O especialista em clima Filipe Duarte Santos defendeu hoje a definição de um plano de adaptação às alterações climáticas para o Tejo internacional, para evitar situações de “poluição extremamente acentuada”, devido à chuva reduzida, como aconteceu este ano.
“Há um transvase feito em Espanha, com um máximo de 600 hectómetros cúbicos desde o rio Tejo até à zona de Segura, em Espanha, na região de Múrcia e Alicante, o que significa que, quando a precipitação é escassa, como este ano hidrológico, que acabou em setembro, o caudal do Tejo que veio para Portugal baixou imenso a partir de março”, explicou o professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Embora em agosto o caudal tenha subido um pouco, o nível baixo “provocou uma poluição extremamente acentuada no nosso Tejo, o que muito provavelmente vai continuar a acontecer no futuro, se não forem tomadas medidas no sentido de haver um plano de adaptação às alterações climáticas para o rio Tejo, para toda a bacia hidrográfica do rio internacional”, afirmou.
Filipe Duarte Santos falava à agência Lusa a propósito da conferência das partes das Nações Unidas para as alterações climáticas, que se realiza a partir de 30 de novembro, com o objetivo de chegar a um acordo visando a redução da emissão dos gases com efeito de estufa, principal responsável pelas mudanças do clima.
São vários os setores que deverão ser afetados pelas alterações climáticas em Portugal, como em outros países, nomeadamente no sul da Europa, devido ao esperado aumento da frequência de fenómenos extremos, de ondas de calor a elevada precipitação concentrada em pouco tempo, levando a mais incêndios florestais, a inundações ou cheias.
O especialista referiu-se a exemplos, como os fogos florestais e as suas implicações na floresta plantada, intensiva, utilizada para produção de pasta de papel, área em que “as empresas, como a Portucel, estão preocupadas com o aumento do risco de incêndios”, decorrente de temperaturas mais altas e de uma diminuição da precipitação média anual.
Por outro lado, Portugal tem “uma produção vitivinícola forte, com vinhos de grande qualidade, e pode perguntar-se se, num clima diferente, a qualidade se mantém, [ou] se é necessário adaptar a vinha a situações climáticas diferentes”, apontou, dizendo que as grandes empresas do setor “estão atentas” e algumas desenvolveram estudo sobre o assunto, mas a informação ainda é limitada.
Na agricultura, tem-se registado “um grande sucesso” com o aumento da área irrigada, que é mais produtiva, porém, salientou, “o consumo de água é maior e é preciso ver qual é a origem dessa água e em que medida num clima futuro diferente haverá a mesma disponibilidade”.