Comboio na estação ferroviária do Entroncamento. Foto arquivo: mediotejo.net

Continuo a ficar surpreendida com a defesa da construção de um aeródromo civil em Tancos, como se isso significasse uma mais-valia para o desenvolvimento do distrito de Santarém.

Por vezes parece que aquele “efeito positivo” da pandemia que nos faria parar para pensar e repensar as nossas opções afinal foi apenas um desejo…. Quando tanto se fala em economia circular, proteger o ambiente, promover os transportes colectivos, etc., etc., a solução que encontramos para “promover o turismo e o desenvolvimento” é termos um aeroporto ao pé de casa…. Veja-se quantos “aeroportos pequenos” já surgiram como hipóteses nos últimos meses – Tancos, Monte Real, Coimbra… Tudo isto quando não se consegue encontrar uma solução consensual para o aeroporto de Lisboa e quando temos um aeroporto pronto a funcionar em Beja. Até parece discussão de país rico.

Que fique claro que considero que o transporte aéreo é necessário e será necessário no futuro, embora tenha que ser reduzido. No nosso caso o transporte aéreo é até condição de coesão nacional e não se deve prescindir dele. Mas teremos que deixar de utilizar o transporte aéreo para curtas distâncias. E já estamos atrasados no trabalho que é necessário realizar para termos uma alternativa sólida e atractiva ao transporte aéreo.

Falo da Ferrovia, incluindo a ferrovia de alta velocidade. E é aqui que reside a chave da mobilidade e estaremos tão mais próximos do futuro quanto maior for a nossa aposta neste meio de transporte. O meio de transporte de excelência em todos os sentidos – amigo do ambiente, confortável, multifacetado, social e sociável e rápido, sim pode ser muito rápido.

Por isso continuo muito surpreendida que os autarcas do distrito de Santarém não se unam na defesa da ferrovia, aliás com ligações históricas ao Distrito e com laços afectivos muito significativos com a população, e centrem aí as exigências ao Governo. Ferrovia para as deslocações pendulares que podem ser factor de atracção de mais população, ferrovia para a ligação ao interior e a Espanha, ferrovia como meio para promover o turismo, ferrovia para lançar programas culturais.

Hoje mesmo debatem-se na Assembleia da República projectos de resolução que visam a requalificação da Linha do Norte no troço entre Santarém e Entroncamento, incluindo a estação desta cidade. Faço votos que estas recomendações façam o seu caminho e que o governo assuma a sua responsabilidade.

A aposta na Ferrovia é um caminho de oportunidades que se abre. É preciso começar a fazê-lo.

Helena Pinto

Helena Pinto, vive na Meia Via, concelho de Torres Novas. Nasceu em 1959 e é Animadora Social. Foi deputada à Assembleia da República, pelo Bloco de Esquerda, de 2005 a 2015. Foi vereadora na Câmara de Torres Novas entre 2013 e 2021. Integrou a Comissão Independente para a Descentralização (2018-2019) criada pela Lei 58/2018 e nomeada pelo Presidente da Assembleia da República. Fundadora e Presidente da Mesa da Assembleia Geral da associação Feministas em Movimento.
Escreve no mediotejo.net às quartas-feiras.

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