Eduardo Jorge mostrou ao Presidente da República as novas instalações. Foto: mediotejo.net

O novo restaurante do Centro de Apoio Social da Carregueira, no concelho da Chamusca, que começou a funcionar na segunda feira, dia 1 de junho, recebeu a visita do Presidente da República esta quinta-feira, dia 4 de junho. O convite foi dirigido pelo ativista Eduardo Jorge, técnico superior da instituição e responsável pelo restaurante, conhecido mediaticamente pela sua luta em defesa do direito das pessoas com deficiência a uma vida independente.

Há cerca de um ano, Marcelo Rebelo de Sousa visitou-o na sua casa em Concavada, Abrantes, onde vive graças ao apoio de três cuidadoras, depois de ter estado algum tempo institucionalizado.

Eduardo Jorge, que o Presidente da República apelidou de “ativista”, antes de ficar paraplégico há 28 anos na sequência de um acidente de viação, já trabalhava na área da restauração. E foi esta experiência que levou o Centro de Apoio Social da Carregueira a lançar o desafio que Eduardo aceitou com entusiasmo. “Ele está feliz da vida e nós estamos agradecidos”, disse o presidente da instituição, Horácio Ruivo, dando conta que o restaurante criou seis novos postos de trabalho e tem uma capacidade para 120 pessoas (40 em fase da covid-19).

Marcelo almoçou no restaurante de uma IPSS da Chamusca dirigido por ativista. Foto: mediotejo,net

O Presidente da República respondeu ao convite que lhe foi feito e, com essa presença, quis “agradecer e apoiar o trabalho de todas as instituições de solidariedade social” que existem no país.

Lembrando o trabalho que milhares de funcionários e de voluntários das Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) realizam, sobretudo junto das populações mais vulneráveis, em “tempos dramáticos” da pandemia da covid-19, Marcelo Rebelo de Sousa realçou a iniciativa do Centro de Apoio Social da Carregueira.

 

Restaurante, “uma grande aposta”

Com um prejuízo mensal “significativo e que vai acumulando, problema que acontece um pouco por todas as IPSS do país”, como referiu o presidente da instituição, o restaurante “foi uma grande aposta” como forma de angariar verbas para fazer face aos encargos mensais que são superiores do que as quotizações, as mensalidades, os subsídios e as comparticipações da segurança social.

Para mitigar despesas, apostou-se na instalação de painéis solares que reduziu “substancialmente” a fatura da eletricidade. Nos terrenos férteis anexos às instalações existe uma extensa horta que garante uma grande parte dos produtos consumidos no refeitório.

O mais recente investimento do CASC foi a construção do lar de idosos, para a qual a instituição estava a contar com uma verba resultante da contrapartida pela instalação de uma empresa no EcoParquee que seria transferida pela Câmara. Horácio Ruivo explica que tiveram de recorrer a créditos bancários para acabar a obra de modo a não perderem o apoio da Segurança Social.

O Presidente da República respondeu hoje ao convite que lhe foi feito pelo ativista Eduardo Jorge e almoçou no restaurante que este tetraplégico que lutou pelo direito das pessoas com deficiência a uma vida independente dirige na Chamusca. Foto: mediotejo.net

Tanto o Presidente do CASC como o secretário, fazem críticas à Câmara por esta não ter cumprido os compromissos assumidos e de ter ficado com 1 milhão e 200 mil euros, verba que supostamente seria destinada à IPSS. “Até agora não recebemos um tostão”, lamentam.

Se a Câmara considera que já comparticipou aquilo que lhe competia, os dirigentes falam em “visões completamente opostas”, “situações de desconforto” e “desentendimentos” com a autarquia que têm procurado sanar pacificamente.

Outra “desatenção” que apontam à autarquia tem a ver com um protocolo assinado há cerca de mês e meio e que representava a transferência de 8.500 euros, mas que ainda não entrou nos cofres da instituição.

Com cerca de 70 funcionários, várias carrinhas e toda a logística de uma instituição do género, o Centro tem custos “elevados para a sua capacidade financeira”, disse Horácio Ruivo aos jornalistas, salientando a insuficiência das verbas pagas pela Segurança Social e pelos utentes.

Momento do descerramento da placa que assinala a presença de Marcelo Rebelo de Sousa. Foto: mediotejo.net

A acrescer, a instituição tem vindo a suportar os encargos (superiores a 700 mil euros) do empréstimo contraído para terminar a obra do novo edifício Estrutura Residencial para Idosos (ERPI) que acolhe mais de 50 idosos. Apoia ainda 40 idosos no Centro de Dia e mais 40 pessoas no Apoio Domiciliário.

A localização do novo restaurante “O Algaz”, junto à EN118, pode ajudar a atrair clientela. Pelo menos é essa a expectativa dos dirigentes e do responsável pelo novo espaço. Por oito euros é possível degustar uma refeição completa. Há ainda serviço de snack-bar e take-away.

O novo restaurante O Algaz. Foto: mediotejo.net

“Isto é do melhor que há”

O mediotejo.net falou com alguns utentes e clientes sobre o novo restaurante e o Centro de Apoio Social.

O casal António Fragoso e Eugénia Mendes, vivem na Carregueira e almoçam no novo restaurante praticamente todos os dias desde que abriu porque “a comida é boa” e “é barato”. O homem recorda os primeiros tempos da instituição que ajudou a pôr de pé e reconhece: “foi das melhores coisas que fizeram cá até hoje”.

Sebastião Santos, 82 anos, e Manuel Jerónimo, 85 anos, são vizinhos e recebem apoio domiciliário da instituição. No dia da inauguração do restaurante fizeram questão de estar presentes sobretudo para verem o Presidente da República. “É do melhor que há no Ribatejo”, elogia o primeiro referindo-se às instalações do centro, opinião corroborada pelo segundo: “é bom e faz muita falta. Se não fosse isto aqui o que seria das pessoas de idade”.

Na visita inaugural participaram o Diretor Distrital da Segurança Social, Renato Bento, o Presidente da Câmara, Paulo Queimado, o Presidente da Junta da Carregueira, Joel Marques, entre outros dirigentes e autarcas.

José Gaio

Ganhou o “bichinho” do jornalismo quando, no início dos anos 80, começou a trabalhar como compositor numa tipografia em Tomar. Caractere a caractere, manualmente ou na velha Linotype, alinhavava palavras que davam corpo a jornais e livros. Desde então e em vários projetos esteve sempre ligado ao jornalismo, paixão que lhe corre nas veias.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *