Num dia somos heróis, o garante da democracia; no outro, uns vendidos e os culpados de toda a decadência do mundo. Os jornalistas têm, infelizmente, de habituar-se a todo o tipo de insultos. Se fossemos responder a todos os que nos ofendem, não faríamos mais nada. Mas há excepções. Não podemos permitir que pessoas com especiais responsabilidades na vida pública ofendam os nossos jornalistas e deturpem o nosso trabalho em jogos políticos.
Vem isto a propósito de partilhas públicas através de páginas oficiais do PSD de Gavião de um texto em que se afirma que um artigo do mediotejo.net contém “falsidades” – e isso sim, é absolutamente falso e atentatório do bom nome da nossa jornalista e deste jornal.
Essas publicações são ainda mais lamentáveis por terem ocorrido depois de uma resposta da direção do mediotejo.net, enviada por e-mail, procurando esclarecer qualquer mal entendido de forma privada.
Eis o que aconteceu: Vitor Filipe, vereador da oposição na Câmara Municipal de Gavião escreveu à direção do mediotejo.net no final de fevereiro, requerendo a publicação de um texto seu ao abrigo do Direito de Resposta, consagrado na Lei de Imprensa. A direção respondeu-lhe, justificando a não publicação desse texto uma vez que não existia nenhuma informação factual a corrigir (pode ler a nossa explicação integral no final deste artigo).
O senhor vereador não deu qualquer resposta ao nosso e-mail e, no mesmo dia em que lhe escrevemos, preferiu demonstrar a sua indignação nas redes sociais, partilhando o texto que havia anteriormente enviado à direção do jornal – mas sem mencionar esse facto ou a nossa recusa em publicá-lo.
Mais uma vez frisamos que a sua atitude, por mais que nos desagradasse, não mereceria qualquer comentário não fosse o caso de referir o nosso jornal de forma difamatória, atribuindo responsabilidades à jornalista que assina o artigo pela publicação de uma frase que Vitor Filipe diz “rejeitar solenemente” e “onde nada se revê”.
Essa frase, diz o vereador, terá sido usada com um “aproveitamento claro e político, fruto de partilhas nas redes sociais pelos mais altos membros do executivo municipal”. A direção procurou explicar que não pode ser assacada responsabilidade aos jornalistas pela interpretação maliciosa que outros possam fazer de uma notícia factual.
A nossa responsabilidade é com a verdade e com os cidadãos que nos leem. Voltámos a verificar as gravações áudio da reunião de Câmara e as transcrições integrais de cada intervenção do vereador Vitor Filipe e reiteramos que o trabalho da nossa jornalista foi exemplar.
O mesmo não podemos dizer, infelizmente, do comportamento do vereador do PSD, que optou por escrever falsidades e denegrir publicamente este jornal para, também ele, fazer um “aproveitamento claro e político” da situação. O texto partilhado no perfil pessoal de Vitor Filipe foi primeiro publicado na página “Gavião2025”, onde o PSD deste município já está em campanha para as próximas eleições autárquicas.
Resposta integral da direção ao vereador Vitor Filipe, em e-mail enviado a 02 de março de 2023
Exmo. Senhor Vereador
Vitor da Rosa Filipe,
O cumprimento da Lei da Imprensa e do código deontológico dos jornalistas é, mais do que uma obrigação, um dever pelo qual zelamos desde a fundação deste jornal, há oito anos.
Depois de analisado o seu e-mail, e verificando novamente toda a informação publicada e recolhida pela jornalista Joana Rita Santos, não podemos publicar o texto que nos envia como “Direito de Resposta”, uma vez que não existe nenhuma informação factual a corrigir. A Lei de Imprensa e os artigos que o Senhor Vereador invoca estipulam claramente que o Direito de Resposta existe “sempre que tenham sido feitas referências de facto inverídicas ou erróneas que lhes digam respeito”.
Na notícia publicada, dando voz a todos os partidos representados naquela reunião de Câmara, a sua posição é citada da seguinte forma:
«Após a leitura da moção proposta a votação pelo executivo municipal, o vereador Vítor Filipe (PSD) fez uma declaração de voto, referindo que iria optar pela abstenção.
“Eu vou abster-me. Vou deixar a Justiça em trâmites legais ver quem tem ou não tem razão. Não fazer parte de pendências nenhumas. O que interessa aqui efetivamente é o desenvolvimento do município, o desenvolvimento de todas as condições socioeconómicas, e no mesmo dia em que todos nós aprovámos que fosse lançado procedimento para hasta pública do terreno onde iria ser colocado o espaço comercial, eu aprovei, estou de acordo, quero desenvolvimento para Gavião. No entanto, não me posso juntar, nem me posso expressar por brigas ou guerras pessoais. Não me quero envolver”, notou, admitindo ter relação pessoal com os acusados e, por isso, não demonstrando intenção de se envolver mais.»
No e-mail que enviou à direção do jornal, o Senhor Vereador escreve: “Na notícia do dia 17 de fevereiro de 23, publicada na pagina on-line do jornal Mediotejo (…) dá-se a nota, que eu rejeito solenemente, e onde nada me revejo, proferindo que a minha abstenção deveu-se a ter relações pessoais com os acusados, ora essa mesma frase somente cabe à responsabilidade da autora da noticia.”
Recorrendo à gravação áudio da reunião, transcrevemos a sua declaração de voto integralmente, sem a edição que sempre fazemos, retirando detalhes próprios de um discurso oral e que na forma escrita não fazem sentido, tratando a informação e, quase sempre, condensando-a também.
“Eu vou-me abster, por uma única e simples razão. Vou deixar a Justiça em trâmites legais ver quem tem ou não tem razão. Não fazer parte de pendências nenhumas. O que interessa aqui efetivamente é o desenvolvimento do Município, o desenvolvimento de todas as condições socioeconómicas do nosso município, e no mesmo dia em que eu aprovei, e todos os nós aprovámos que fosse lançado procedimento para hasta pública do terreno onde iria ser colocado o espaço comercial, eu aprovei, estou de acordo, quero desenvolvimento para Gavião. No entanto, não me posso juntar, nem me posso expressar por brigas ou guerras pessoais. [é interrompido pelo presidente de Câmara] Isto é a minha declaração de voto, tal e qual, da mesma forma que o senhor Presidente disse que já estava farto de ser atacado por esta família, repudiando, não sei quê, não sei que mais… Eu não me quero envolver nesse tipo de palavras, porque dou-me bem com o José Pio, dou-me bem com o Rogério, dou-me bem com a Maria João. Eu única e exclusivamente, a coisa que pretendo é o desenvolvimento de Gavião. A Justiça determinará de quem é a responsabilidade e de quem não é a responsabilidade.”
O senhor vereador disse “dou-me bem com o Rogério, dou-me bem com a Maria João”; a jornalista omitiu os nomes citados (que nunca são referidos na notícia) e resumiu a sua frase, fora de aspas, como ‘uma relação pessoal com os acusados’, o que apenas reforçava a sua justificação para não querer envolver-se mais nesta questão, deixando à Justiça a determinação de responsabilidades.
Entendemos que a jornalista não cometeu um erro, fez uma interpretação e um resumo da informação, funções basilares do trabalho jornalístico. Poderá haver da sua parte um entendimento diferente quanto à definição do que é uma “relação pessoal”, mas a jornalista não a usou com qualquer sentido pejorativo e lamentamos se, de alguma forma, essa expressão lhe provocou quaisquer inconvenientes.
Todas as outras questões que coloca no texto que nos enviou não têm também cabimento num Direito de Resposta, porque estão expressas ipsis verbis e de forma correta no artigo (como a questão de ter votado a favor do procedimento para hasta pública ou de ter expressado querer o desenvolvimento para Gavião).
Por fim, quando refere “o aproveitamento claro e político, fruto de partilhas nas redes sociais, pelos mais altos membros do executivo municipal”, não nos pode ser assacada essa responsabilidade.
Como afirmamos no nosso Estatuto Editorial, o mediotejo.net “defende o pluralismo de ideias, pautando-se pelo princípio de que os factos e as opiniões devem ser claramente separados”. O texto que nos envia não corrige factos, é antes um comentário, ou uma partilha de um estado de alma, motivado pela interpretação maliciosa que outros terão feito da notícia por nós publicada.
Ficamos ao seu dispor para qualquer esclarecimento adicional.
Com os melhores cumprimentos,
Patrícia Fonseca / Diretora
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