Em causa a decisão da Comissão de Toponímia, presidida pelo atual presidente da Assembleia Municipal, também de nome António Mendes, mas eleito pelo PS, de atribuir o nome do histórico autarca comunista António Mendes a uma travessa no loteamento do Casal da Igreja, “quando descemos para o cemitério de Santa Margarida”, situa o presidente da Câmara Municipal de Constância dando conta da proposta da Comissão, que segundo Sérgio Oliveira (PS), mereceu a concordância do Comendador.
A CDU, contudo, pela voz de Rui Ferreira, considerou “muito pouco” a Câmara atribuir “uma travessa a uma pessoa que trabalhou a vida inteira” em prol do município de Constância.
O vereador Rui Ferreira, em substituição de Manuel Arsénio, lembrou que o Comendador António Mendes “foi 24 anos presidente da Câmara Municipal e 40 anos autarca” e a sua condecoração, a 13 de fevereiro de 2015, com o grau de Comendador da Ordem de Mérito, numa cerimónia que teve lugar no Palácio de Belém, sendo o único Comendador do concelho com a referida ordem.

Referindo o “empenho”, enquanto autarca, “sem paralelo” de António Mendes, considerou que tendo em conta a sua obra “não é uma travessa que responde à dimensão do trabalho daquela pessoa”, sublinha. Optou, por isso, pela abstenção, e apresentou a seguinte declaração de voto:
“Passados cerca de dez anos após a primeira decisão da Assembleia Municipal sobre uma homenagem ao Ex – Presidente da Câmara e Comendador António Manuel dos Santos Mendes, vem hoje, a esta reunião, tendo por base a proposta da Comissão de Toponímia, a atribuição do seu nome a uma Travessa localizada na urbanização sita na Rua Padre António Esteves em Santa Margarida da Coutada.
Lembro que António Manuel dos Santos Mendes, durante os 40 anos como autarca sendo que 24 deles como Presidente do Município, deixou ao concelho uma vasta obra que dificilmente qualquer outro virá a conseguir, sendo por isso, com toda a justiça, agraciado em 2015 com a Ordem de Mérito pelo então Presidente da República.
Pode afirmar-se que em cada rua de todas as freguesias do concelho, em cada uma das coletividades existentes e ainda em serviços públicos da responsabilidade do governo central a mão e o trabalho de António Mendes continuam presentes.
O abastecimento de água, as redes de esgotos, os arruamentos, a habitação social, a zona industrial, o edifício da Câmara, o Centro de Saúde, a Escola Luís de Camões e o seu ensino secundário, o quartel da GNR, o Parque Ambiental, as Piscinas e o Pavilhão Desportivo e o arranjo das Margens do Tejo (pioneiras na altura ao longo de todo o rio) e do Zêzere são apenas algumas das obras emblemáticas dos seus mandatos.
No plano regional salienta-se o seu contributo na fundação da Associação de Municípios, antecessora da atual CIMT, que teve a sua sede em Constância, a fundação da TAGUS – Associação de Desenvolvimento e a Resitejo.
A nível nacional destaca-se a sua luta na defesa de uma lei de finanças locais não penalizadora dos municípios mais pequenos, sendo um dos principais animadores desse movimento, e a acutilância, empenho e frontalidade com que discutia com todas as entidades governamentais a defesa dos interesses do concelho.
Longas e duras foram as suas batalhas pela construção de uma nova travessia sobre o Tejo que, embora com muitas promessas, não foi conseguida até aos dias de hoje.
Sabemos hoje que a atribuição do seu nome a uma artéria da Freguesia de Santa Margarida terá tido a sua anuência em contacto efetuado, no entanto o seu acordo apenas poderá ter sido positivo devido à sua humildade e desapego por reconhecimentos individuais.
A dimensão da obra realizada que está na origem da condecoração com a Ordem de Mérito, único cidadão do concelho detentor desta honra, não pode agora ser reconhecida por uma ação que em parte menoriza a entrega de uma vida aos interesses coletivos de toda a comunidade concelhia.
A atribuição do nome de António Mendes a uma travessa, inviabilizando futuramente a atribuição do seu nome a uma das ruas da freguesia devido à confusão criada nos endereços, não tem correspondência com a sua obra e com as várias tomadas de posição, por unanimidade, em Assembleia Municipal.
A dimensão do trabalho de António Manuel dos Santos Mendes justifica a urgência da atribuição de nomes de ruas principais, em urbanizações já existentes (ainda sem a presença de moradores a fim de evitar processos burocráticos), em cada uma das freguesias do concelho e não de travessas.
Justifica ainda a realização de uma justa homenagem concelhia, promovida pelo município, que reúna o maior número dos habitantes do concelho bem como entidades e personalidades externas que partilharam e trabalharam ao longo dos anos com António Mendes.
Por muito boas intenções que tenham tido por base esta proposta votar favoravelmente seria a mesma coisa que diminuir a importância que teve António Manuel dos Santos Mendes no desenvolvimento do concelho e reduzir quase à insignificância o seu papel na história do município”.
Em resposta, o presidente da Câmara, o socialista Sérgio Oliveira, deu conta que a “razão de atribuir o nome de António Mendes a uma travessa” deve-se “à necessidade de atribuir um nome à nova rua que nasceu no loteamento do Casal da Igreja” uma vez que “muitos dos loteamentos, quer de iniciativa municipal quer de iniciativa privada, feitos ao longo dos anos no concelho, foram na sua presidência” [de António Mendes] sendo que se “empenhou” no processo para que o loteamento se concretizasse.
Assim, pretendeu “assinalar a ligação do comendador António Mendes ao conjunto de loteamento de nova geração de habitação que nasceu no nosso concelho” cujas obras de urbanização foram concluídas agora, justificou afastando qualquer tentativa de “menorizar” António Mendes.

Ferroviário de profissão, António Manuel dos Santos Mendes (CDU) iniciou a vida autárquica com 29 anos enquanto vogal da Assembleia de Freguesia de Santa Margarida da Coutada. Foi eleito vereador da Câmara Municipal em 1982, tendo feito oposição até 1985, ano em que é eleito presidente da Câmara de Constância, cargo que desempenhou até 2009. Desempenhou o cargo de presidente da Assembleia Municipal de 2009 a 2017.
O atual presidente soclialista lembrou, ainda, que durante os mandatos da CDU, especificamente em 2015, no ano que António Mendes recebeu o grau de Comendador, foi aprovada uma moção em Assembleia Municipal que visava homenagear o ex-autarca com um monumento a erigir num dos equipamentos emblemáticos na altura previsto para 2016, e como reconhecimento e forma de perpetuar a dedicação à causa pública e obra de António Mendes.
“Estamos a fazer tudo para que seja realizada até final de 2023. Nessa homenagem terá o destaque que lhe é devido, nomeadamente no edifício dos Paços do Concelho”. Oito anos passados, e tendo em conta as palavras de Sérgio Oliveira, será agora o cumprimento da decisão.