Começo hoje uma colaboração na MedioTejo.net, publicação digital, que se afirma “de caráter regional, de olhos postos no futuro, mas ancorada nos melhores valores do passado”.

Quero neste momento inicial desejar os maiores sucessos a esta iniciativa editorial e que consiga cumprir os objetivos plasmados no seu estatuto como “um jornal digital de informação regional comprometido em oferecer aos seus leitores uma ampla cobertura dos mais importantes acontecimentos dos 13 concelhos da Comunidade Intermunicipal do Médio Tejo, em todos os domínios de interesse”.

A minha natureza de ambientalista justificou, provavelmente, o amável convite que me foi dirigido e é nessa qualidade que espero corresponder a este desafio trazendo para o espaço público os temas da natureza em sentido amplo na sua relação com o desenvolvimento, as iniciativas dos cidadãos e as políticas públicas.

Tenho de começar pelo Território, esse conceito que hoje se repete a propósito de tudo e de nada, tantas vezes transfigurado da sua verdadeira génese conceptual.

Somos um território onde o Rio Tejo se afirma como eixo natural estruturante e dai a designação do Vale do Tejo e das suas subunidades geográfico-administrativas.

Este nosso recanto encerra uma diversificada riqueza de valores patrimoniais, de conhecimento e potencial humano que nos distinguem, sem nos limitar no alinhamento com as dinâmicas deste mundo em que estamos forçosamente inseridos.

Num processo que decorreu da evolução civilizacional, instituíram-se internacionalmente politicas e instrumentos conducentes à conservação de valores naturais e culturais que estiveram na origem dos parques e reservas naturais a partir do icónico Parque Nacional de Yellowstone criado em 1872 nos Estados Unidos da América.

Em Portugal tivemos em 1970 a criação do Parque Nacional de Peneda-Gerês e nas décadas seguintes um conjunto significativo de áreas classificadas na designada Rede Fundamental da Conservação da Natureza.

A constituição dessa rede não excluía a necessidade de criação de corredores ecológicos que permitam a articulação entre esses espaços classificados, assumindo claramente como se dizia há uns anos que as áreas protegidas não podem ser “catedrais isoladas no deserto”.

No recente colóquio “Praxis IV : Médio Tejo – A plataforma Giratória entre o Aquém-Tejo e o Além-Tejo”, realizado em Abrantes, no âmbito das Jornadas Europeias do Património 2015, tive oportunidade de registar que no Vale do Tejo” temos a partir desse grande corredor estrutural, que é o Rio, um conjunto significativo de áreas Naturais classificadas no âmbito da Rede Nacional de Áreas Protegidas que direta ou indiretamente tocam Tejo ou se inserem em corredores ecológicos mais abrangentes em termos regionais, nomeadamente o Parque Natural Tejo Internacional, Monumento Natural das Portas de Rodão, Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios da Serra de Aire, Reserva Natural do Paul de Boquilobo e a Reserva Natural do Estuário do Tejo.

O Geopark Naturtejo é detentor duma classificação especial nessa rede da UNESCO, a Reserva Natural do Paul de Boquilobo integra a o programa Homem e a Biosfera, também da UNESCO, como Reserva da Biosfera e o poldje Mira-Minde no Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros está classificado como Sítio RAMSAR nessa Convenção Internacional das zonas húmidas.

A área da bacia superior do Rio Nabão (Alto Nabão) integra a rede europeia Natura 2000 no âmbito do sítio Sicó-Alvaiázere.

Identificamos também outras áreas naturais que não estando classificadas nesse âmbito são merecedoras de interesse como a Albufeira Castelo do Bode e sua envolvente no Rio Zêzere, e o Tejo e suas margens.

Aqui existe um potencial de valores paisagísticos, culturais e da biodiversidade que merecem ser olhados com a importância que podem representar para o desenvolvimento regional e que têm de ser catapultados para a primeira linha das prioridades politicas.

O retrocesso civilizacional infligido às políticas públicas da conservação da natureza e da biodiversidade, e o abandono das áreas classificadas tem de dar lugar a um futuro de novas oportunidades, recuperando as boas práticas e os bons objetivos alcançados num processo sério de avaliação de resultados.

 

José Manuel Pereira Alho
Nasceu em 1961 em Ourém onde reside.
Biólogo, desempenhou até janeiro de 2016 as funções de Adjunto da Presidente da Câmara Municipal de Abrantes. Foi nomeado a 22 de janeiro de 2016 como vogal do Conselho de Administração da Fundação INATEL.
Preside à Assembleia Geral do Centro de Ciência Viva do Alviela.
Exerceu cargos de Diretor do Parque Natural das Serras de Aire e Candeeiros, Coordenador da Reserva Natural do Paúl do Boquilobo, Coordenador do Monumento Natural das Pegadas de Dinossáurios da Serra de Aire, Diretor-Adjunto do Departamento de Gestão de Áreas Classificadas do Litoral de Lisboa e Oeste, Diretor Regional das Florestas de Lisboa e Vale do Tejo na Autoridade Florestal Nacional e Presidente do IPAMB – Instituto de Promoção Ambiental.
Manteve atividade profissional como professor convidado na ESTG, no Instituto Politécnico de Leiria e no Instituto Politécnico de Tomar a par com a actividade de Formador.
Membro da Ordem dos Biólogos onde desempenhou cargos na Direcção Nacional e no Conselho Profissional e Deontológico, também integra a Sociedade de Ética Ambiental.
Participa com regularidade em Conferências e Palestras como orador convidado, tem sido membro de diversas comissões e grupos de trabalho de foro consultivo ou de acompanhamento na área governamental e tem mantido alguma actividade editorial na temática do Ambiente.
Foi ativista e dirigente da Quercus tendo sido Presidente do Núcleo Regional da Estremadura e Ribatejo e Vice-Presidente da Direcção Nacional.
Presidiu à Direção Nacional da Liga para a Protecção da Natureza.
Foi membro da Comissão Regional de Turismo do Ribatejo e do Conselho de Administração da ADIRN.
Desempenhou funções autárquicas como membro da Assembleia Municipal de Ourém, Vereador e Vice-Presidente da Câmara Municipal de Ourém, Presidente do Conselho de Administração da Ambiourem, Centro de Negócios de Ourém e Ouremviva.
É cronista regular no jornal digital mediotejo.net.

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