A empresa Buijnik, em Sardoal, conta com uma comunidade tailandesa de cerca de 60 pessoas que trabalha com rama de eucalipto e aprende português em horário pós laboral. O mediotejo.net foi conhecer a empresa, por dentro.
“A Tailândia é muito quente e gosto de estar em Portugal e do trabalho”, diz num escorreito português ao mediotejo.net Yaowapa de 47 anos, há 12 no nosso país. A tailandesa veio de Odemira para Sardoal para continuar a trabalhar na Buijnink. Na verdade, a empresa está na região do Médio Tejo há sete anos. Primeiro no concelho de Abrantes e em 2019 mudou-se para as instalações da antiga Sarplás, em Sardoal.
Filial da Buijnink International, conta atualmente com cerca de 65 trabalhadores, sendo apenas dois portugueses, que laboram na rama de eucaliptos para fins ornamentais, mais três portugueses como motoristas, Cátia Francisco como relações públicas, o holandês Nicolas Delwell como responsável pela unidade, e os restantes funcionários são tailandeses. Apenas 10 vieram de Odemira, os outros chegaram a Sardoal diretamente da Tailândia.

Trabalham num enorme e amplo pavilhão, cortando a rama de eucalipto em diversas medidas, para de seguida colocarem em baldes em molhos, que depois passam para a câmara de frio até serem enviados para a Holanda. Quase todos os dias vão à mata, cerca de 20 trabalhadores, recolher a rama de eucalipto.
No lado exterior uma zona de hortas. Os tailandeses têm liberdade para cultivar as terras livres dentro das instalações da Buijnink. Há de tudo um pouco, até papaia, árvores de tamanho considerável dentro de estufas e várias plantações de malaguetas para temperar de forma “extremamente picante” como é popular na gastronomia asiática.
“Gostam de fruta verde que comem com picante. Inclusive há a prática de troca de produtos da horta com os portugueses”, conta a relações públicas.

Em maio, a comunidade tailandesa daquela empresa holandesa iniciou a aprendizagem da língua portuguesa. O objetivo passa essencialmente pela “integração na comunidade” sardoalense.

A comunidade tailandesa, através do projeto desenvolvido pelo Agrupamento de Escolas de Sardoal em articulação com o Município, tem aulas de português 3 vezes por semana, “às segundas, quartas e quintas-feiras, em horário pós-laboral, com início às 18h30, três horas por dia. Numa ação de 100 horas, divididas em quatro unidades de curta duração, com 25 horas cada”, explica ao mediotejo.net a diretora do Agrupamento de Escolas de Sardoal, Ana Paula Sardinha.
Yaowapa não frequenta a escola por entender – melhor do que fala – português mas afirma que, para os seus compatriotas, “é muito importante” falar a língua do país que os acolheu. “Querem aprender!”.

Até por se sentirem integrados na comunidade sardoalense, embora, com a pandemia, as saídas sejam poucas, apenas para irem às compras ou a consultas de saúde. Por exemplo, neste momento, todos os trabalhadores foram inoculados com a primeira dose da vacina contra a covid-19, assegura Cátia Francisco. E até ao momento não se registou entre a comunidade qualquer caso positivo de SARS-CoV-2.
“É um povo muito animado, gosta de fazer festas, de dançar e de karaoke. Mas com a chegada da covid-19 deixou de haver convívio”, explica Cátia.
Por seu lado, Yaowapa assegura que as gentes sardoalenses “são boas pessoas para pessoas tai”, revela, com algumas limitações na fluência da língua portuguesa. Mas todos sabem dizer “bom dia” e “obrigado”.
“Quando saem, fazem isso e tentam integrar-se. Têm vontade de fazer sozinhos. Alguns já vão aos bancos sem acompanhamento”, afirma Cátia Francisco.

Em Sardoal, “entendeu-se que a fluência na língua do país de acolhimento é uma condição indispensável para que estes cidadãos se tornem mais autónomos, uma vez que o seu desconhecimento se pode tornar sinónimo de desigualdade, fragilidade e vulnerabilidade. Nesse sentido, o Agrupamento de Escolas de Sardoal solicitou à Direção Geral da Educação autorização para a lecionação de uma ação de formação”, explica Ana Paula Sardinha.
No início do ano de 2020, exatamente a 5 de março, o Ministro Conselheiro da Embaixada da Tailândia, Kittipool Hongsombud, esteve em visita de trabalho ao Sardoal, para conhecer as instalações da empresa Buijnink Internacional, a laborar na vila desde final de 2019.
Além de visitar a empresa, a comitiva, constituída também pelo empresário Leon Buijnink, o proprietário holandês, foi conhecer o Centro Cultural Gil Vicente, o espaço Cá da Terra e esteve reunida nos Paços do Concelho.

Dessa reunião saiu o projeto de curso de Língua Portuguesa para a comunidade tailandesa. “O presidente da Câmara [Miguel Borges] tomou a iniciativa, sugerindo as aulas de português, a empresa concordou com a importância do projeto, que seria uma mais valia para a integração da comunidade tailandesa, até porque na empresa o assunto já havia sido falado e com a ajuda da Câmara foi mais fácil”, explica Cátia Francisco.
A necessidade foi identificada também pelo Agrupamento de Escolas de Sardoal notando que aquelas pessoas não estavam dotadas “das competências básicas de escrita e leitura” de português e Ana Paula Sardinha propôs “à tutela esta ação e foi aceite”, conta a diretora.
Assim, aprendem português 23 alunos de nacionalidade tailandesa “com vocabulário muito reduzido, mesmo em inglês e portanto não será tarefa fácil”, considera a diretora da escola. Contudo a professora do Agrupamento designada para o Curso de Língua Portuguesa “tem experiência neste tipo de formação e estamos confiantes que corra bem”.
A comunidade tailandesa vive nos antigos escritórios da Sarplás e na antiga casa do guarda. “Um dos nossos motoristas leva-os até às grandes superfícies ao fim de semana para fazerem compras, em Abrantes. E também para irem buscar água às fontes. Preferem a água de fontanários do que beber água da rede pública, no fundo tal como muitos de nós”, observa Cátia.

Nesse edifício, onde funcionaram no passado os escritórios da anterior empresa, o primeiro andar tem duas alas de quartos, uma feminina e outra masculina e quartos para casais. Em baixo, encontra-se a cozinha e as casas-de-banho. “Todos os quartos têm ar condicionado”, nota Nicolas Delwell, responsável pela empresa em Sardoal. “Respeitamos o trabalho destas pessoas, que é duro, por vezes a trabalhar sob o sol a uma temperatura de 37 graus”, diz.
Recorda-se que a Buijnink International centra as suas atividades no sector de extração de cortiça, resina e apanha de outros produtos florestais, exceto madeira. É fornecedor de todos os tipos de ramagens, contribuindo com a base de todos os tipos de buquês de rama. Tem a sua sede localizada em São Teotónio, Odemira, onde labora há 12 anos.

Na empresa Buijnink instalada em Sardoal trabalham essencialmente com eucaliptos tipo robusta e vitória, para fins ornamentais, sendo o destino de 100% da produção a Holanda.
Estabeleceu parcerias com produtores de pasta de papel, empresas com gestão de grandes áreas de eucalipto, para o desbaste das árvores, onde operam os trabalhadores da Buijnink cortando parte dos rebentos novos que na fábrica são cortados em tamanhos de 40 a 70 centímetros.

A exportação decorre duas vezes por semana, em camião, às terças e sextas, levando “entre 10 a 15 CC (carros) com 40 baldes cada um”, explica Cátia. Depois de cortados e preparados, os ramos aguardam em câmara de frio, em regra a 3.5 graus centígrados, até serem carregados para se fazerem à estrada.
A Buijnink International escolheu Sardoal “por ser uma zona de eucalipto e o clima é bom”, explica, por sua vez, Nicolas Delwell.
“As empresas com quem temos contratos indicam quais são as matas onde podemos desbastar as árvores e nós vamos cortar, sendo que as regras implicam apenas os rebentos novos sem estragar o eucalipto”, acrescenta.

A empresa labora durante o ano inteiro, embora os meses de maior intensidade de trabalho sejam de setembro a fevereiro. “A empresa está em crescimento e o ambiente é muito bom”. É uma grande família”, garante Cátia.
Atualmente estão em fase de testes para uma nova aposta: extração de óleo de eucalipto, que retiram das folhas desperdiçadas, sem utilidade na composição dos ramos ornamentais. Nicolas Delwell crê que “em setembro ou outubro devem começar a comercializar”.
Uma aposta, que a ter sucesso, apresenta “grande utilidade” no mercado, desde a cosmética à farmacêutica passando pela indústria.

Até à compra por parte da empresa Buijnink as instalações industriais da ex-Sardan e ex-Sarplás, estiveram desativadas desde o encerramento da atividade da última empresa, sendo um espaço de memória e que durante muitos anos foi gerador de riqueza para as gentes do Sardoal. A aquisição foi formalizada através de escritura pública no dia 21 de maio de 2019.

Como e possível pessoas de outro país e os portugueses sem nada e mesmo a portugues eu tenho 56 anos nem trabalho tenho mas para os estrangeiros arranjase sempre é a minha oportunidade iao
Mas Vc já foi lá ao Sardoal perguntar à Buijnink se tem trabalho para si?
Não há mão de obra em Portugal? Essas empresas estranjeiras têm de trazer trabalhadores de fora da comunidade europeia? É nova escravatura? Será Portugal responsável pela legalização e mais tarde pagamento da aposentadoria desses trabalhadores? Por que não empregam quem está no fundo de desemprego?
Gostaria de perceber o salário que pagam a estas pessoas. Será o salário mínimo? Porque importar mão de obra quando há em Portugal?