Os aviões da sexta edição da Portugal Air Summit já sobrevoam os céus de Ponte de Sor, em acrobacias de cortar a respiração… mas levando a bordo, ainda, combustíveis fósseis. O ronco característico dos motores de veículos aéreos obriga os visitantes a colocar os olhos no céu para observar tudo o que passa, a grande velocidade, por cima das suas cabeças, mas quem tem os pés bem assentes na terra sabe a importância que tem a transição energética e a necessidade de acelerar a transição para as energias renováveis. Esse facto não passou ao lado da cimeira que se afirma “a maior” da Península Ibérica, no setor aeronáutico. A guerra na Ucrânia está a provocar incerteza e volatilidade nos mercados mundiais, com consequências nos preços do gás natural, da eletricidade e dos combustíveis. Por cá, a SmartEnergy tem um projeto de hidrogénio verde para Alvega e Concavada (Abrantes) num investimento de 25 milhões de euros.
Foi na área de exposição, no novo hangar do Aeródromo Municipal de Ponte de Sor onde irá trabalhar a Aeromec, que encontrámos cerca de 120 expositores nas áreas da aviação, aeronáutica, espaço, defesa e também energia. Um espaço partilhado, por estes dias em Ponte de Sor, por empresas nacionais e internacionais, associações, entidades públicas e estabelecimentos de ensino superior.
Um dos 76 patrocinadores da Portugal Air Summit é o grupo suíço SmartEnergy com um projeto para Ponte de Sor e outro para Abrantes, ou melhor, para a União de Freguesias de Alvega e Concavada, num investimento de 25 milhões de euros, para debitar na rede nacional 600 toneladas ano de hidrogénio verde.
“O projeto consiste numa unidade de produção de hidrogénio verde a instalar nas freguesias de Alvega e Concavada, com recurso às tecnologias da hidrólise da água”, disse ao nosso jornal António Farmhause, commercial manager da SmartEnergy, presente num dos 120 expositores existentes no evento.

Explica que é usada “energia solar para criar o hidrogénio verde. Esta é a grande diferença entre os outros tipos de hidrogénio que já existem em Portugal, em empresas muito grandes como a Galp, que fazem hidrogénio cinzento e azul. Nós fazemos hidrogénio verde proque tem uma proveniência de energias verdes”.
Durante quatro dias, ou seja, até sábado 15 de outubro, o Aeródromo Municipal de Ponte de Sor recebe algumas das entidades e personalidades mais relevantes do setor aeronáutico, da indústria, infraestruturas e serviços, para debaterem e analisarem a aviação – tripulada e não tripulada -, aeronáutica, espaço e defesa. A energia não foi esquecida.
Em Abrantes, a conceção do projeto da SmartEnergy consiste, segundo António Farmhause, “num parque solar de 17,5 megawatt de produção de energia solar com injeção/ligação à rede nacional, com eletrolisador de 10 megawatt, com uma produção de hidrogénio de cerca de 600 toneladas ano” num investimento de 25 milhões de euros, refere.
Se a candidatura for aprovada, o projeto arrancará em 2023 “e a injetar hidrogénio, que é um gás, no terceiro quadrante de 2024” criando entre 10 a 30 postos de trabalho, permanentes e não permanentes, procurando a empresa “técnicos especializados” ou seja, engenheiros.
A escolha da localização prendeu-se com a possibilidade “de injeção na rede de gás natural. Numa primeira fase a estratégia nacional da rede de gás e da transição energética prevê que até 2026 possam ser colocados cerca de 10% de hidrogénio, com mistura de gás natural. Até 2030 já se prevê que seja muito perto dos 20% e até 2050 prevê-se 80%. Isto porque a tecnologia está a ser desenvolvida”, acrescenta.
A guerra na Ucrânia veio provocar “um estalo”, ou seja, como acelerador da nova tecnologia do hidrogénio. Colocou “a Europa a necessitar desta nova fonte de energia que será um substituto do gás natural. Temos de acreditar nisso!”, afirma o responsável, dizendo que a indústria portuguesa deve pensar nesta nova possibilidade, particularmente perante os elevados preços do gás natural e do petróleo.

No entanto, à semelhança dos preços de outras fontes de energia, como por exemplo as eólicas, “quando foram construídas, a energia verde não era mais barata do que as energias produzidas anteriormente. Houve um custo – investimentos, etc – imputado na tarifa energética”, isto é, ao consumidor final, diz. “O mesmo irá acontecer com hidrogénio. A breve prazo teremos um preço muito mais interessante e competitivo”, acrescenta.
António Farmhouse confirma aquilo que o governo já havia anunciado. Por outras palavras, que o hidrogénio vai ser um dos pilares na transição para uma economia descarbonizada até 2050, afirmando que “o Ministério da Energia e Ambiente tem sido um grande impulsionador…agora mais acelerado, mas já anteriormente” à crise energética que a guerra na Ucrânia provocou.
No entanto, nota alguma retração na indústria, designadamente da cerâmica, que, segundo diz, “consome imenso gás natural”. Dá conta que atualmente o “maior projeto” da SmartEnergy decorre em Espanha, precisamente para a indústria da cerâmica. Fala por isso em mudança das tecnologias industriais, no sentido de trabalharem a hidrogénio e com isso “descarbonizarem e cumprirem os acordos de Paris, de Quioto, para que consigamos descarbonizar a Europa, um dos pontos fortes das políticas europeias”.
Afirma que a empresa está focada no hidrogénio querendo ter projetos em Sines e também em Ponte de Sor. A Câmara Municipal “quer ter um projeto de hidrogénio, ter aqui um hub, já que têm o cluster de aviação e conseguir juntar estas duas tecnologias”. Atualmente já conta com projetos em Aveiro e Setúbal.
A SmartEnergy tem escritórios em Portugal, designadamente em Matosinhos, onde são desenvolvidos os projetos desde a conceção do projeto, à fase de engenharia, à promoção, até à entrega do projeto para a candidatura a financiamentos. Em Portugal conta com sete parques solares, quatro ainda em construção e três já em fase de produção. A Rewatt é uma das duas empresas do grupo, dedicada ao autoconsumo solar.

Pela primeira vez na Portugal Air Summit, a Rewatt oferece “soluções de energia verde” e pretende “facilitar a introdução de energias renováveis” nas empresas, tornando-as comunidades energéticas.
Segundo explicou o CEO, Ricardo Meireles, a Rewatt investe na instalação fotovoltaica e o cliente contribui com o telhado e o consumo da energia e consome a energia produzida. Existe uma partilha de energia produzida excedentária entre os diversos elementos da comunidade, o que implica “menor custo da energia solar”, garante.
“Estamos na Portugal Air Summit porque vivemos uma crise energética. E a SmartEnergy é um grupo de energias e nós na parte da energia solar, nomeadamente no autoconsumo, desenvolvemos projetos industriais e de comunidades de energia onde simplificamos a introdução destas energias renováveis nas empresas e nas comunidades oferecendo energia muito mais barata e garantida nos próximos anos”, disse ao mediotejo.net.