Portugal é o país do bloco comunitário onde menos jovens (apenas 3%) assumiram estar seguros de deslocar-se às urnas em 26 de maio. E em Abrantes? O mediotejo.net aproveitou o XV Encontro Municipal de Associações de Juventude do Concelho de Abrantes, em São Facundo, para tentar perceber se os jovens têm interesse nestas eleições.
No XV Encontro Municipal de Associações de Juventude do Concelho de Abrantes o nosso jornal deparou-se com uma bancada da plataforma destavezeuvoto.eu, à entrada do pavilhão onde decorriam as palestras. Uma iniciativa lançada pelo Parlamento Europeu em 24 línguas e que apoia mais de cento e cinquenta mil voluntários em todos os Estados-Membros, que nela se inscreveram e estão empenhados em incentivar mais pessoas a votarem nas eleições europeias, que ocorrem de 23 a 26 de maio de 2019.
Ana Ricardo tem 26 anos é uma dessas jovens convictas na importância de ir às urnas exercer o direito de voto. “Obviamente que vou votar!” afirma. “Demorou tanto tempo até podermos ter esse direito de escolha, que escolho votar. Assim, se alguma coisa não estiver bem posso reclamar porque exerci o direito de voto, bem ou mal, posso depois dizer que não concordo e o rumo que quero que as coisas tomem”.
Estes jovens empenhados no ato eleitoral afirmam que “desta vez, ter esperança num futuro melhor não chega. Desta vez, temos de assumir as nossas responsabilidades e escolher o que queremos para o nosso futuro” apresentando razões, nomeadamente os desafios que atualmente a Europa enfrenta que vão da imigração às alterações climáticas e do desemprego juvenil à proteção de dados.
Os jovens despertos para a necessidade de votar veem à sua volta “como as inverdades não contestadas podem facilmente converter a diversidade em divisão. E, o quão frágil pode ser a democracia, se nela não participarmos ativamente”.

Ana concorda com a popular expressão que confere ao voto o poder de uma arma. “Sem dúvida! É precisamente por vivermos em democracia que tenho várias opções de escolha e escolher aquela proposta com a qual mais me identifico”, diz.
Relativamente às eleições europeias Ana Ricardo admite a ideia geral de “uma certa distância, uma coisa mais indireta mas vivemos na União Europeia portanto, como vimos no Brexit, basta um falhar e as coisas correm mal. Mesmo não sendo o nosso país que está em causa devemos exercer esse direito da mesma forma e com a mesma responsabilidade”.
Sofia Florindo tem 21 anos mas não é caloira no exercício do direito de voto, já votou nas eleições presidências e nas eleições autárquicas. As europeias são contudo, uma novidade. “Cada vez é mais importante os jovens votarem e terem um papel fundamental na política de Portugal e neste caso da União Europeia”.
Sofia considera a democracia um sistema frágil e talvez não tão consolidado como os povos europeus possam pensar. “Temos de continuar a lutar para continuarmos a viver em democracia e o voto ajuda-nos nesse ponto. É importante votarmos, principalmente os jovens que são o futuro do País, o futuro da Europa, da União Europeia. É muito importante participarmos”.
E se não há sistemas perfeitos, o que pode passar também pelo descrédito nos ditos partidos tradicionais, Sofia Florindo defende o voto mesmo quando a crença nos políticos sofre alguns abalos. “Se não acreditarmos acho que temos de fazer alguma coisa para mudar e votar é isso. Se não acredito no político que agora governa tenho no voto a oportunidade originar a mudança”.
Defensora da permanência de Portugal na União Europeia, Sofia considera que o caminho passa por “fortalecer as nossas relações com as instituições da União Europeia, a começar pelo ato eleitoral”.
Tiago Ricardo ainda não vota, devido aos seus 16 anos, no entanto não deixa por mãos alheias a tarefa de espalhar a palavra de incentivo a votar nas eleições europeias. “Há alguns anos que estou inserido no associativismo e tenho uma consciencialização também para a política e o papel do nosso País na União Europeia”, refere ao mediotejo.net.
Para o jovem “as eleições europeias permitem reatar o tema da cooperação para o desenvolvimento numa altura em que também ocorre a internacionalização da nossa economia e temos vários problemas como as migrações, impactos ambientais da poluição e acho que ao votar elegemos aquele que consideramos ser o nosso melhor representante na União Europeia” uma organização com um papel considerado “significativo” para Portugal que “não deve correr o risco que o Reino Unido está a correr, sequer pensar em sair”, defende.

Mais indecisa, na questão da votação nas eleições europeias, está Beatriz Assunção, de 18 anos, que vai às urnas pela primeira vez. “Ainda não decidi, mas talvez vote” diz reconhecendo que “o voto como forma de participação é importante, no sentido que determina o que queremos para a nossa comunidade”, nota.
No entanto, mantém as dúvidas se a abstenção coloca em risco a democracia. “Não tenho opinião formada sobre isso”, admite, apesar de ser favorável à permanência de Portugal na União Europeia.
Inês Oliveira, 18 anos, também vai pela primeira vez às urnas. “Penso em votar como penso em não ir. Estou indecisa. É importante votar mas falta saber realmente em quem votar. As eleições para o Parlamento Europeu são fundamentais mas poderiam ter como consequência medidas mais concretas, decisões, através dos deputados eleitos, para cada país. Falta melhorar essas competências” opina.
Presente na sessão esteve a diretora para Lisboa e Vale do Tejo do Instituto Português do Desporto e da Juventude (IPDJ). Eduarda Marques explicou que a missão daquele organismo público passa por “trabalhar com os jovens nos diferentes programas fomentando uma cidadania participativa e ativa” não apenas em ano de eleições, observa.
Entre os programas do IPDJ indica o ’70 Já’ que integra “jovens voluntários e outros jovens nas escolas, assente no artigo 70º da Constituição da República, relativamente aos direitos dos jovens. E o exercício do seu direito de voto é uma das áreas trabalhadas no âmbito deste programa, como o direito à saúde, à educação, ao desporto ou à cultura”.
Explicou que no decorrer de 2019, o IPDJ participa “ativamente com o Parlamento Europeu em Portugal na campanha ‘desta vez eu voto’ e nas nossas ações dos diferentes programas temos sempre presente a questão das eleições e o dever que nós, enquanto membros de uma sociedade, temos de intervir ativamente”.

A diretora regional do IPDJ mencionou ainda um projeto para quatro anos que iniciou precisamente em 2019.
“Fomentar o interesse e a importância do voto não se trabalha só num ano mas ao longo dos anos de forma planeada e concertada. E estamos a trabalhar com uma associação, com a Comissão Europeia e com a representação do Parlamento Europeu em Portugal porque são projetos como este que chamam a atenção para a necessidade e importância que é o participar através do voto”.
Segundo Eduarda Marques o IPDJ tem também em conta, nas candidaturas dos projetos que aprova, “ ao analisar o Plano de Atividades, motivar e inspirar os jovens com boas práticas para que cada vez mais incluam este trabalho que é necessário fazer com outros jovens seus associados”.
Sobre a questão do envolvimento político e no exercício do direito de voto, no seu contacto diário com jovens, Eduarda fala num novo paradigma. “As juventudes partidárias precisam percorrer um novo caminho. Devem ir ao encontro, estabelecer um contacto direto com os jovens. Não com os jovens motivados mas com a maioria daqueles jovens a quem a política não lhes diz nada”, defende.
A responsável do IPDJ assegura que “os jovens sabem o que querem e têm interesse” mas deixa uma crítica aos partidos, essencialmente às juventude partidárias que no seu entender devem ser “a consciência crítica dentro dos partidos, uma lufada de ar fresco e ter a irreverência própria dos jovens. Atualmente, de uma forma geral, não está a acontecer”, considera.
Para uma maior participação política dos jovens diz ser “necessário que, quer os partidos políticos quer as juventudes partidárias, andem no terreno não só quando há campanhas eleitorais. Precisam de estar atentos e ir ao encontro daquilo que são as necessidades dos jovens, como o emprego, a desertificação do interior e tomar como causa as causas dos jovens e levá-las para dentro dos partidos. Mais do que impor agendas aos jovens é dar-lhes a oportunidade de dizerem aquilo que precisam”.

Do lado da Fajudis – Federação das Associação Juvenis do Distrito de Santarém, Jorge Claro explicou a inexistência de “um trabalho específico para as eleições”.
Segundo o presidente, o trabalho da Federação passa “por uma lógica transversal de cidadania, de responsabilidade como cidadãos e de sensibilizar os jovens das associações em terem uma atitude de participação na sociedade” indicou, esclarecendo que essa participação tanto pode ser “na organização de um evento como num ato eleitoral ou no funcionamento de uma associação”.
Assim, o foco da Fajudis prende-se com “a mobilização e a motivação para a participação, inclusive na participação política”.
Do contacto com os jovens retira que “o afastamento dos jovens dos atos eleitorais é sobretudo uma questão de formação política. O jovem pelo percurso educativo não tem uma formação política para tomar uma decisão e como não tem essa formação abrangente, não sabe o que defende a direita e o que defende a esquerda, desconhece os programas eleitorais e as implicações para a sua vida”.
Jorge Claro considera que a solução reside na escola. “Há alguns cursos académicos que têm cadeiras de Ciência Política, mas muitos jovens chegam ao 12º ano ou à universidade sem ter noção dos órgãos de soberania e a competência de cada um” diz. Um problema que também nota a nível profissional, no trabalho de uma autarquia.
“Recebemos jovens estagiários licenciados e muitas vezes não têm conhecimento das competências de uma autarquia ou de um instituto público, porque todos esses órgãos têm competências específicas”, notou.
Sobre o regresso dos populismos e da importância do voto no atual momento da democracia, o presidente da Fajudis considera faltar essa perceção à maioria dos jovens.
“Essas ondas de populismo que estão a surgir em parte estão relacionadas com problemas de comunicação. De criar uma ligação com um determinado discurso. O facto de se prometer aumentar salários e reduzir impostos sem informação global do que implicam essas medidas… e é nisso que reside a essência da falta de formação das pessoas porque embora os vários partidos apresentem propostas e programas políticos, a maioria da população desconhece” observa. Por isso defende que “as escolas e universidades tenham um papel importante na divulgação destas matérias e sensibilizar para a importância dos atos eleitorais”.
Para Jorge Claro ao fornecer essa informação incute-se responsabilidade.
“Se a pessoa tem conhecimento e se nada faz é corresponsável por essa decisão. A ‘ignorância’ acaba por permitir que alguns espaços vazios sejam preenchidos”, nota, acrescentando que “os níveis de desenvolvimento e de bem estar da sociedade atual, bem como o estado de paz na Europa e o respeito pelos direitos humanos, contrariamente ao que aconteceu no passado, não levam as gerações mais novas a procurar novos ideais, se estamos bem parte-se do princípio que vai ser sempre assim. É quase como um dado adquirido”. Por isso há que encontrar “um fator mobilizador”, defende.
O estudo de opinião realizado entre 19 de Fevereiro e 04 de março, revelou que apenas 17% dos entrevistados disse ser extremamente provável ir às urnas nas próximas eleições europeias, que vão decorrer a 26 de maio de 2019, com 19% a responder ser muito provável, 15% moderadamente provável e 47% pouco provável.
Entre os Estados-Membros, Portugal e a Croácia são os países com a terceira percentagem mais baixa de votantes “extremamente prováveis”, atrás apenas de República Checa (10%) e Itália (16%), e bem distante da média europeia de 35%.
Os portugueses estão também entre os cidadãos dos Estados-membros com uma opinião mais favorável em relação à União Europeia, com 82% a considerarem que o País beneficiou ao ser membro do bloco comunitário (a média comunitária está fixada nos 68%) e apenas 10% a terem uma posição contrária.
Nas eleições europeias de 2014, em Portugal a taxa de participação foi de 33,67% (abaixo da média europeia de 42,54%).
O concelho de Vila de Rei, no distrito de Castelo Branco, foi o que registou no país menor abstenção nas Europeias de 2014, com 45,61%, tendo exercido o seu direito de voto 1.603 eleitores de um total de 2.947 inscritos, liderando um restrito grupo de quatro municípios onde a taxa de abstenção foi inferior a 50%.
Sardoal e Mação, ambos no distrito de Santarém, são os municípios que se seguem na lista com os valores mais baixos de abstenção, com 48,73% e 49,55%, respetivamente.
Ainda abaixo dos 50% de abstenção está o concelho de Avis, distrito de Portalegre, com 49,66% de abstenção.