É sábado à tarde e vagueio pelas ruas do Sardoal. Depois de percorrer as ruas da parte mais baixa (ruas velhas), subo para a Praça da República. Ouço música por ali. Há no ar uma melodia diferente. Isto não é música gravada, é música tocada ao vivo e aqui perto.
Sigo-a como que a imitar os desenhos animados antigos em que os gatos correm de focinho para cima e sorriso estampado no rosto, atrás do fio do cheio do bolo que a avózinha punha na janela para arrefecer.
Estou na Rua Gil Vicente. O som sai daquela janela lá no alto. Continua a ouvir-se a viola baixo bem dedilhada e uma bateria que denota já alguma segurança. Ligo à Guida e pergunto se o Diogo ainda toca bateria, ela responde que não, ali naquela rua só se for o Martinho.
Claro, o Martinho mora ali mesmo. Ligo-lhe uma, outra e outra vez. Não me atende, pudera, está embrenhado na música. Aguardo junto à porta e nas pausas toco a campainha. Uma, duas, três vezes. Finalmente a cadela Yuka Daisy, da casa, dá sinal e o Martinho pergunta quem é, pelo intercomunicador.
Confirmo. São eles, o Martinho Nunes no baixo e o seu filho Dinis na bateria. Vim atrás da música, disse-lhe, e gostava de fazer uma ou duas fotografias. Subo até ao segundo andar e encontro o quarto da música. Ensaiam com base num portátil onde passam as músicas que querem trabalhar.
Martinho comprou, há cerca de três meses, um baixo, um amplificador e uma bateria para o Dinis. Ele gosta de percussão e anda a ter aulas, quer na escola de música da Filarmónica União Sardoalense quer com um professor especializado na área. E toca bateria todos os dias.
“Pena não estar cá a Yasmine, (também filha de Martinho e Rosenir) mas anda noutras andanças musicais, anda a especializar-se em clarinete e não está no Sardoal. Um dia fazemos um trio” diz Martinho com um grande sorriso no rosto.
O Martinho tem 46 anos e o Dinis 12. Martinho pertence à Filarmónica União Sardoalense desde os seus 10 anos de idade (1986) e hoje toca Tuba. Também fez parte da OLA – Orquestra Ligeira de Abrantes, e de vários grupos de música rock do Sardoal, sempre a tocar viola baixo.
Como forma de despedida tocaram “Seven Nation Army” dos White Stripes, versão baixo e bateria ao vivo. Juro que ainda bati o pé.
Ah, e pedem para agradecer publicamente a paciência e a disponibilidade dos vizinhos de baixo, a Andreia Valente e o Marco Serras, com os quais estabelecem uma espécie de horário para poderem ensaiar mais à vontade.