“Reabilitamos casas, reconstruímos vidas!” é o lema da associação Just a Change (Apenas uma mudança) que, através de um protocolo com a Câmara da Chamusca, está a reabilitar casas de famílias carenciadas no concelho.
Para mostrar como o processo funciona e o trabalho no terreno, a autarquia chamusquense organizou uma sessão sobre o projeto e uma visita a algumas habitações intervencionadas.
Nesta fase, o “Camp In”, programas quinzenais de intervenção nas habitações com a ajuda de voluntários, teve início no dia 14 de agosto e prolonga-se até ao dia 28, contempla a intervenção de um total de três habitações, situadas nas freguesias de Vale de Cavalos e Pinheiro Grande.
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O mediotejo.net acompanhou a visita às obras de reabilitação de uma casa que ardeu por completo em setembro em 2020 na localidade de Pinheiro Grande, deixando duas pessoas, pai e filho, desalojados. Vivem desde então na chamada “casa do médico”, propriedade da Câmara, mas o seu maior desejo era regressar à sua habitação. O sonho vai concretizar-se em breve graças ao projeto Just a Change, ao trabalho de dezenas de voluntários e à parceria com a câmara.
A acompanhar as obras com um sorriso de felicidade estava Ana Isabel, familiar dos proprietários da casa. “Eles (pai e filho) precisam… Com o incêndio ficaram sem nada. Espero que eles agora fiquem bem os dois”, disse, quando questionada sobre as obras de recuperação, não se esquecendo de agradecer à câmara e aos autarcas.
Para o Presidente da Câmara, o projeto vem dar resposta a uma necessidade que vinham sentindo, que é a de algumas famílias carenciadas terem uma habitação digna e num contexto em que o Município não consegue fazer as obras por meios próprios, por não haver enquadramento legal para a intervenção em imóveis particulares.
Após o processo de sinalização das famílias beneficiárias, em que se procurou que fosse intervencionada uma habitação por freguesia, seguem-se obras como reparação de telhados e casas de banho sem condições, substituição de cozinhas ou de instalações elétricas, etc.
“Com os voluntários e alguns técnicos de construção civil consegue-se dar uma resposta que era tão necessária”, realça o Paulo Queimado.
O autarca realça a importância da assinatura destes protocolos “que permitem fazer intervenções em habitações de famílias mais desfavorecidas às quais os municípios não conseguem responder de outra forma, seja pelos procedimentos administrativos ou por outras razões burocráticas, uma vez que estamos a falar de propriedade privada”.
Paulo Queimado, referiu ainda que “com esta parceria, é possível resolver problemas concretos dos nossos concidadãos, garantindo-lhes as condições mínimas de habitabilidade”, acrescentando que os serviços da autarquia acompanham todos os projetos no sentido de garantir a legalidade de todas as intervenções.
Questionado sobre o balanço da iniciativa até ao momento, responde de forma assertiva: “Tem sido extraordinário. Há casos de pessoas com graves carências económicas e se não fosse por esta via não conseguiriam ter as suas casas reabilitadas”.
Na sessão que antecedeu a visita, a Vice-Presidente da Câmara explicou como funciona o processo de sinalização para escolherem os imóveis a intervir, tendo aqui as juntas de freguesia e as IPSS um papel importante dada a sua proximidade com as populações.
Cláudia Moreira deu o exemplo de uma mulher doente oncológica cuja casa tem problemas de humidade que agravam o seu estado de saúde. As obras através deste projeto vão permitir minimizar o problema e garantir melhor qualidade de vida à moradora.
A autarca elogiou o “trabalho meritório, excelente e impressionante” que a equipa do Just a Change faz. Além disso realça a dinâmica comunitária que se gera em que os vizinhos apoiam os voluntários de forma solidária.
Simão Oom, diretor executivo da Associação, explicou ao médiotejo.net que a Just a Change é “uma associação que constrói casas de pessoas carenciadas”.
“Acreditamos que, ao reabilitar as casas de pessoas completamente excluídas da sociedade, estamos de alguma forma a reconstruir a sua vida”, proclama o responsável.
Durante 15 dias decorre na Chamusca mais um “Camp In” em que vão ser reabilitadas oito casas num total de 65 previstas para este ano, adiantou.
Simão Oom destaca o facto de, todos os anos, mais de mil voluntários juntarem-se à causa, vindos de vários pontos do país e até do estrangeiro, “para pôr a mão na massa não só para fazer o antes e depois das obras, mas também um antes e depois na vida das pessoas”.
Na sua opinião, o cliché segundo o qual “quem ajuda é que está a ser ajudado” acaba por ser verdade. Não é por acaso que há voluntários que participam e repetem a experiência, marcante não só de quem é ajudado, mas também para quem ajuda.
“O projeto demora o seu tempo a dar frutos. É preciso tempo para a mudança, mas o impacto é muito grande e os voluntários são muito bem recebidos”, destaca Simão Oom.
O mediotejo.net falou também com alguns voluntários, entre os quais se encontram estudantes universitários, alguns pertencentes a movimentos católicos.
Mariana Pimpão, de Sintra, já há algum tempo que manifestava a vontade de fazer voluntariado, procurou e tendo em conta que fica chocada quando vê pessoas a viverem em más condições, decidiu participar no Camp In de 15 dias na Chamusca.
“Pensei que podia ajudar. Sinto que estou a contribuir para o bem comum e sinto-me gratificada pelo que estou a fazer”, realça a jovem estudante. Refere o bom ambiente que se vive nas equipas da Just a Change e a marca que deixam na vida das pessoas.
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Também Miguel Cunha, de Lisboa, salienta o espírito de equipa. “Temos de estar todos unidos para enfrentar os problemas que vão surgindo, com muita vontade de mudar a vida dos outros. É muito bom ver o impacto que tem nas pessoas”, destaca.
Na sua opinião “são 15 dias bem investidos. É duro das 7 da manhã às 6 da tarde, mas é uma experiência muito boa”.
A associação Just a Change aproveitou a ocasião para apresentar o projeto às autarquias do distrito de Santarém, presentes na visita, no sentido de dar a conhecer as vantagens deste género de protocolos para as autarquias e principalmente para as famílias beneficiadas, que vêm as suas casas reabilitadas e as suas vidas reconstruídas.
A ação contou com a presença de Paulo Queimado, Cláudia Moreira, Rui Ferreira e Gisela Matias, respetivamente presidente, vice-presidente e vereadores da Câmara Municipal da Chamusca, de Simão Oom e Guilherme Fogaça, respetivamente diretor executivo e diretor de operações da Just a Change, assim como de António Camilo, presidente da Câmara Municipal da Golegã, Helena Roxo, vice-presidente da Câmara Municipal de Constância, António Maximiano, vereador da Câmara Municipal de Almeirim e Zélia Espadinha, chefe de divisão, do gabinete da Ação Social da Câmara Municipal de Torres Novas.
O plano de intervenção no concelho da Chamusca tem a duração total de um mês, está a ser desenvolvido por cerca de 30 voluntários e contempla a reconstrução de oito habitações do território chamusquense, num investimento total de 90.486,29 euros. O plano de ação está dividido em dois campus distintos, o primeiro já se encontra concluído, tendo decorrido entre os dias 3 e 17 de julho, nas freguesias do Chouto, Semideiro, Gaviãozinho e Chamusca e o segundo encontra-se a decorrer atualmente nas restantes freguesias.
A autarquia explica em nota de imprensa que os beneficiários do projeto, identificados pelo Município em articulação com as Juntas de Freguesia e as Instituições Locais, que direta ou indiretamente trabalham com os destinatários do programa, são famílias carenciadas do Concelho, que vivem em condições de precariedade habitacional.
Na seleção dos agregados familiares a apoiar tiveram prioridade os que se encontravam social e economicamente mais desfavorecidos, e em condições de habitação mais degradadas. Dos trabalhos de intervenção destaca-se a substituição ou reconstrução de telhados, reparação de pavimentos, reparação de paredes interiores e exteriores e pintura integral das mesmas, reparação do circuito elétrico, revisão da canalização e do sistema de aquecimento, substituição de portas, reparação de fissuras estruturais nas paredes, ligação à rede de água e eletricidade, ligação aos esgotos ou recolha de entulho.