Quiseram (a Patrícia Fonseca e o Mário Rui Fonseca), que muito têm lutado pela nossa região, em particular por um jornalismo de qualidade neste umbigo a que agora chamamos Médio Tejo, que aqui se viesse também falar de História, de Memória, de Património.

Convidaram-me e calhou-me a mim inaugurar essa tarefa, que se quer que outros, oriundos de diferentes especialidades, aqui retomem semanalmente. Há por certo quem desempenharia este papel melhor do que eu, mas os mentores deste projeto sabem que integro um grupo que tem trabalhado em torno da História Local em Abrantes, que construiu um percurso invejável nos últimos treze anos e, quando toca a procurar alguém para trabalhar, socorremo-nos de quem produz. Sempre assim foi.

O grupo a que me refiro designa-se CEHLA – Centro de Estudos de História Local de Abrantes, integra-se na Associação de Desenvolvimento Local Palha de Abrantes (comemora este ano 20 anos) e, no decurso da sua existência, direcionando a sua atenção não apenas para Abrantes, mas também para os concelhos envolventes (Constância, Gavião, Mação, Sardoal, Vila de Rei e Vila Nova da Barquinha), organizou doze edições de Jornadas de História Local e publicou 25 números da revista de história local Zahara. É este um projeto nascido de uma proposta do saudoso Eduardo Campos, reconhecido muitas vezes mais fora do seu território do que na região, o qual, até prova em contrário, não tem paralelo a nível nacional. O caminho faz-se caminhando e a nossa caminhada já vai longa.

Se nas Jornadas de História Local, cuja 13.ª edição se concretizará a 4 de dezembro na Biblioteca Municipal António Botto (Abrantes), temos dado oportunidade a que os agentes locais divulguem as suas ações e projetos, colocando-os em contacto com instituições externas, que nos têm ajudado a sistematizar saberes, na Zahara damos espaço para que escrevam inúmeros autores que produzem trabalhos sobre a nossa região, a maioria dos quais não sairia dos discos dos computadores se assim não fosse. As mais de duas mil e quinhentas páginas que já publicámos não são apenas de produção historiográfica num sentido mais académico, mas contemplam memórias de pessoas sobre um passado mais ou menos recente, as quais, não sendo agora registadas, corriam o risco de se perder para sempre. Isto é serviço público!

Dirão alguns que começar por aqui, neste primeiro texto, não é senão vaidade. Será sobretudo orgulho, se o quisermos fazer equivaler à ideia de dever cumprido, nesta tarefa de salvaguarda do nosso património (aquilo que vem dos nossos pais). Estas memórias ajudar-nos-ão a construir o futuro, com um sentido de pertença que será determinante para que as comunidades se fortaleçam.

Nesta fase deste trajeto, perdemos a ilusão de que o contacto com o passado determine que se façam as melhores escolhas no presente, porque uma das características que continua a ser marca as sociedades contemporâneas é a amnésia. Porém, já foi possível perceber que aquilo que publicamos, para além de nos deixar orgulhosos, faz as pessoas mais felizes e gente feliz decifra mais facilmente a sua identidade.

José Martinho Gaspar nasceu em Água das Casas (Abrantes), na década de 60 do século XX, e vive em Abrantes. É Professor de História e Mestre em História Contemporânea. Desenvolve a sua ação entre aulas, atividades associativas (Palha de Abrantes e CEHLA/Zahara, mas também CSCRD de Água das Casas), leitura e escrita, tanto de História como de ficção, sendo autor de vários artigos e livros. Apaixonado por desporto, já não vai em futebóis, mas continua a dar as suas voltas de bicicleta. Afinal, diz, "viver é como andar de bicicleta: não se pode deixar de pedalar e quando surge um cruzamento escolhe-se o nosso caminho".

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