Foi a 12 de março de 1572 que nasceu dos prelos do impressor António Gonçalves, em Lisboa, a primeira edição destes dez cantos, 1.102 estrofes e 8.816 versos em oitavas decassilábicas, versando sobre a história dos Descobrimentos, e que viria a ser a “obra maior” de Portugal. O início deste livro quase todos os portugueses sabem de cor:
As armas e os barões assinalados,
Que da ocidental praia Lusitana,
Por mares nunca de antes navegados,
Passaram ainda além da Taprobana,
Em perigos e guerras esforçados,
Mais do que prometia a força humana,
E entre gente remota edificaram
Novo Reino, que tanto sublimaram.
Da 1ª edição de “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões, com uma cópia digitalizada acessível nos arquivos da Biblioteca Nacional, só se conhecem 34 exemplares em todo o mundo. Um deles pertence ao Ateneu Comercial do Porto e usualmente está fechado num cofre, mas estará excecionalmente em exposição pública até ao final do mês de março.
Sobre a vida do homem que escreveu a mais importante obra poética nacional permanecem muitos capítulos por revelar. Não há documentação que comprove onde nasceu (pensa-se que em Lisboa) e a juventude em Coimbra e passagem pela Universidade daquela cidade infere-se pela sua cultura literária e pelo facto de o seu tio, D. Bento de Camões, ser um dos responsáveis naquela instituição.
Sabe-se ainda que viveu os seus últimos anos em Lisboa (mas não em que casa ou casas), que morreu a 10 de junho de 1580, oito anos depois da publicação de “Os Lusíadas”, e que era um homem de sucesso entre as mulheres, o que lhe valeu muitos dissabores e alguns períodos de prisão e de desterro longe da capital.

Partiu para a viagem marítima que inspirou a epopeia de “Os Lusíadas” depois de um período de degredo que terá passado em Constância, como punição por “leviandades” com uma dama da corte. Nesses anos de 1547 e 1548, o afastamento da vida boémia deu importantes frutos poéticos, sendo este período considera um dos mais ricos e sentimentais do seu lirismo.
Uma vez mais, não existe documentação que o comprove mas, segundo as memórias guardadas pelo povo ao longo dos séculos, terá vivido em Constância numa casa edificada em 1515 por iniciativa de D. João de Almeida, conde de Abrantes.
No local ergue-se hoje a sede da Associação Casa-Memória de Camões, iniciativa louvada por sucessivos governos e classificada como de “interesse nacional”, mas que permanece sem os apoios financeiros necessários para ali nascer o ambicionado Centro Internacional de Estudos Camonianos e um museu que dignifique a memória do poeta que cantou Portugal.
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