A transformação de Minsk, ou o sapo que virou príncipe sem beijo
2015 foi o ano da confirmação do estranho namoro entre Bruxelas e Minsk. Quem em Dezembro de 2010 via Bruxelas com as “garras de fora” criticando fortemente o Último Ditador da Europa, chega a Novembro de 2015 com uma Bruxelas que pisca o olho, numa timidez namoradeira, a uma Minsk que pouco ou nada mudou.
O que mudou então? Tudo, menos Minsk. A Bielorrússia tem o mesmo líder desde Julho de 1994. O homem que recentemente confirmou o seu quinto mandato presidencial não mudou o estilo de governação, não fez nenhuma “Primavera” reformista, não transformou a sua política externa. Mas Bruxelas, deslumbrada consigo mesma, acha que sim… Que muita coisa mudou!
Alexander Lukashenko é o líder de maior longevidade desde que a Bielorrússia, existe enquanto Estado (na sequência do Tratado de Brest-Litovsk, 1918). Somando já 21 anos no poder, e com suposta legitimidade para mais cinco anos, Lukashenko destronou há muito os 15 anos de liderança Petr Masherov (Março 1965 a Setembro de 1980) e os 11 anos de Panteleimon Ponomarenko (Junho 1938 a Março 1947).
Alexander Lukashenko é o mesmo líder que na sequência das eleições Presidenciais de Dezembro de 2010 mandou deter mais de 800 activistas que protestavam nas ruas de Minsk. Na altura a Europa da União surgiu assertiva a muito vocal: era um atentado à democracia o que acontecia em Minsk e por isso a manutenção de sanções políticas e económicas fazia todo o sentido.
Alexander Lukashenko é o mesmo líder que venceu o escrutínio presidencial de Outubro de 2015 com recurso ao mesmo sistema monopolizador do voto e agregador de vontades. O mesmo sistema não-democrático, mas Bruxelas está agora silenciosa. Pior! Bruxelas, na sequência da quinta vitória procedimental de Lukashenko decidiu suspender por quatro meses as sanções económicas. O que mudou em Minsk? Nada.
O novo acto de amor de Bruxelas para com Minsk é um curioso acto misto de fragilidade e deslumbramento diplomático. Berlim, bem mais do que Bruxelas, errou nos cálculos quando pressionou nos protestos em Kiev, para destronar Yanukovych que recusara participar na cimeira da Parceria de Leste e se movia para o seio da Comunidade Económica Eurasiática. Os protestos que se transformaram no tal Euromaidan, que degeneraram em conflito civil, e tudo isto a acontecer no continente que em 2012 vencera o Prémio Nobel da Paz.
Com Washington longe e a sabendo que muitos dos seus Estados-membros condenavam o acto que catalisara os problemas, Bruxelas, forçada por Berlim, piscou o olho a Minsk como porta de entrada para o diálogo com Moscovo, que a soberba política da Europa da União já antes radicalizara. Minsk tornou-se no palco de negociações, substituindo-se a Paris que em Agosto de 2008 ajudara, facilitando o diálogo entre Paris-Berlim-Washington e Moscovo, a resolver a guerra Russo-Georgiana.
A Europa viu a sua Parceria de Leste implodir nos seus intentos, com a recusa da Arménia, o desinteresse do Azerbaijão e o pouco interesse da… Bielorrússia. A Europa viu (sem assumir!) o seu projecto de gasoduto NABUCCO desmoronar. A Europa viu uma Rússia assertiva “esticar as pernas” e com medo, e sem criatividade, achou-se que o namoro com Minsk tiraria a Moscovo um dos seus satélites.
Mas a realidade tende em querer contrariar Bruxelas e o que se vê é uma Minsk que se catapultou para a arena internacional, sem qualquer intento reformista do regime interno, e sem qualquer transformação profunda da política externa. Bruxelas quer ver em Minsk o que Minsk não é, num patético acto de amor pueril. E Minsk agradece!
Quem também agradece são os “Lukashenkos” do Médio Oriente, de África e da América Latina que rirão alto e bom som na próxima vez que a Europa voltar a gritar: “Democracia! Democracia! Democracia!”.