Buzinão na Chamusca contra "falta de vontade política" para construção da nova ponte e conclusão do IC3. Foto: mediotejo.net

Ao final da tarde de sexta-feira, 3 de março, soaram buzinas e gritos de protesto contra a “falta de vontade política” do Governo em avançar com a construção de uma nova ponte na Chamusca e com a conclusão do IC3. Obras há muito prometidas, mas que continuam sem sair da gaveta.

A concentração organizada pelo Movimento dos Utentes dos Serviços Públicos (MUSP) do distrito de Santarém, junto à Ponte Isidro dos Reis, resulta de um “acumular de insatisfações” relativamente aos problemas que acontecem numa ponte “muito antiga”, datada de 1909, onde dois camiões não podem cruzar-se, o “que já não corresponde, do ponto de vista das necessidades do tráfego na região àquilo que é preciso”, disse Rui Raposo, do MUSP, que considera não haver outra justificação para não se avançar com as duas obras, senão a “falta de vontade política”.

Na ponte da Chamusca passam diariamente cerca de mil camiões em direção ao Ecoparque do Relvão, o único no país que recebe resíduos industriais perigosos. A Câmara Municipal aceitou a instalação dessa infraestrutura com a garantia que, em contrapartida, seria concluído o troço do IC3 e construída uma nova ponte. Passaram entretanto 15 anos.

Presidente da Câmara da Chamusca, Paulo Queimado, juntou-se ao buzinão, tendo assinado a petição junto de Rui Raposo. Foto: mediotejo.net

“Hoje em dia não há impedimentos de ordem técnica. A engenharia faz tudo. Conhecemos obras com condições bem mais rigorosas, que foram executadas e são perfeitamente viáveis. Creio que esse não é o problema. Aqui, em primeiro lugar, há de facto uma falta de vontade política para resolver este problema. e isso é evidente pelos anos que têm passado sem que a ponte tenha sido construída”, afirmou Rui Raposo ao mediotejo.net.

Durante a concentração, circulou uma petição dirigida ao presidente da Assembleia da República, “a exigir que sejam tomadas medidas”, dentro das competências do Parlamento, para a resolução deste problema, com a construção de uma nova ponte e a conclusão do IC3, “para melhorar a segurança e mobilidade das populações e as suas atividades”.

“É bom lembrar que por aquela ponte passam inúmeros automóveis ligeiros mas também pesados, que nalguns casos transportam matérias perigosas”, nomeadamente para o Ecoparque do Relvão, além de equipamentos agrícolas e militares, tendo em conta a proximidade de instalações militares na região, afirmou o representante do MUSP.

Buzinão organizado pelo Movimento de Utentes dos Serviços Públicos de Santarém para exigir nova Ponte para a Chamusca e conclusão do IC3. Foto: mediotejo.net

O “acumular da insatisfação das populações vizinhas à ponte, nomeadamente da Chamusca, com as inúmeras interrupções na circulação, “em resultado de conflitos tráfego e de uma ausência de regulação permanente”, levou a estrutura distrital do MUSP “a considerar a necessidade de uma expressão pública desta insatisfação”, acrescentou Rui Raposo.

ÁUDIO | Rui Raposo, MUSP

O som incessante das buzinas dos manifestantes e dos automobilistas que se juntavam ao protesto apitando as viaturas à passagem refletiam a insatisfação face a um problema que parece não ter fim à vista.

GALERIA

Paulo Queimado, presidente da Câmara Municipal da Chamusca, associou-se à manifestação e lembrou que esta é uma luta com mais de 50 anos e sem que sejam cumpridas as promessas que foram feitas ao Município aquando da instalação do Eco Parque do Relvão no concelho.

“Na altura, houve uma promessa do Governo de então que se comprometeu a fazer o troço que faltava em Almeirim, fazendo a ligação até Coimbra. E aquilo a que nós assistimos passados todos estes anos é que realmente a ligação entre Coimbra e Vila Nova da Barquinha foi cumprida e a questão de Almeirim está resolvida. O troço entre Almeirim e Vila Nova da Barquinha ficou por cumprir, ficando aqui o concelho da Chamusca no enclave”, notou o autarca.

Paulo Queimado, presidente da Câmara Municipal da Chamusca juntou-se ao protesto e assinou a Petição que deverá ser entregue na Assembleia da República nos próximos meses , a reivindicar pela construção da nova Ponte e pela conclusão do IC3. Foto: mediotejo.net
ÁUDIO | Paulo Queimado, presidente da Câmara Municipal da Chamusca

Paulo Queimado garante que tem acompanhado o processo, questionando e fazendo pressão junto do Governo, direta ou indiretamente. Sobre o assunto, a mais recente resposta que obteve foi através das comunidades intermunicipais do Médio Tejo (CIMT) e da Lezíria do Tejo (CILT).

ÁUDIO | Paulo Queimado, presidente da Câmara Municipal da Chamusca

“As Infraestruturas de Portugal estão a fazer um estudo para uma localização alternativa da ponte”, adiantou Paulo Queimado, explicando que a solução poderia passar por construir a nova travessia a sul da Ponte Isidro dos Reis, numa zona onde a travessia do Tejo é bastante larga, o que permitiria a construção de “um viaduto muito grande a atravessar os campos da Golegã”.

No entanto, esta alternativa não é consensual: “O PDM da Golegã está em fase de revisão e em consulta pública houve muita gente a manifestar-se contra a passagem do viaduto por cima dos campos da Golegã. Portanto, estamos aqui num impasse”, notou o autarca.

Na Chamusca houve buzinão a reivindicar pela construção da nova Ponte e pela conclusão do IC3. Foto: mediotejo.net

O autarca considera que “este assunto tem de ser resolvido o mais rapidamente possível”. Por isso não teve dúvidas no momento de se juntar ao Buzinão do MUSP.

“Somos dos poucos concelhos que não tem uma autoestrada ou uma via rápida no seu território. E, portanto, não conseguimos ser competitivos”, lamentou.

ÁUDIO | Paulo Queimado, presidente da Câmara Municipal da Chamusca
Gisela Matias, vereadora da CMC (CDU) Foto: mediotejo.net

Quem também esteve presente no protesto foi Gisela Matias, vereadora eleita pela CDU na Câmara Municipal da Chamusca, que evocou a “luta justa de há muito tempo” da CDU e do PCP pelo “bem-estar das populações, das empresas, do concelho da Chamusca e do distrito de Santarém”, sublinhando que “este é um problema que está no concelho da Chamusca”, não deixando der ser “um problema estrutural de todo o distrito”, que afeta “centenas e centenas de trabalhadores e dezenas e dezenas de empresas”.

“Nós temos uma ponte com problemas estruturais, situação que já foi apresentada na Assembleia da República pela bancada do PCP. Para além disso, tem problemas do piso, tem problemas de iluminação e tem problemas, sobretudo, de circulação. Por exemplo, em dias de nevoeiro, é impensável passar aqui na manhã, é impensável ir para o trabalho sem chegar atrasado”, afirmou Gisela Matias, reforçando que “esta é uma reivindicação de há muitos anos, promessas atrás de promessas, que não têm sido cumpridas”.

ÁUDIO | Gisela Matias, Vereadora da Câmara Municipal da Chamusca (CDU)
Ponte da Chamusca. Fotografia: mediotejo.net

No final da concentração, os representantes do MUSP do distrito de Santarém deixaram a convicção de que esta luta irá continuar com novas ações a serem anunciadas a curto prazo, incitando ainda à subscrição do abaixo-assinado dirigido ao presidente da Assembleia da República, que estará disponível em vários serviços públicos e espaços comerciais da região.

Carla Paixão

Natural de Torres Novas, licenciada em jornalismo, apaixonada pelas palavras e pela escrita, encontrou na profissão que abraçou mais do que um ofício, uma forma de estar na vida, um estado de espírito e uma missão. Gosta de ouvir e de contar histórias e cumpre-se sempre que as linhas que escreve contribuem para dar voz a quem não a tem. Por natureza, gosta de fazer perguntas e de questionar certezas absolutas. Quanto ao projeto mais importante da sua vida, não tem dúvidas, são os dois filhos, a quem espera deixar como legado os valores da verdade, da justiça e da liberdade.

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *