Nos próximos dias vamos continuar a partilhar os olhares de pessoas da nossa região pelo mundo, nestes tempos de pandemia. Hoje a palavra é dada a Elisabete Reis, 47 anos, natural de Moçambique, com família em Ourém, e consultora de imagem, etiqueta e protocolo no Qatar.
“Estamos tranquilos, estamos em casa. Vivemos fora há tantos anos, sem família por perto (13 anos de Qatar), estar em casa juntos é o nosso prato do dia. Sempre gostámos de estar em casa, mas claro, nestas circunstâncias, sem poder sair mesmo, é inédito”.
Aqui no Qatar já vínhamos a observar a situação na China, até porque tendo vivido 11 anos em Macau, o Miguel 22 e os nossos dois meninos, Diogo e Duarte, nascidos lá, Macau é a nossa casa. Além disso o meu irmão está a viver em Hong Kong com a família, de modo que estávamos muito atentos às notícias.
Entretanto começou a espalhar-se, mas no Qatar não havia casos ainda. Quando surgiram notícias do Irão e dos muitos infectados naquele país, ficámos mais apreensivos.
O Qatar decidiu ir buscar os seus cidadãos que estavam no Irão e ao chegarem foram imediatamente postos de quarentena. O governo começou logo a tomar medidas e a alertar para a situação.
As escolas fecharam imediatamente. A nossa escola já tinha andado, durante o último mês, a fazer exercidos em caso de fecho e os alunos estavam perfeitamente informados de como iriam funcionar as aulas em casa. Eles ficaram em casa numa segunda-feira e na quarta-feira tiveram imediatamente uma aula online. Tem sido um trabalho espetacular da parte da escola e dos professores e respetivo staff (American School of Doha)
Foi muito rápida a atuação do governo. Não houve pânico nenhum e nunca faltou nada em nenhum supermercado.
Mas o que é certo é que se foram registando mais casos de pessoas a regressar ao Qatar. Entretanto surgiu uma grande onda de infetados num condomínio de trabalhadores. Foram mais de 200 pessoas. O Qatar ficou em estado de alerta.
O governo impôs regras mais firmes: redução de horário de trabalho de staff a trabalhar em casa, fecho de lojas e centros comerciais. Foi tudo feito de uma forma bastante calma e sem criar alarido. A população recebeu informação para só sair de casa para trabalhar se não pudesse trabalhar em casa e para ir ao supermercado e farmácia. Fora isso, ficar em casa.
Restaurantes e cafés a funcionar somente via take away e até nisso o governo criou medidas para as pessoas que andam a transportar os pedidos. Ate à data nunca faltou nada aqui no super ao pé de casa, nem de frescos.
O meu marido trabalha para o governo e, por tal, ficou logo a trabalhar de casa. Eu como trabalho no privado tive ainda uma semana sempre a sair todos os dias, uma vez que tinha alguns projetos que não foram cancelados e que requeriam a minha presença.
Tinha os cuidados possíveis (eu trabalho com pessoas sempre): levava os gel e álcool para passar nas mãos e quando chegava a casa punha a roupa para lavar, tomava banho, enfim. Nas idas ao supermercado opto por usar máscara e óculos de sol porque me ajuda a não ter tendência de tocar no rosto.
Estamos tranquilos, estamos em casa. Vivemos fora há tantos anos, sem família por perto (13 anos de Qatar), estar em casa juntos é o nosso prato do dia. Sempre gostámos de estar em casa, mas claro, nestas circunstâncias, sem poder sair mesmo, é inédito.