Entre a vila de Tramagal e a freguesia de Santa Margarida, encontra-se a Quinta do Carvalhal. Quem por lá passa frequentemente, decerto já vislumbrou a placa e a entrada da quinta, sem provavelmente no entanto imaginar o que está para lá dos portões: 243 hectares de extensão, 46 dos quais são dedicados à produção de nozes, cultivo que levou o mediotejo.net até esta quinta, numa altura em que decorre a apanha da noz, para descobrir um pouco mais sobre esta cultura e o seu processo.
Chegados à herdade, somos recebidos por dois cães, um pastor alemão e um pastor belga, fiéis e dedicados cumpridores do seu trabalho: guardar a propriedade de intrusos, quiçá também de mãos mais atrevidas. Resultado, aguardamos no carro até que venha alguém ao nosso encontro. Esse alguém é João Braga, engenheiro agrónomo de 39 anos, natural de Santo Estevão, Benavente, administrador da herdade e que está à frente da empresa.

Historicamente, as produções de nozes da quinta variam entre as 100 e as 120 toneladas. “No ano passado tivemos uma quebra grande, pois foi um ano atípico e agronomicamente complicado. Este não, as coisas foram muito melhores, temos é algumas parcelas velhas que já estão com alguma mortalidade de árvores e portanto vamos ter alguma quebra”, explicou João Braga, acrescentando que, ainda assim, a produção é boa, e que é esperado que se situe à volta das 80 a 90 toneladas de nozes.
João começou por nos explicar que a herdade foi herdada pelo seu avô, e sendo ele próprio o único neto dedicado à agricultura – uma vez que estudou engenharia agronómica – foi em 2012 trabalhar com o avô para a Quinta do Carvalhal. Apesar de sempre ter crescido no meio agrícola – o pai administrou outra propriedade da família em Samora Correia – João não tinha experiência nenhuma com nozes, pelo que foi aprendendo e ganhando experiência com o seu avô, até que acabou por ficar à frente da empresa.
Para além das nozes, a Quinta do Carvalhal produz ainda forragens, cereais, cortiça proveniente de 150 hectares de floresta e ainda cavalos lusitanos. São estes animais, a par das nozes, o principal produto da propriedade.

Para valores de produção que se estimam na ordem das 80 a 90 toneladas de nozes este ano, contribuíram condições climatéricas agronomicamente favoráveis, tal como esclareceu João Braga, dizendo que este é um ano de boas produções de um modo geral, tanto em termos de cereais, fruteiras ou hortícolas.
“Nas nozes particularmente, também foi um ano bom, apenas tivemos alguns problemas de humidade na primavera que nos obrigam a fazer algum controlo de fungos”, explicou o engenheiro agrónomo.
Para daqui a uns anos é ainda perspetivado um incremento considerável na produção, uma vez que há dois anos foram plantados 16 hectares de nogueiral, tendo em conta que é ao fim de três ou quatro anos que as nogueiras começam a ter alguma produção. Estas árvores entram na sua plena produção no sétimo ou oitavo ano, e depois a partir daí estima-se que possam estar durante mais 20 ou 25 anos em produção.

É no meio da imensidão do nogueiral que João Braga nos explica que, em termos de mercados, e pertencendo a empresa a uma organização de produtores, a distribuição do produto é feita maioritariamente para o mercado nacional, sobretudo grandes superfícies, existindo acordo de venda com a Sonae e também com a cadeia de supermercados LIDL, assim como outros retalhistas.
Desde há três anos para cá esta sociedade também começou a exportar uma pequena percentagem da produção para diversos países europeus, ou seja, toda a produção é imediamente escoada.
Detendo uma obrigação para com a organização de entregar todo o seu produto, a Quinta do Carvalhal não faz venda direta ao consumidor. Em termos de preços, João Braga diz que em princípio, e embora em anos anteriores já se tenha chegado aos 3,50€ o quilo, as médias dos preços este ano deverão rondar entre os 3€ e os 3,30€.
Também na Quinta do Carvalhal a maquinaria demonstra todo o seu poder: nesta propriedade a apanha é toda mecanizada. Mas já lá vamos.

No que toca ao processo de produção, desde a plantação da nogueira até à disposição das nozes nas prateleiras dos supermercados, decorrem algumas etapas. Os pomares de nogueiras são regados no sítio da plantação, pelo que, assim que se instala a plantação, instala-se também o sistema de rega, com algumas preparações de solo que são também elas necessárias. Como já descobrimos, só ao fim de três ou quatro anos é que a árvore começa enfim a dar fruto.
Ao longo do ano decorre uma série de operações, como fertilizações, tratamentos e podas, sendo a produção de nozes “uma cultura bastante técnica mas também desafiante”, como diz, feliz, um João Braga que se nota que gosta do que faz. “E claro está, porque somos agricultores, se correr bem temos retorno financeiro”, acrescenta.
É na apanha, fase fulcral no processo, que a mecanização é visível em todo o seu esplendor. Começa-se por se fazer vibrar as nogueiras até que as nozes caiam para o chão, e “depois há uma máquina que encordoa o que cai ao meio da entrelinha e depois há outra máquina que passa e apanha as nozes”, máquina esta que vai fazendo logo uma primeira separação, explica João Braga.

Deste ponto as nozes passam para uma lavagem que tem uma série de máquinas alinhadas para vários processos de lavagem, onde as mãos hábeis dos trabalhadores sazonais dão uma preciosa ajuda. É que na altura da campanha a Quinta do Carvalhal acolhe cerca de 10 a 12 trabalhadores sazonais e locais, que se juntam aos sete trabalhadores efetivos da propriedade (incluindo a administração).
Da lavagem as nozes passam depois para o secador, sendo que este processo entre a apanha e a secagem “tem de ser um processo rápido para que não haja perda de qualidade das nozes, portanto, quando se apanha, num máximo de 24 horas devemos ter as nozes já a serem secas”, esclarece João Braga.
Depois do processo de secagem, desenrola-se um processo de calibração, onde as nozes são ensacadas em conformidade com os seus tamanhos, uma vez que os preços também variam conforme o calibre do fruto. No caso da noz descascada, um mercado que não é tão explorado nesta quinta, é ainda necessário que o fruto passe por um processo de descasque, sendo depois então embaladas.