Alvados, as Nascente dos Olhos de Água do Alviela e do Almonda, a Gruta do Algar do Pena, as Jazidas com Pegadas de Dinossáurios da Pedreira do Galinha e de Vale de Meios e o rendilhado de muros de pedra solta.
Na rudeza dessa paisagem desponta uma inúmera diversidade de plantas, muitas com expressão aromática, como os tomilhos, o alecrim, o rosmaninho que disputam protagonismo com as rosas albardeiras, as orquídeas, carrascos, carvalhos cerquinhos e azinheiras entre centenas de espécies da nossa flora mediterrânica.
Estas caraterísticas criam condições também para a existência de muitas espécies animais resultante da diversidade de habitats.
A ação dos espeleólogos permitiu dar a conhecer o lado subterrâneo deste território, os seus jogos contraditórios, de mistérios encobertos em grutas e algares por baixo dos nossos pés, com a água a esconder-se para, logo depois, brotar nos olhos de água.
É nesse mundo de grutas e algares que encontramos alguns dos ex-libris vivos da biodiversidade desta área protegida: os morcegos e a gralha-de-bico-vermelho.
- Os Morcegos são animais mamíferos que desempenham um papel fundamental nos ecossistemas, nomeadamente o controlo de populações de insetos, mas que têm uma conotação muito impopular em virtude de crenças e mitos instalados junto das comunidades humanas. Esta circunstância justificada pelo enraizado desconhecimento das suas caraterísticas está na origem da ameaça que pesa sobre a sua sobrevivência e que faz com que das 27 espécies conhecidas em Portugal, a sua maioria estejam ameaçadas de extinção.
Na gruta da Lapa da Canada nas Nascentes do Alviela estão já identificadas 12 espécies de morcegos e ai encontramos um dos abrigos subterrâneos mais importantes do país onde residem colónias de maternidade de várias espécies, numa dinâmica de grande interatividade com o Centro de Ciência Viva do Alviela.
Esta estrutura de divulgação do conhecimento científico desenvolve um conjunto de atividades que, de forma não intrusiva, são fundamentais para dar a conhecer e valorizar estas espécies de animais, contribuindo para a sua conservação e dos ecossistemas em que se inserem.
– A Gralha-de-bico-vermelho (Pyrrhocorax pyrrhocorax, Linnaeus 1758) é uma ave da família dos corvos estando classificada em Portugal na categoria “em Perigo” pela UICN-União Internacional da Conservação da Natureza.
Os dados oficiais, mais recentes, do ICNF-Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas apontam para uma população de cerca de 100 indivíduos nesta área protegida.
As grutas e algares são local de refúgio e nidificação e as áreas adjacentes são território de alimentação que varia entre insetos, outros invertebrados, sementes, grãos e outro material vegetal.
A sua população sofre forte ameaça em virtude da expansão das explorações de pedreiras de calcário e do abandono das práticas rurais tradicionais, sobretudo a pastorícia.
Estas aves que rasgam a paisagem com os seus voos acrobáticos são uma marca de identidade desta área natural.
Este é um território que encerra potencialidades naturais de relevância extraordinária ao nível da paisagem de superfície e subterrânea, da geologia, da paleontologia dos dinossáurios, da diversidade biológica e dos recursos hídricos.
Estes recursos singulares devem ser harmonizados na sua conservação e valorização, sendo esse o desafio que tem de ser agarrado por todos os agentes em torno do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, entidade, a quem se exige a maior responsabilidade na garantia da promoção dum desenvolvimento sustentável que honre este ex-libris que é de Fernandes Martins, mas também de todos nós, cidadãos deste Planeta.”