O senhor António já fez 81 anos. Encontrei-o a meio da tarde no cais de Vila Nova da Barquinha, agarrado a uma cana de pesca, da qual não tirava o olho. Veio do Entroncamento e ali é o seu sítio habitual para passar o tempo junto ao rio Tejo.
Tinha encostado ao seu carro, um braçado de canas da pesca, cada uma para a sua função. Dizia-me que as podia usar, eram mais compridas, podia lançar o anzol mais longe. Era só deixá-las num suporte e esperar.
Mas optou por esta que o obrigava a estar atento ao sinal da bóia, assim tinha a certeza de que não caía na tentação de fechar os olhos por uns instantes.
Estava ali desde as duas da tarde e só tinha apanhado um peixe que, de tão pequeno, o devolveu ao rio.
Para passar o tempo, confessou, também cava a terra, mas apenas por desporto, era a sua forma de fazer ginástica, o seu ginásio.
Bem que fiquei na conversa uma bela meia hora à espera que algum peixe de tamanho considerável aparecesse na sua cana, para que a fotografia ficasse melhor, como ele me sugeria com um sorriso, mas, como tal não aconteceu, despedi-me e continuei o meu passeio.
Fotografia: Barquinha, junho de 2022