Uma das formas de colocar as cidades e as regiões no mapa é (ainda) a descoberta de fórmulas que consigam atrair pessoas que se disponham a fazer mexer as respetivas economias locais.
A organização de festivais tem sido uma constante ao longo dos últimos tempos. Com grandes cartazes de artistas, pequenas localidades passam para a ribalta mediática e, logo, passam a receber enchentes de visitantes.
Os eventos organizados em torno de produtos da terra (ou não), como o azeite ou o chocolate, têm tido também sucesso nesta procura de destaque por parte de certas regiões. E esta estratégia nem sequer é nova. Só dois exemplos, por acaso do norte do país: há mais de 20 anos que Vila do Conde tirou proveito de ter organizado uma das primeiras grandes feiras de artesanato nacional e internacional, e que Vilar de Perdizes se tornou conhecida quando um padre decidiu fazer um congresso sobre coisas do oculto.
Quando as fórmulas parecem esgotadas, aparece sempre alguém a tentar melhorá-las, resistindo à ideia do esgotamento. Todos os autarcas devem sonhar com uma grande ideia para colocar a sua terra no mapa dos desejos do resto do país.
O que vai atrair visitantes? Que imagem de marca se pode explorar? O que diferencia a minha região das outras? O que temos para oferecer? Quando já quase não há respostas para estas perguntas, alguém, de uma cidade que está mais do que afirmada em termos de turismo, surge com uma ideia que tem tanto de simples como de atual e de inovadora: o que nos faz feliz?
Olhar para a felicidade sob diferentes perspetivas foi o desafio que o Porto lançou a uma série de especialistas, desde físicos até artistas, passando por artistas de filmes eróticos. O Porto quer que esta iniciativa seja vista no âmbito do conceito dos festivais. Só que não dá música. Ou melhor, até pode dar, porque o tema está a ser abordado não só em formato de palestra e de workshops. Também há intervenções artísticas e criativas. E esta é uma ideia simples, que potencialmente interessa a todos. Porque, em última instância, mais ou menos conscientemente, é isto que todos procuramos.
Num momento em que falta sobretudo ‘parar para pensar’, em que tanta gente faz tanta coisa de forma irrefletida, se calhar interessa mesmo ir ao básico: o que nos faz verdadeiramente felizes e o que fazemos para lá chegar? Esta opção por criar eventos que levem as pessoas a pensar, muito mais do que provar ou experimentar (que são coisas pontuais), pode ser um caminho interessante. Não será certamente fácil em determinados meios, em que as pessoas possam ter mais dificuldade em refletir em voz alta. Mas, ouvindo outros, com experiências concretas, abordando questões essenciais das mais variadas formas, talvez se chegue lá. Talvez se atraia gente, talvez se criem hábitos.
Claro que o sucesso de um evento deste tipo depende de muitos fatores, individualmente ou conjugados entre si. Também é evidente que a questão da escala também é importante. É mais fácil, por uma questão de proporção, encher uma sala de espetáculos numa grande cidade do litoral do que numa pequena cidade do interior. Mas não deixa de ser interessante que uma cidade como o Porto, que é já um atrativo sem ter que se esforçar muito, continue a pensar em marcar as pessoas pela diferença. Marca os seus habitantes, marca os que lá quiserem ir, movidos pela curiosidade, e marca os que seguirem o evento através dos Média. Se funcionar, por que não replicar noutros sítio? As boas ideias podem e devem ser adotadas por outros, melhoradas e adaptadas.
Nota final: Gostaria muito de ter dedicado esta crónica ao Engenheiro José Bioucas, que, infelizmente, não tive o privilégio de conhecer. Por isso não o fiz. Conheço pessoas que o conheceram muito bem e que dão claros testemunhos de tudo o que fez pelas pessoas do concelho de Abrantes. Ouço essas referências e imagino que tenha andado toda a sua vida à procura da felicidade, sobretudo para os outros. É óbvio que conseguiu. Porque melhorar as condições de vida das pessoas é proporcionar-lhes a possibilidade de estarem livres e soltas para atingirem a felicidade, seja em que nível, medida ou forma for.