É precisamente em Constância que o rio Zêzere desagua no Tejo e questionado sobre os caudais do maior rio da Península Ibérica, o secretário de Estado indicou que “mais de 70% da água que passa no Tejo provem de Espanha, ou seja, as disponibilidades hídricas do Tejo dependerão sempre da Convenção que assinámos com Espanha que tem vindo a cumprir e vai com certeza continuar a cumprir”.

O governante acrescentou haver “uma monitorização permanente entre a APA portuguesa e a sua congénere espanhola, para garantir uma regularidade dos caudais que, este ano, julgo, se têm vindo a verificar também. É um acompanhamento permanente mas temos de ter todos consciência de que estamos provavelmente no ano mais seco do século, temos um problema hidrológico grave e temos todos de poupar água, usarmos a água exclusivamente para consumo humano porque é isso que nos permite chegar ao final do verão e continuarmos a ter água nas torneiras”.
E se o Governo garante que Espanha cumpre com a Convenção de Albufeira, os ambientalistas defendem a revisão da mesma que permitam caudais regulares contínuos, revisão essa que o Governo descarta.
“Portugal está numa conjuntura de seca extrema – 51% está em seca extrema e 49% está em seca severa. Espanha, na bacia hidrográfica do Tejo, está pior ainda do que o lado português. Se revermos a Convenção numa conjuntura destas – a expectativa é que nos próximos 20 a 30 anos a água seja menos –, não sei quem é que acha que vamos conseguir ter mais água do que aquela que temos tido agora. Não vale a pena se vamos ter cada vez menos água”, justifica o governante.
Além disso, o secretário de Estado considera ser “uma questão que não se coloca. A Convenção responde. Espanha tem estado a enviar para Portugal muito mais água do que aquilo a que está obrigada de acordo com a Convenção. E por isso Portugal, com Espanha, acompanha, monitoriza, e do ponto de vista do Governo não há qualquer necessidade de revermos a Convenção”, reforça.

Para o armazenamento de água, o governo está a ponderar a construção de um túnel entre o rio Zêzere e o rio Tejo, até uma zona mais a montante de Constância, junto a Belver, e também “um melhor aproveitamento” do rio Ocreza, eventualmente com a construção de uma nova barragem “de raiz”, a juntar à já existente da Pracana, ou aumentar esta.
No entanto, esta semana os autarcas da Sertã, Oleiros, Pedrógão Grande e Pampilhosa da Serra manifestaram estar preocupados com a possibilidade de haver um transvase de água da Barragem do Cabril para o rio Tejo, “tendo em conta os baixos níveis de água nesta albufeira nos últimos verões e, em especial, neste que decorre”.
O secretário de Estado da Conservação da Natureza e das Florestas, que reuniu com esses autarcas, em resposta aos jornalistas, garantiu tê-los tranquilizado. “Há algumas soluções que estão a ser estudadas, ainda na fase de estudo, provavelmente no mês de setembro o senhor ministro do Ambiente falará sobre elas. Descansei-os! Tudo o que vier a ser feito, há o compromisso de ser feito com os autarcas, em parceria com eles, serão sempre informados das decisões. Todos estes investimentos se vierem a ser concretizados terão os seus estudos de impacte ambiental”.
Relativamente a cenários de racionamento de água, João Paulo Catarino disse que “as entidades gestoras dos sistemas municipais são os municípios que são os primeiros responsáveis por essas medidas. Há um conjunto de Câmaras Municipais que já tomaram essa iniciativa com ótimos resultados”, assegurou, dando o exemplo de Carrazeda de Ansiães que, indicou, “poupou já 17% da água que estava a disponibilizar”.

João Paulo Catarino deu conta que em Portugal há um “consumo médio de água per capita acima daquilo que as convenções internacionais recomendam. Temos alguns concelhos onde esse consumo médio é muitíssimo elevado. Sinal que muita dessa água não é para o fim a que se devia destinar; o consumo humano”.
Indicou igualmente que o Governo “apoia e incentiva” a utilização das águas provenientes das ETAR para a rega de espaços verdes sendo que alguns municípios já avançaram com os pedidos de licenciamentos.
“No Algarve hoje já é utilizado um hectómetro cúbico de água para regra de campos de golfe e de jardins. O objetivo é chegar aos 8 hectómetros cúbicos no Algarve, de utilização dessa água para esses fins e estamos a estudar, para outras zonas do país, essa utilização porque faz todo o sentido. Estamos a facilitar o licenciamento para utilização dessas águas para que os municípios e outras entidades o possam fazer porque essa é uma nova captação para ser utilizada. O futuro passará muito por aí”, afirmou.
João Paulo Catarino reconhece a necessidade de “muito investimento” mas garante que o Governo está preparado, e também o próximo quadro comunitário, para o circulo urbano da água, designadamente para a renovação de equipamentos com “perdas muito significativas” de água.

Relativamente à visita à Praia Fluvial de Constância o secretário de Estado disse que “adorou”.
“Acho que é uma requalificação muito bem conseguida, um esforço da Câmara Municipal e permite-nos ver o caminho que fizemos nos últimos 30 anos na qualidade da água em Portugal. Hoje 85% dos portugueses têm saneamento básico o que se repercute na qualidade da água. Todos sabemos o que era o Nabão há 30 anos e o que é hoje e o trabalho que foi feito nessa despoluição. Isso permite-nos ter estes recursos hídricos com esta qualidade e usufruir”.
Para João Paulo Catarino, as requalificações das zonas ribeirinhas, e as praias fluviais em particular, são “uma oferta turística diferenciada que valoriza o território, valoriza os valores ambientais e ajuda na atividade económica destes espaços”.
Acrescenta ser “acima de tudo uma dimensão ambiental que devemos valorizar” de um trabalho com três décadas. “A qualidade da água nas torneiras portuguesas hoje é 99% muito boa, há 30 anos era 40% e foi um esforço enorme”, disse admitindo existir ainda “muita coisa para melhorar”.
Recordamos que a Praia Fluvial de Constância foi oficialmente inaugurada a 10 de julho.

Localizada junto à margem esquerda do Rio Zêzere, a Praia fluvial de Constância tem uma área de areal de 3500 m2, permitindo uma ocupação máxima de 350 pessoas.
A Praia fluvial de Constância apresenta uma água com qualidade. A nova infraestrutura possui vários equipamentos de apoio localizados nas suas imediações, designadamente estacionamento, zonas verdes, áreas de lazer, parque de merendas, estabelecimentos de restauração e bebidas, parque de campismo, instalações sanitárias, local com facilidade de acessos a outras infraestruturas.
Cumprindo todos os requisitos respeitantes à qualidade das águas balneares e à assistência a banhistas, a Praia Fluvial de Constância vem assim aumentar a oferta turística de Constância, tanto para quem reside no concelho, como para todos aqueles que elegem o território como destino de lazer.

É um problema que afecta todos nós.
É importante que surjam ideias e se houver a necessidade de construir novas barragens, que assim seja.
Interessa é poupar os recursos hídricos e armazená-los