Caro leitor. Bom dia!

Ainda se lembra de um anúncio televisivo a uma marca de cigarros, onde se anunciavam quilómetros de prazer para os consumidores? Caso a sua resposta seja afirmativa, não tenho dúvidas que terá mais de 50 anos de idade.

Se não se lembra, terá menos de meio século de existência e poderá questionar-se sobre as atitudes e comportamentos da geração dos seus pais ou dos seus avós, que conviviam com tais conceitos.

Mas o Mundo é mesmo assim. A evolução e o conhecimento, ao longo dos tempos encarregam-se de alterar verdades que afinal não o eram, de revelar um vasto conjunto de aparentes contradições. Um dia qualquer, o que era, deixou de o ser. O saber baseado na evidência científica é cada vez mais profundo, mais vasto, mais exaustivo.

Vem isto a propósito da abordagem que hoje se faz sobre o tabagismo, radicalmente diferente da que se fazia num passado não muito longínquo.

A investigação provou inequivocamente que os malefícios do tabagismo está associado à existência de muitas centenas de químicos diferentes, presentes no fumo do tabaco, que exercem diversos e inúmeros efeitos nocivos sobre a saúde dos consumidores, quer sejam fumadores ativos, quer sejam passivos.

Por isso, sabemos agora que um vastíssimo conjunto de doenças está indubitavelmente associado a este hábito. E sendo assim, a este mau hábito.

Sabia que hoje podemos afirmar que o tabagismo é o principal fator causal de doenças gravíssimas, muito frequentes, responsáveis por muito sofrimento, muitas incapacidades, muitas mortes prematuras?. De que são exemplos relevantes:

  • As doenças vasculares, cardíacas (os enfartes…) e cerebrais (os AVC´s)
  • Um vasto conjunto de tumores malignos (pulmão, cancro oral, da laringe, da bexiga…)
  • A doença pulmonar crónica obstrutiva (as bronquites…)

Se parar para pensar um pouco, facilmente perceberá que o tabaco está associado não apenas a doenças incapacitantes, mas especialmente a doenças que provocam a morte. Sim, falamos de perigo de morte que, se quisermos, poderá ser reduzido muito significativamente. Por isso, dizemos que essas mortes são prematuras, isto é, elas poderiam ocorrer mais tarde, desejavelmente muito mais tarde, se as pessoas não fumassem.

Sabia que na população do Médio Tejo, a morte prematura devida à doença oncológica que ocorre no conjunto dos seus 230.000 habitantes, representa anualmente menos 2500 anos de vida perdida, calculados pela diferença entre a idade da morte destes doentes e a sua esperança de vida à nascença?

Não acha estranho que o ser humano lute tanto contra a doença e contra a morte e depois tome a decisão informada de utilizar produtos que a antecipam? A relação entre a morte por cancro ou por doenças vasculares e o tabagismo é muito evidente e em algumas situações é tão elevada que parece pouco racional que muitas pessoas se tornem ou se mantenham fumadoras. É que em 97% dos cancros da laringe, em 90% dos cancros do pulmão, em 85% das bronquites e enfisema pulmonar e em 25% das doenças do coração, as vítimas mortais são fumadores.

Ouvir quem sabe…

Para tentarmos compreender melhor os dados de que dispomos, segundo os quais no Médio Tejo há muitos adultos a deixarem de fumar e demasiados jovens a começarem a fumar, decidimos ouvir um profissional de saúde que no âmbito do Plano Local de Saúde do Médio Tejo se dedica a pensar e desenvolver estratégias de prevenção, de combate à doença oncológica. Na opinião da enfermeira Paula Gil, a que se devem estas tendências?

De facto o consumo de tabaco entre os jovens é preocupante, sobretudo porque os adolescentes que experimentam fumar nesta idade têm um risco elevado de se tornarem dependentes, e por conseguinte têm mais dificuldade em deixar de fumar, maior probabilidade de terem um percurso de vida como fumadores, com piores consequências para a saúde. Hoje os espaços de diversão noturna têm vindo a afirmar-se entre os jovens. Sair à noite passou a ser um costume que associam a alegria, mas também a experiencias novas como o consumo de álcool e de tabaco. O Tabaco entre os jovens começa por estar ligado ao aspeto social, passando depois a adquirir o hábito e por último o “vício”. Fumar também está muito associado a algumas crenças e mitos, como fumar é “cool”, ajuda a relaxar, alivia o stress, ajuda a controlar o peso, entre outros. Na adolescência existe pouca perceção do amanhã, das consequências de fumar, porque o que interessa é o presente, “o aqui e agora”. Hoje existe uma lei antitabágica mais restritiva do ato de fumar ainda que pareça que adultos e jovens a interpretam de forma diferente. O adulto parece utilizá-la como um pretexto para parar de fumar, enquanto o adolescente procura formas de a contornar. Também a disponibilidade de apoio técnico para a cessação tabágica e uma maior consciência do adulto sobre os efeitos do tabaco na saúde, possa traduzir esta tendência decrescente. Mas estou consciente que há muito a fazer, na sensibilização dos jovens não fumadores para recusarem a iniciação e dos que fumam, para deixarem de fumar.

Quer dirigir à população do Médio Tejo alguma mensagem sobre esta matéria que considere relevante?

Que vale a pena o esforço de não fumar em prol da saúde individual e coletiva pois, cada cigarro que fumamos tira-nos uns minutos de vida…!  Pela sua saúde, não fume e evite ambientes com fumo.

LAIASem tabaco temos…

  • Mais SAÚDE
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 O dia 17 de Novembro é o Dia Mundial do Não Fumador. Se é o seu dia, não deixe de se manter na equipa dos não fumadores. Se não é o seu dia, pense bem. A vida é um bem precioso que não podemos desperdiçar. O grande desafio, o racional, o bom sonho é cada um de nós ser responsável pela sua saúde. Experimente e verá que é possível…

Rui Calado é médico epidemiologista e especialista em Saúde Pública. Foi coordenador da USP (Unidade de Saúde Pública) do ACES Zêzere e do Médio Tejo.

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