*Texto do poeta Nuno Garcia Lopes, a pedido do mediotejo.net
Ah! Quão deslumbrante é para a gente das letras a história de um apaixonado, mais ainda se forem proibidos ou desaconselháveis esses amores. E se esse apaixonado for poeta, então, tanto mais intenso que pode ser o enredo.
Luís, o poeta, enamorou-se por dama que a sua condição não alcançava, talvez se tenha até envolvido em escaramuça a esse propósito. Certo é que acabou deslocado à força para suficientemente longe do Paço Real, por esse Tejo acima que era boa via de comunicação para os portugueses de quinhentos.
Aonde o terão levado as barcas é coisa para não mais do que suposições, mas da sua morada do desterro ficaram ecos na vila de Punhete, ali harmoniosamente alcandorada na colina sobranceira ao vazar das águas do Zêzere nas que às tágides dão guarida. E assim a memória local conservou o seu eco até a sonoridade latina do topónimo ter começado a soar às suas gentes como brejeira, e a vila ter ganho a constância do seu nome.

Ia já a meio o vigésimo século quando Manuela chegou à vila. Não por castigo, mas em trabalho, mulher de letras de imprensa, então tarefa rara no feminino, chegou, enamorou-se pelo local e fez da lembrança do vate razão de ser de uma vida e de uma vila. E com ela arrastou vontades que erigiram primeiro a Memória, depois a Casa, mas também o horto onde brotam verdadeiros trevos de quatro folhas e o monumento em que o poeta, jovem e com os dois olhos bem abertos, como seria quando, se o esteve, ali se encontrara, oferece casto colo às formosas Bárbaras e Leanores dos nossos dias.
A Casa ganhou vida e tornou-se em ponto de encontro dos que também nas malhas da poesia se deixaram enredar. E acolheu os que do seu patrono queriam saber, mas também aqueles a quem interessava sobremaneira o trabalho dos seus herdeiros. E todos quiseram mais e pediram que em harmoniosa assembleia pudessem uns e outros discorrer sobre essa sublime arte de fazer versos e transformar em facas aguçadas, águas límpidas ou preciosas porcelanas as palavras comuns dos nossos dias.
De tertúlia denominaram o encontro mútuo, talvez houvesse verbo mais sublime, mas que importância tem um nome se for o fim que importa? E assim se congregaram 28, muito mais amplo número que as expectativas daqueles que deram origem à operação aritmética da junção das vontades: o António, a Maria, o Henrique e este escriba.

Todos declararam a vontade de se voltar a reunir à terceira quarta-feira de cada mês, como nesta se juntaram para evocar o poeta Luís, a sua poesia e a sua vida que se cruzou com Constância como os rios se cruzam. E que na próxima, que em Janeiro há-de ser para que antes se desenrolem as festas em família, será evocado o poeta Alexandre que àquela mesma vila veio desaguar, ele que bem sabia haver mar e mar e ir e voltar.
E para que de fora não fiquem os outros possíveis interessados, haveis de saber que esta tertúlia acontece na Casa Memória de Camões em Constância, onde o segundo capítulo se desenrolará na noite de 15 de Janeiro em sendo 21 horas.