O Fluviário "Foz do Zêzere" abriu portas em 2019 com o objetivo de dar a conhecer a fauna piscícola dos rios Zêzere e Tejo, tanto autóctones como invasoras. Foto: mediotejo.net

Albergue de espécies do rio como bogas-portuguesas, verdemãs, luciopercas, achigãs, carpas ou camarões ibéricos, erguendo-se na margem direita do rio Zêzere, encarando de frente a vila de Constância, encontra-se o Fluviário Foz do Zêzere. Mas a oferta desta recente estrutura criada em 2019 vai além da simples mostra da fauna piscícola, pelo que o mediotejo.net participou numa visita guiada para perceber um pouco melhor o que se pode encontrar neste Fluviário à beira-Zêzere plantado.

É naquele que é o edifício do Centro Náutico de Constância, e por entre os 16 tanques que compõem o Fluviário, que os visitantes podem conhecer a cerca de uma vintena de espécies que habitam os rios Zêzere e Tejo, tanto autóctones como invasoras.

A missão principal deste espaço é precisamente essa, a de dinamizar e enfocar as espécies do rio Zêzere e do rio Tejo, ao mesmo tempo que detém igualmente um cariz pedagógico, onde é abordado o paralelismo entre quais as espécies originárias do território e as que, sendo invasoras, têm um impacto negativo no meio ambiente.

O Fluviário “Foz do Zêzere” abriu portas em 2019 com o objetivo de dar a conhecer a fauna piscícola dos rios Zêzere e Tejo, tanto autóctones como invasoras. Foto: mediotejo.net

Mas quem se deslocar até este local, o qual mantém um olhar atento sobre a zona onde o rio Zêzere vai desembocar no Tejo – daí o nome “Foz do Zêzere” – não fica limitado a ver estes seres aquáticos nos seus aquários.

As visitas a este Fluviário são complementadas com a apresentação de um filme imersivo sobre o rio Zêzere, a sua natureza, história, topografia, cultura, gentes, turismo e o aproveitamento das suas águas, onde os visitantes usam óculos de realidade virtual (embora neste momento pandémico os óculos não estejam a ser usados).

O “Rio do Ouro”, uma das atividades preferidas entre os mais pequenos, é outra das atividades contempladas pela visita ao Fluviário. Tendo em conta a existência de vestígios da presença romana e da sua exploração de ouro nos rios, a estrutura é assim também dotada de um módulo onde é simulada a atividade da garimpagem, através de bateias, onde miúdos e graúdos são desafiados a encontrar “pepitas de ouro” que depois podem ser levadas para casa como recordação. 

O módulo “Rio do Ouro” incentiva miúdos e graúdos a descobrirem pequenas pepitas de “ouro”, através do uso das tradicionais bateias, utensílio antigo usado para o efeito. Foto: mediotejo.net

Outra atividade realizada é a da “construção” de uma pequena barragem à escala, com 1,5 metros e capacidade de três mil litros para produção de eletricidade, a qual são os visitantes que constroem (30 peças) e que é dotada de um hidrogerador transparente, de forma a que as pessoas possam ver como funciona a passagem da água e a geração de eletricidade. 

Todas as visitas ao Fluviário são guiadas. Manuela Arsénio, colaboradora responsável pela visita em que o mediotejo.net participou, explica que o foco centra-se no chamar a atenção para os efeitos negativos que as espécies invasoras, como o siluro (peixe-gato), o lúcio-perca ou o achigã, podem ter no meio ambiente.

Por oposição, “também chamamos muito a atenção para o facto de haver uma série de espécies que cada vez existem menos no nosso rio, na escala que avalia o estado de conservação das espécies no rio. É um aspeto que chamamos a atenção”, diz Manuela Arsénio, referindo o exemplo da boga-portuguesa, “que cada vez existe menos no nosso meio ambiente, com certeza resultado do que o Homem faz”.

Todas as visitas ao Fluviário são guiadas. Foto: mediotejo.net

Mas a estrutura não se esgota no Fluviário e nas atividades relacionadas e referidas, passando ainda pelos desportos radicais como canoagem ou por serviço de restauração, sendo algo que decorre de uma “empresa base”, a Aventur:

“A marca Aventur portanto já existia, o Centro Naútico estava desocupado, e a Aventur, que tem a ver com atividades de natureza turística, procurava um espaço onde pudesse alargar a sua oferta de serviços, e como o espaço estava desocupado, fomos “provocar” no bom sentido a Câmara Municipal para desenvolvermos ali um espaço atrativo para o desenvolvimento de atividades das crianças”, explica Gonçalo Neves, o proprietário.

Tendo em conta a dificuldade de rentabilizar aquele espaço foi tomada a decisão de ter uma função tripartida no local: atividades náuticas (que já existiam) e de eventos para empresas, atividades de restauração (também necessárias num sentido de complemento da oferta aos clientes), e as atividades para as escolas.

A visita inclui o visionamento de um filme sobre o rio Zêzere. Foto: mediotejo.net

É desta perspetiva de atividades escolares que nasce o Fluviário: “achámos que, estando aqui nesta zona de Constância, e sendo aqui a foz do rio Zêzere, e chamando nós a este projeto Foz do Zêzere, decidimos portanto ter alguns peixes para mostrar às crianças o que existia ali”, elucida o proprietário e mentor do projeto.

“Nessa altura estávamos desconhecedores do que incluía tirar a licença de parque zoológico ou similar, que é o caso, e depois de saber que afinal esse tipo de licença era algo de grande monta, achámos por bem não só ter alguns peixinhos, mas dotar esse espaço então de um pequeno Fluviário que fosse representativo dos peixes, dos crustáceos e dos moluscos da zona da Foz do Zêzere. A partir daí, decidimos não só dotar o Fluviário com alguns aquários de peixes mas também com uma coleção representativa da fauna piscícola da região, algo que se tornou muito maior. A partir daí decidimos não estar abertos só para as escolas mas também abrir ao público”, elucida Gonçalo Neves.

No “Foz do Zêzere” descobrem-se cerca de 20 espécies aquáticas que habitam os rios Zêzere e Tejo. Foto: mediotejo.net

A parte da restauração é levada a cabo através de uma colaboração com dois restaurantes de Constância – o Pézinhos no Rio e o Lusíadas – que fornecem as refeições em serviço de catering, quer seja para empresas, escolas, grupos individuais ou até batizados e casamentos, eventos que também já lá decorreram no espaço.

Também em questões como a limpeza do Fluviário, se recorre a mão de obra local (Constância), exceção feita para a parte da canoagem, uma vez que “não há grande oferta desse serviço entre a comunidade de Constância”.

Inaugurado em 2019 com um investimento de cerca de 300 mil euros, também este espaço sofreu com a questão da covid-19, pelo que existe “um antes e um durante a pandemia”, diz Gonçalo Neves, que nos explica que, embora seja difícil fazer essa conta, antes da pandemia existia um número médio de 20 colaboradores ao fim de semana, numa altura em que a própria empresa tinha sete funcionários (cinco a tempo inteiro e dois parciais). Em contrapartida, neste momento, a empresa não tem qualquer funcionário, funcionando apenas com trabalho eventual.

“Esta área foi uma área, assim como outras de aspetos culturais e também dos bares da noite, fomos dos que mais sofremos com a pandemia. Nesta altura de janeiro, por exemplo, devíamos ter escolas. Mas não temos qualquer escola, naturalmente. Aliás (…) vão passar dois anos e dois meses sem termos reservas de escolas”, nota Gonçalo Neves.

Centro Náutico e Fluviário Foz do Zêzere, em Constância. Foto: mediotejo.net

Após ter aberto ao público a 23 de março de 2019, o Fluviário Foz do Zêzere teve de encerrar as suas portas a 6 de março de 2020, dia em que foi visitado pela última vez por uma escola.

“Nessa altura tinham-nos visitado 400-500 alunos e tínhamos marcados ainda cerca de 3800, sendo que estaríamos mais ou menos a meio das marcações, porque faltavam os ATL’s e campos de férias, que depois preenchem o período pós-letivo. Não seria errado dizer que teríamos entre 10 a 15 mil visitantes, que é aquilo que é esperado”, refere o proprietário que, embora não consiga quantificar ao certo, tem a certeza que em 2021 não contou com meio milhar de entradas.

Detalhe de um dos 16 tanques que compõem o fluviário. Foto: mediotejo.net

No presente, o Fluviário encontra-se aberto apenas para grupos por marcação, sendo que, previsivelmente, em maio ou junho abrirá ordinariamente ao domingo à tarde novamente, tal como aconteceu durante o verão passado, esperando que a partir de maio, que é quando estão marcadas as primeiras escolas, “isto possa regressar um pouco à normalidade”, diz Gonçalo Neves.

“É um Fluviário temático e é sempre explicado por um guia, pelo que propicia uma experiência muito agradável tanto para adultos como para crianças. É experimentarem e verem o nosso conceito”, lança ainda o desafio.

As entradas no Fluviário “Foz do Zêzere” têm o custo de 6,5 euros por pessoa (grátis para crianças até aos 4 anos), e incluem a visita ao Fluviário, o visionamento do documentário ambiental e a participação na atividade Rio do Ouro. As marcações devem ser feitas através do número 913472222 ou site do Fluviário.

Rafael Ascensão

Licenciado em Ciências da Comunicação e mestre em Jornalismo. Natural de Praia do Ribatejo, Vila Nova da Barquinha, mas com raízes e ligações beirãs, adora a escrita e o jornalismo.

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1 Comentário

  1. Constância??? 🤣🤣🤣Freguesia de Praia do Ribatejo, concelho de Vila Nova da Barquinha!!!

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