Michel Henrotay está de volta ao Concelho de Mação. Trouxe consigo uma selecção de cem fotografias, retiradas de um arquivo de 30 000 fotos de flores, insectos, aves, fósseis etc… do território de Mação. Foto: Juca Perry

Define-se “Ciência Cidadã” como o trabalho científico praticado por membros de um público geral, muitas vezes em colaboração com ou sob supervisão de cientistas profissionais ou instituições científicas.

Loree Griffin Burns, autora do livro “Faça parte da descoberta científica a partir do seu quintal” apresenta uma definição de ciência cidadã muito mais abrangente e apelativa. Para Loree, ciência cidadã “é o estudo do nosso mundo pelas pessoas que nele vivem!”

Há na realidade áreas de estudo onde os cidadãos podem ser particularmente úteis aos cientistas, como seja a biologia, observação de aves, rãs, insectos, astronomia, alterações climáticas, ambiente, etc…Poderemos perguntar “o que ganham os cientistas ao usar os cidadãos-cientistas?” Ganham muito! Ganham olhos e ouvidos extra, numa ampla gama de localidades geográficas. E para Loree, as crianças podem revelar-se excelentes cidadãos-cientistas uma vez que são muito observadoras e sabem tudo o que se passa no quintal!

Há imensos projectos de Ciência Cidadã, que duram anos e que podem envolver pessoas de todos os cantos do mundo. A internet e as numerosas aplicações desenvolvidas para recolher fotos, referências geográficas, datas, etc…permitem hoje recolher informação como nunca antes foi possível…a partir do interesse, participação e voluntarismo de não-especialistas.

Recentemente Portugal recebeu a visita de um fotógrafo – Joel Sartore, que participa no projecto Photo Ark – A nova Arca de Noé, da National Geographic. Neste projecto pretende-se fotografar todos os animais que vivem em cativeiro para “criar um arquivo inédito da biodiversidade global e para inspirar o público a dedicar-se à conservação das criaturas mais vulneráveis no Planeta”.

A reportagem foi amplamente divulgada nas televisões e criou boas expectativas em quem viu as fotos dos animais. Recordo-me de o ver a fotografar uma mosca, mas em estúdio! Ou seja, de dentro de uma estrutura (caixa) de tela reflectora da luz, Joel tirou a mosca (rara) inanimada com a ajuda de dois dedos para mostrar o que estava a fotografar e como o fazia. Confesso que fiquei decepcionada. E o meu pensamento foi de imediato para o trabalho fotográfico de Michel Henrotay, sobre o qual escrevi em Julho passado.

Michel Henrotay está de volta ao Concelho de Mação. Trouxe consigo uma selecção de cem fotografias, retiradas de um arquivo de 30 000 (sim, leu bem…trinta mil) fotos de flores, insectos, aves, fósseis etc… do território de Mação.

A inauguração aconteceu no sábado. Michel Henrotay justificou emocionado a sua enorme vontade de expor os trabalhos: quis mostrar-nos a todos que mesmo após os incêndios, a natureza renasce, a biodiversidade do território ressurge, mas é preciso sensibilizar todos para a importância da preservação e proteção. Duas horas de explicação pelas suas escolhas, de conversa científica e curiosa, de risos trocados entre o autor e o seu público, de gestos debruçados sobre as telas fotográficas ampliadas ao limite. Uma genuína visita guiada, que acabou por ser curta para quem gosta do tema.

Os trabalhos de Michel Henrotay estão expostos em Mação até ao final do presente mês de junho, na Galeria do Centro Cultural Elvino Pereira. Foto: Juca Perry

Esta exposição, também científica, mostra apenas uma ínfima parte do trabalho de Ciência Cidadã que o Michel faz no Concelho de Mação. Mostra como ele aos poucos nos envolve nestes projectos de defesa do património e mostra-nos como se pode ter outro olhar e outro cuidado pelo nosso quintal. Não perca…”os tesouros ” estarão “naturalmente” no nosso “quintal” até ao fim de Junho!

Doutorada em Ciências Farmacêuticas pela Universidade de Lisboa, onde nasceu e é professora universitária, aproximou-se e adoptou a vivência da região centro por razões familiares. É casada com José Manuel Saldanha Rocha (que foi presidente da Câmara de Mação) e mãe de três filhos: Manuel Maria, Guilherme e Margarida. Naturalmente conversadora, iniciou recentemente um novo projecto: o gosto pela comunicação de ciência para um público que partilhe da mesma curiosidade. Numa região de Portugal que tem muito para dar, temas não faltam para serem abordados em ambiente de partilha, de memória e com um olhar no futuro. Uma envolvência inquieta pela nossa identidade.

Nota: Por decisão pessoal, a autora não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico

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