Voltei ao Cerro. E encontrei José Gonçalves Marques, de 81 anos, e a sua esposa, Ilda Jesus Marques Carpinteiro, 68 anos, à varanda de sua casa. Há três anos, quando passei por lá, tinha-o fotografado à entrada da aldeia, de volta do gado.

José e Ilda são dois dos nove habitantes de Cerro do Outeiro, uma aldeia da freguesia da Aboboreira, no concelho de Mação. Têm quatro filhos e é raro o fim de semana que não têm, pelo menos, um deles e a respetiva família lá em casa.

Fui subindo as ruas desertas. Aqui e ali, os restos das paredes das casas que ficaram de várias vidas que ali outrora teimavam em quebrar os silêncios.

Ia à procura do Augusto, de 45 anos. Encontrei-o ali em 2012, estava ele a contemplar a paisagem e a matar saudades, bem lá no alto. Nasceu ali mas a vida tinha-o mandado para fora. Soube agora que regressou ao Cerro. Recuperou uma casa e vive lá. Não o encontrei porque estava a trabalhar fora.

Foi Maria do Carmo, de 46 anos, quem me deu a noticia. Estava em casa a descansar do trabalho. Mas mesmo assim vestida, veio cá fora para dois dedos de conversa. E mesmo assim vestida deixou que lhe tirasse uma fotografia com o seu cão.

Fui andando e encontrei uma das irmãs que ali vivem juntas. Primeiro a Hermínia Jesus António, de 70 anos, que voltava do campo. Ela faz tudo: semeia, planta, rega, cava, apanha. Enfim, trata o trabalho do campo por “tu”.

Não demorou muito tempo até encontrar a sua irmã, Carmina António, 68 anos. Estava a tratar da comida das suas duas cabras, que só tinham comido de manhã e estavam com fome. A carne é para vender, ela não come carne fresca. O campo dá-lhe tudo o que ela precisa para viver.

Sobre os outros habitantes do Cerro, apenas me cruzei com José Rosa, 63 anos, e Fernanda Rosa, 59 anos. Estavam ali de férias. Recuperaram uma habitação na aldeia onde nasceram.

O outro habitante é “o Presidente”, como todos tratam o presidente da Junta de Freguesia de Aboboreira, que também ali reside.

A aldeia, essa, continua numa marcha lenta. Ora no retomar da vida, ora no abandono das pessoas, como se estivesse num impasse. Como está, aliás, o resto do país.

Nasceu no Sardoal em 1964, e é licenciado em Fotografia. Fez o Curso de Fotojornalismo com Luíz Carvalho do jornal “Expresso” (Observatório de Imprensa). É formador de fotografia com Certificado de Aptidão Profissional (registado no IEFP). Faz fotografia de cena desde 1987, através do GETAS - Centro Cultural, do qual também foi dirigente e fotografou praticamente todos os espetáculos. Trabalha na Câmara Municipal de Sardoal desde 1986 e é, atualmente, Técnico Superior, editor fotográfico e fotógrafo do boletim de informação e cultura da autarquia “O Sardoal” e de toda a parte fotográfica do Município. É o fotógrafo oficial do Centro Cultural Gil Vicente, em Sardoal. Em 2009, foi distinguido pela rádio Antena Livre de Abrantes com o galardão “Cultura”, pelo seu percurso fotográfico. Conta com mais de meia centena de distinções nacionais e internacionais. Já participou em dezenas de exposições individuais e coletivas.

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