Esta semana comemoram-se, entre outros, três atos que marcam a minha reflexão desta semana. E por mais curioso que possa parecer, referem-se todos ao dia 31 de Março, a próxima quinta feira. E estando todos eles desconexos e separados por muitos anos e muitos milhares de quilómetros entre si, não deixam de constituir um fio de pensamento coerente nos dias que correm.
Passaram 195 anos desde que a Inquisição foi abolida em Portugal. E também já passaram 127 anos desde a inauguração da Torre Eiffel. Não menos relevante, já decorreram 52 anos desde o Golpe Militar de 1964, no Brasil, que derrubou o presidente João Goulart e deu início ao regime militar, o qual ficou conhecido por ter adotado uma diretriz nacionalista, desenvolvimentista e de oposição ao comunismo.
À margem disto, foi também a 31 de Março que, há 420 anos que nasceu René Descartes, conhecido filósofo e também matemático francês, pai da corrente de pensamento racionalista e do pensamento cartesiano. E, ainda ano mesmo dia, mas há 289 anos, faleceu o físico e matemático britânico Isaac Newton, o cientista cuja obra mais impacto terá tido na história da ciência. Foi o criador do que hoje conhecemos como princípio da inércia, assim como do princípio da dinâmica e ainda do princípio da ação-reação.
Voltemos ao princípio e olhemos para o fenómeno da Inquisição, essa página negra da história da Igreja Católica, que era uma arma de combate à heresia. Tudo começou com o combate ao sectarismo religioso no século XIII, em plena França medieval. Entres nós, desconhece-se o paradeiro de inúmeros autos-de-fé mas há factos que apontam para a morte de 1175 pessoas, queimadas vivas, e para castigos impostos a cerca de 30 mil pessoas. Um dos braços da Inquisição foi o combate a outras formas de religião, entre elas o islamismo. Não deixa de ser curioso que, nos dias que correm, a maior ameaça à civilização ocidental, seja o radicalismo de alguns islamitas. E não deixa de ser curioso que Paris, a tal cidade que comemora 127 anos desde a inauguração da sua monumental Torre Eiffel, seja um dos epicentros desta crise civilizacional com contornos radicais, extremistas, fundamentalistas e terroristas. A religião católica moderou comportamentos e valores, tornou-se mais “amiga da humanidade”, da diversidade, da pluralidade. É hoje uma religião que considero benigna e moralmente aceitável. Não comete horrores e questiona os seus próprios dogmas.
É, pois, plausível que a integração de comunidades muçulmanas entre os europeus comece a ser alvo de análise para regulamentação e legislação, de modo a mitigar possíveis radicalizações e a prevenir que os califados se tornem uma ameaça real ao modelo de sociedade em que nascemos, crescemos e pretendemos envelhecer e deixar como legado para os que se nos seguirão. As coisas só podem endurecer e a incapacidade de a Europa lidar com este problema só conduzirá a populismos e a radicalização popular, o que poderá acender rastilhos apagados e semear o caos em algumas comunidades e estados.
E tudo isto acontece ao mesmo tempo que, do outro lado do Atlântico, num país dominado por corrupção, corruptos e corruptores, sobra pouco espaço para valorizarmos gente séria e de bem, que sofre com os atos obscenos de uma elite política encosta a valores de esquerda mas prenha de vícios que criticavam nos antecessores políticos de direita. Goulart, derrubado há 52 anos por um golpe militar de direita, era descendente de açorianos mas isso não importa ao caso – apenas para constatar que o mundo está instável e não é impossível uma escalada de violência no Brasil, a pretexto do pedido de impeachment de Dilma Rousseff e da anedótica nomeação de Lula da Silva para ministro, num ato de clara confissão de culpa e de, agora, este pretender usar do subterfúgio da imunidade de ministro enquanto ganha espaço para influenciar politicamente o seu próprio processo ou arranja caminho para uma fuga milionária para algures. Tudo isto num ano que teremos Jogos Olímpicos e andam bichos no ar a espalhar Zika por entre nativos e turistas.
Há gente séria no Brasil. Há gente boa no Brasil. Mas há um país podre de valores e entregue a coronéis e seguidores de coronéis do antigamente, encapotados em falsos ideais de esquerda revolucionária. Enquanto isto, a esquerda portuguesa reage como se de um golpe de estado se esteja a tratar. Não reconhecem nunca os pecados dos seus e este é o principal pecado e a maior falácia da esquerda portuguesa, falsamente purista, e que se julga sempre autoridade moral, mas não permite juízos morais e éticos quando os seus falham na lisura de comportamentos e na transparência de atos.