Nesta quinta feira de Ascensão viveram-se momentos de adrenalina e emoção na Chamusca com a tradicional entrada de toiros na principal artéria da vila que se autodenomina “o coração do Ribatejo”.
Os termómetros marcavam cerca de 30 graus e já passavam 90 minutos da hora anunciada quando chegou o momento ansiado por milhares de visitantes que neste dia da espiga rumam à Chamusca para ver um espetáculo genuíno e emocionante. “São as festas de S. Firmino à nossa maneira”, como refere o ex-Presidente da Câmara, Sérgio Carrinho.
Sendo feriado, o dia é especial na Chamusca até porque marca o ponto alto da Semana da Ascensão. São 10 horas e nas ruas o trânsito flui com normalidade, apesar de algumas já terem grades de proteção.
Aqui e ali vê-se grupos de pessoas, sentadas ou de pé, a preparar-se para o que aí vem. O sino da igreja toca, é a hora da bênção do Dons da Terra e dos Animais na igreja matriz.
Os visitantes vão chegando e escolhem as melhores posições para ver a entrada dos toiros com dois critérios a prevalecer: a segurança e o melhor ângulo de visão. Importa proteger de eventuais investidas dos toiros e ao mesmo tempo usufruir do espetáculo.
A noite anterior parece ter sido longa. Enquanto alguns funcionários da Autarquia recolhem o lixo, há homens de copo de cerveja na mão e óculos escuros, num passo pouco seguro.
Ao longo da rua direita de S. Pedro, assim se chama este troço que faz parte da EN 118, há quem asse bifanas, venda cerveja, chapéus ou flores.
Vão chegando tratores e carrinhas que se posicionam estrategicamente ao longo da via. Até à passagem dos toiros, essas viaturas apinham-se de gente para verem o espetáculo num local mais alto e com mais segurança.
Há casas que estão fechadas ao longo do ano mas que neste dia abrem portas e janelas para apreciar a tradição, relata-nos um morador.
Em contagem decrescente, passam campinos com cabrestos para norte. O trânsito complica-se sobretudo com os camiões. Pelo meio, a animação na rua é feita por três grupos de música substituindo a música popular que saía dos altifalantes.
Procuramos um local alto e minimamente protegido. A escadaria da igreja de S. Pedro, a meio do percurso talvez seja uma boa opção. Um popular garante-nos que ali estamos em segurança: “é muito raro eles saírem fora da manada. Eles passam aqui a 100 à hora”
O tempo vai passando e a hora anunciada, 12 horas, já lá vai. Populares referem que os toiros só saem depois de passar o Expresso que vem de Santarém, a confirmar a necessidade de novas acessibilidades na vila.
O “speaker” de serviço vai dando informações e lançando alertas para que não se aproximem dos toiros e que protejam as crianças. Avisa também que há um toiro amarelo que se confunde com os cabrestos. Há que ter cuidado.
Cada vez mais pessoas enchem as laterais da rua. Passa um grupo de motards que é aplaudido.
“Estou em Ascensão” é a frase que se lê nos chapéus, nas t-shirts e em fitas na cabeça e ao pescoço.
A expectativa cresce à medida que o tempo avança. Já passa das 13 horas e de toiros nem sinal. “Não percebo porque é que marcam isto para o meio dia”, desabafa uma espectadora a tapar o sol com a mala.
A passagem do cortejo para sul, com charretes (uma das quais com o Presidente e a Vice-Presidente da Câmara), campinos e cabrestos é sinal de que a entrada de toiros vai acontecer dentro de minutos.
Para que tal aconteça é preciso que não haja trânsito nem cavaleiros na rua. Mas é exatamente a presença de um cavaleiro na rua que faz atrasar o início do evento. Sabe-se que o tal Expresso de Santarém já não vai passar.
“Está tudo em ordem?” pergunta o “speaker” quase perto das 13.30 horas. Rebenta um foguete e a multidão agita-se porque está prestes a chegar aquele momento especial da Semana da Ascensão. A adrenalina sobe e há menos barulho.
“Aí está… os toiros estão na rua”, anuncia-se em voz alta e empolgada. Agita-se a multidão. Ao fundo da rua ouve-se a sirene do carro da GNR que passa por entre a multidão a abrir caminho.
A uma velocidade vertiginosa passa um primeiro grupo de campinos com dois touros rodeados por cabrestos. Um pouco mais atrás vêm mais dois toiros com a mesma guarnição. São dois quilómetros percorridos em cerca de dois minutos. Entre o público, o desafio para os mais destemidos é tentar tocar nos toiros ou simular o toureio a pé.
Este ano não houve acidentes, tudo correu dentro da normalidade, chegando à praça de touros cavaleiros e animais sãos e salvos. Cumpriu-se a tradição.