António Farmhause, commercial manager da SmartEnergy. Créditos: mediotejo.net

Os aviões da sexta edição da Portugal Air Summit já sobrevoam os céus de Ponte de Sor, em acrobacias de cortar a respiração… mas levando a bordo, ainda, combustíveis fósseis. O ronco característico dos motores de veículos aéreos obriga os visitantes a colocar os olhos no céu para observar tudo o que passa, a grande velocidade, por cima das suas cabeças, mas quem tem os pés bem assentes na terra sabe a importância que tem a transição energética e a necessidade de acelerar a transição para as energias renováveis. Esse facto não passou ao lado da cimeira que se afirma “a maior” da Península Ibérica, no setor aeronáutico. A guerra na Ucrânia está a provocar incerteza e volatilidade nos mercados mundiais, com consequências nos preços do gás natural, da eletricidade e dos combustíveis. Por cá, a SmartEnergy tem um projeto de hidrogénio verde para Alvega e Concavada (Abrantes) num investimento de 25 milhões de euros.

Foi na área de exposição, no novo hangar do Aeródromo Municipal de Ponte de Sor onde irá trabalhar a Aeromec, que encontrámos cerca de 120 expositores nas áreas da aviação, aeronáutica, espaço, defesa e também energia. Um espaço partilhado, por estes dias em Ponte de Sor, por empresas nacionais e internacionais, associações, entidades públicas e estabelecimentos de ensino superior.

Um dos 76 patrocinadores da Portugal Air Summit é o grupo suíço SmartEnergy com um projeto para Ponte de Sor e outro para Abrantes, ou melhor, para a União de Freguesias de Alvega e Concavada, num investimento de 25 milhões de euros, para debitar na rede nacional 600 toneladas ano de hidrogénio verde.

“O projeto consiste numa unidade de produção de hidrogénio verde a instalar nas freguesias de Alvega e Concavada, com recurso às tecnologias da hidrólise da água”, disse ao nosso jornal António Farmhause, commercial manager da SmartEnergy, presente num dos 120 expositores existentes no evento.

Portugal Air Summit 2022. Créditos: mediotejo.net

Explica que é usada “energia solar para criar o hidrogénio verde. Esta é a grande diferença entre os outros tipos de hidrogénio que já existem em Portugal, em empresas muito grandes como a Galp, que fazem hidrogénio cinzento e azul. Nós fazemos hidrogénio verde proque tem uma proveniência de energias verdes”.

Durante quatro dias, ou seja, até sábado 15 de outubro, o Aeródromo Municipal de Ponte de Sor recebe algumas das entidades e personalidades mais relevantes do setor aeronáutico, da indústria, infraestruturas e serviços, para debaterem e analisarem a aviação – tripulada e não tripulada -, aeronáutica, espaço e defesa. A energia não foi esquecida.

Em Abrantes, a conceção do projeto da SmartEnergy consiste, segundo António Farmhause, “num parque solar de 17,5 megawatt de produção de energia solar com injeção/ligação à rede nacional, com eletrolisador de 10 megawatt, com uma produção de hidrogénio de cerca de 600 toneladas ano” num investimento de 25 milhões de euros, refere.

Se a candidatura for aprovada, o projeto arrancará em 2023 “e a injetar hidrogénio, que é um gás, no terceiro quadrante de 2024” criando entre 10 a 30 postos de trabalho, permanentes e não permanentes, procurando a empresa “técnicos especializados” ou seja, engenheiros.

A escolha da localização prendeu-se com a possibilidade “de injeção na rede de gás natural. Numa primeira fase a estratégia nacional da rede de gás e da transição energética prevê que até 2026 possam ser colocados cerca de 10% de hidrogénio, com mistura de gás natural. Até 2030 já se prevê que seja muito perto dos 20% e até 2050 prevê-se 80%. Isto porque a tecnologia está a ser desenvolvida”, acrescenta.

A guerra na Ucrânia veio provocar “um estalo”, ou seja, como acelerador da nova tecnologia do hidrogénio. Colocou “a Europa a necessitar desta nova fonte de energia que será um substituto do gás natural. Temos de acreditar nisso!”, afirma o responsável, dizendo que a indústria portuguesa deve pensar nesta nova possibilidade, particularmente perante os elevados preços do gás natural e do petróleo.

Hidrogénio verde. Créditos: Pixabay

No entanto, à semelhança dos preços de outras fontes de energia, como por exemplo as eólicas, “quando foram construídas, a energia verde não era mais barata do que as energias produzidas anteriormente. Houve um custo – investimentos, etc – imputado na tarifa energética”, isto é, ao consumidor final, diz. “O mesmo irá acontecer com hidrogénio. A breve prazo teremos um preço muito mais interessante e competitivo”, acrescenta.

António Farmhouse confirma aquilo que o governo já havia anunciado. Por outras palavras, que o hidrogénio vai ser um dos pilares na transição para uma economia descarbonizada até 2050, afirmando que “o Ministério da Energia e Ambiente tem sido um grande impulsionador…agora mais acelerado, mas já anteriormente” à crise energética que a guerra na Ucrânia provocou.

No entanto, nota alguma retração na indústria, designadamente da cerâmica, que, segundo diz, “consome imenso gás natural”. Dá conta que atualmente o “maior projeto” da SmartEnergy decorre em Espanha, precisamente para a indústria da cerâmica. Fala por isso em mudança das tecnologias industriais, no sentido de trabalharem a hidrogénio e com isso “descarbonizarem e cumprirem os acordos de Paris, de Quioto, para que consigamos descarbonizar a Europa, um dos pontos fortes das políticas europeias”.

Afirma que a empresa está focada no hidrogénio querendo ter projetos em Sines e também em Ponte de Sor. A Câmara Municipal “quer ter um projeto de hidrogénio, ter aqui um hub, já que têm o cluster de aviação e conseguir juntar estas duas tecnologias”. Atualmente já conta com projetos em Aveiro e Setúbal.

ÁUDIO: ANTÓNIO FARMHOUSE, COMMERCIAL MANAGER DA SMARTENERGY

A SmartEnergy tem escritórios em Portugal, designadamente em Matosinhos, onde são desenvolvidos os projetos desde a conceção do projeto, à fase de engenharia, à promoção, até à entrega do projeto para a candidatura a financiamentos. Em Portugal conta com sete parques solares, quatro ainda em construção e três já em fase de produção. A Rewatt é uma das duas empresas do grupo, dedicada ao autoconsumo solar.

Ricardo Meireles, CEO da Rewatt . Créditos: mediotejo.net

Pela primeira vez na Portugal Air Summit, a Rewatt oferece “soluções de energia verde” e pretende “facilitar a introdução de energias renováveis” nas empresas, tornando-as comunidades energéticas.

Segundo explicou o CEO, Ricardo Meireles, a Rewatt investe na instalação fotovoltaica e o cliente contribui com o telhado e o consumo da energia e consome a energia produzida. Existe uma partilha de energia produzida excedentária entre os diversos elementos da comunidade, o que implica “menor custo da energia solar”, garante.

“Estamos na Portugal Air Summit porque vivemos uma crise energética. E a SmartEnergy é um grupo de energias e nós na parte da energia solar, nomeadamente no autoconsumo, desenvolvemos projetos industriais e de comunidades de energia onde simplificamos a introdução destas energias renováveis nas empresas e nas comunidades oferecendo energia muito mais barata e garantida nos próximos anos”, disse ao mediotejo.net.

ÁUDIO: RICARDO MEIRELES, CEO REWATT

Paula Mourato

A sua formação é jurídica mas, por sorte, o jornalismo caiu-lhe no colo há mais de 20 anos e nunca mais o largou. É normal ser do contra, talvez também por isso tenha um caminho feito ao contrário: iniciação no nacional, quem sabe terminar no regional. Começou na rádio TSF, depois passou para o Diário de Notícias, uma década mais tarde apostou na economia de Macau como ponte de Portugal para a China. Após uma vida inteira na capital, regressou em 2015 a Abrantes. Gosta de viver no campo, quer para a filha a qualidade de vida da ruralidade e se for possível dedicar-se a contar histórias.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *