Aos 57 anos, Carlos Miranda tem pela frente o desafio de fazer mais e melhor de modo a marcar a diferença depois de 12 anos de gestão social democrata. Para já, o autarca, que já leva mais de 20 anos de percurso político, sente que trouxe “uma nova energia e uma esperança” ao concelho da Sertã. Os primeiros seis meses de atividade autárquica como presidente da Câmara foi o pretexto para uma entrevista ao mediotejo.net.
Qual é o primeiro balanço destes primeiros seis meses de mandato?
– Penso que é um balanço positivo, foram seis meses importantes para a instalação e criação de uma equipa, de uma nova estrutura aqui na Câmara Municipal. Foram seis meses em que também tentámos, e estamos a conseguir felizmente, não perder alguns projetos que estavam aqui há alguns anos, que vinham de trás mas que não podíamos perder em termos de candidaturas, e conseguir concretizá-los.
O que é que o mais surpreendeu?
– Uma das coisas que me tem surpreendido pela negativa, embora eu já estivesse de alguma forma preparado, é a imensa burocracia que todos estes processos encerram, mas eu penso que, apesar de tudo, tem sido bastante positivo. Além de todos os projetos que nós estamos a tentar pôr no terreno, também temos uma série de novos projetos que vamos concretizar nos próximos tempos.
Foi, portanto, um “arrumar da casa” nesta fase inicial do mandato…
– Sim o “arrumar da casa”, o criar condições de trabalho, criar uma equipa, adequar os recursos humanos àquilo que nós entendemos que é a melhor organização para que as coisas possam funcionar, tomar contacto com os diversos dossiês e que são muitos, conhecer e integrar todos os organismos que também são muitos, onde a Câmara da Sertã tem de estar representada, sendo que alguns são absolutamente porque é lá que se tomam decisões, como é o caso da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo ou da Comissão de Coordenação Regional. Portanto, houve aqui uma série de atividades, processos relacionados com instalação que também são muito importantes.
Passou vários anos na oposição, agora está neste lugar de poder, que diferenças nota mais?
– Estar na oposição é sempre mais fácil, isso não há qualquer dúvida, mas eu quando estava na oposição também já sabia que era mais fácil, não estou a descobrir isso agora. Isso é uma realidade em qualquer órgão de governação, é sempre mais fácil estar fora a dar sugestões ou fazer críticas do que estar dentro. Mas atenção, estar na oposição muitas vezes também é uma coisa frustrante porque nós podemos criticar, podemos sugerir mas depois a nossa ação as nossas palavras raramente têm consequências, aqui nós temos a possibilidade de fazer e é isso que também é entusiasmante e é por isso que eu considero que estes seis meses têm sido positivos porque nós temos a possibilidade de pôr o nosso projeto em prática.
Há um maior sentido de responsabilidade?
Mais responsabilidade, obviamente, estar aqui nesta cadeira, não há dúvida nenhuma. Mas tudo isto eu já sabia, não é novidade para mim, estava preparado, digamos assim, embora naturalmente ninguém pode dizer que está completamente preparado para tudo, para todos os dossiês quando entra para um quadro destes, porque é que é necessário que haja um período de adaptação e até de aprendizagem para poder depois seguir em frente.

Sente que há uma grande expectativa em relação a este executivo?
– Sinto que sim, que há uma grande expectativa e isso é também uma responsabilização ainda maior.
Como é o seu dia-a-dia enquanto Presidente da Câmara?
– Há muitos dias em que eu não estou aqui na Câmara Municipal, porque eu quero que a Câmara esteja representada ao mais alto nível naquelas instituições que eu considero que são muito importantes para a Sertã e para o nosso desempenho. Portanto, enquanto Presidente da Câmara eu represento a Câmara Municipal sempre nessas instituições, o que leva a que passe algum tempo fora do gabinete. Aqui, normalmente tento, assim que chego, organizar as coisas em termos de emails, de documentação para despachar, depois faço reunião com o meu gabinete pessoal, faço também reuniões com os responsáveis por vários setores, ao fim do dia normalmente volto a tentar a colocar a documentação em ordem e fazer os despachos pelo menos os mais urgentes, é um pouco isso. Há uma coisa relativamente à qual eu ainda não estou completamente satisfeito. Não tenho tido muita oportunidade para estar perto das pessoas aqui no Concelho. Não tenho tido muitas oportunidades para sair do gabinete e para viajar, para me deslocar no Concelho, para estar perto das pessoas, para contactar mais diretamente com os problemas. Relativamente a isso, tem sido um pouco do vice-presidente e naturalmente nós fazemos uma equipa, portanto tem de haver essa complementaridade. Mas eu pessoalmente também gostava de ter mais disponibilidade para estar junto das pessoas. Acredito que, à medida que o tempo vai passando, quando as coisas entrarem numa velocidade de cruzeiro também vou ter essa disponibilidade.

Falou na sua equipa. É importante ter esse apoio para dar resposta a todas as solicitações?
– Sim, é fundamental, não só a equipa política, mas também a equipa técnica, isso é absolutamente essencial. Não há dúvida de que as instituições são feitas essencialmente por pessoas. Temos aqui um edifício dos Paços do Concelho extremamente bonito, este edifício fantástico, mas sem as pessoas não é nada. As pessoas são o mais importante.
Vamos agora a alguns pontos fortes do Concelho. Vem aí mais um Festival do Maranho. Qua é a sua opinião sobre o evento?
– Acho que é um evento muito importante porque permite promover todo o concelho. É um produto que é a bandeira, mas todo o Concelho é promovido através deste Festival. Mesmo relativamente a esse produto, não há dúvida nenhuma que ele já constitui aqui uma indústria bastante interessante e bastante produtiva, com um papel muito importante na economia do Concelho. Vamos retomar o Festival do Maranho, vamos fazê-lo da melhor forma, porque temos de fazer bem feito para que tenha impacto. Ou se faz bem feito e com dimensão, com projeção ou não vale a pena fazer.
A Rota da EN2 também se tem revelado um produto a potenciar…
– É para potenciar e já está a ser feito (com a inauguração de um balcão de turismo à beira da Nacional 2), mas não vai ser o único ponto. Também estamos a tratar de colocar uma boa sinalização aqui no concelho da Sertã para que as pessoas não se percam aqui por outras estradas porque interessa-nos muito que as pessoas passem por dentro das nossas povoações e se possível que fiquem e que contribuam para a nossa economia.
Em relação à floresta há vários projetos. Que importância atribui a este setor?
– É um setor que tem um enorme potencial no concelho, mas, infelizmente devido a constrangimentos várias, eu acho que a floresta não está ainda a ser aquela atividade dinamizadora da economia que nós precisávamos. Todos nós sabemos quais são os problemas da floresta, mas eu acho que há aqui algumas coisas que apontam no caminho certo, nomeadamente a criação da AIGP (Área Integrada de Gestão da Paisagem) de Ermida e Figueiredo, mas é preciso ainda ir mais além. Sei que o nosso Governo também está atento a esta situação. Eu acho que há vontade de transformar a floresta, também há recursos e eu estou com alguma expectativa que nestes próximos anos nós consigamos introduzir aqui algumas modificações e consigamos realmente pôr a floresta a produzir e torná-la mais segura.
Acredita no potencial turístico da Sertã? É possível alavancá-lo?
– Sim, obviamente o Turismo é muito importante para nós, tendo eu a noção clara de que nós nunca vamos ser um destino de massas para turismo, nunca seremos um Algarve. Agora termos mais turismo, termos melhor turismo, termos turistas que permaneçam mais tempo, isso é fundamental para nós. A par da gastronomia e da floresta, a água é o elemento central na Sertã. Não esquecer que nós temos três grandes albufeiras, com enormes potencialidades e nós temos de ser capazes de as rentabilizar de outra forma. Depois temos outros aspetos que têm a ver com a nossa história e a nossa cultura que também são importantes. Temos Nuno Álvares Pereira, por exemplo, que é um elemento que nós temos de ser capazes também de dar a conhecer e temos de ser capazes de atrair pessoas a partir de toda a história que envolve Nuno Álvares Pereira. Portanto, nós temos, de facto, muito boas razões para que os turistas nos procurem. E sobretudo temos uma outra coisa que é a nossa a nossa forma de vida, são as nossas tradições, aqui na Sertã e nos concelhos aqui à volta nós não temos aquele grande motivo de interesse como existe noutras regiões, por exemplo, Fátima tem o Santuário, Tomar tem o Convento de Cristo e os Templários, depois temos a Serra da Estrela, Coimbra tem a Universidade… isso são coisas que são incontornáveis nestas regiões. Nós não temos esse grande motivo de atração de turistas. Aquilo que nós temos é um conjunto de razões que, se calhar individualmente não tem muito significado, mas que conjugadas fazem sentido e transformam-nos num território com capacidade de atrair pessoas. E está ligado àquilo que referi anteriormente, a natureza, a gastronomia, a água, a nossa história, a nossa forma de vida, tudo isto cria um conjunto das razões, criam um ambiente onde as pessoas se sentem bem. E aquilo que nós temos de vender é precisamente isso, é essa essa qualidade de vida, é esse bem-estar, é essa “fuga” daquele dia-a-dia stressante que as pessoas vivem nas cidades. Acho que as pessoas têm todas as condições para se sentirem bem aqui.
A terminar, como idealiza o Concelho da Sertã daqui a quatro anos?
Espero que seja um concelho mais dinâmico, capaz de atrair mais pessoas, capaz de criar mais emprego, com uma vida cultural muito intensa, com excelentes condições de no que diz respeito à educação, uma educação mais dinâmica também. Que seja também um Concelho mais coeso, onde haja mais oportunidades para as pessoas, não só na sede do Concelho, mas também mas outras freguesias, preocupa-me muito a desertificação do mundo rural, embora eu também saiba que isso é uma tendência crescente e é muito difícil contrariar, mas que tenhamos um território mais homogéneo, mais coeso, mais desenvolvido, com mais oportunidades para todos, com boa educação, boa saúde, com cultura, enfim, um sítio onde as pessoas tenham mais oportunidades e se sintam felizes.