José Grácio, CEO da TrustEnergy, acionista maioritário da Tejo Energia. Foto: mediotejo.net

A Tejo Energia anunciou esta noite em comunicado que “não pode concordar” com a decisão do júri hoje anunciada, declarando a Endesa como vencedora do concurso público para a atribuição do ponto de injeção na 
Rede Elétrica de Serviço Público, na Central do Pego, em Abrantes.

Na ata final do júri, a Endesa ficou classificada em primeiro lugar, com 3.42 pontos, a Tejo Energia em segundo lugar, com 3.20 pontos, a Voltalia em terceiro lugar, com 2.20 pontos, a Brookfield & Bondalti em quarto lugar, com 2.01 pontos, e a EDP Renováveis em quinto e último lugar, com 1.47 pontos. A proposta da Greenvolt foi excluída.

A Tejo Energia diz “estar convicta de que o melhor projeto que se apresentou a concurso não venceu, pelo que não pode estar de acordo com a
decisão anunciada”.

A empresa recorda que apresentou uma proposta 
que apostava numa conversão da 
Central do Pego com várias componentes, a introduzir 
faseadamente, como “a utilização sustentável de biomassa de 
origem residual para produção de eletricidade renovável firme (245
MW), energia eólica (159 MW) e energia solar (350 MWp)”.

Este projeto, consideram, era “o único que permitiria dar uma resposta célere às
necessidades prementes de energia do País, podendo oferecer já este 
ano potência firme e despachável ao sistema, tão necessária com a 
intermitência provocada pela crescente penetração de energia
 renovável no mix energético nacional”, e possibilitaria ainda “começar a injetar eletricidade de origem 
renovável no Sistema Eléctrico Nacional, reduzindo as 
necessidades de importação de energia e de combustíveis fósseis para
produção elétrica, numa altura em que Portugal enfrenta uma seca 
extrema e preços crescentes de energia por causa do conflito
 russo-ucraniano”.

Além disso, referem, daria “um contributo decisivo do ponto de vista da 
economia florestal da região, assim como no que diz respeito à 
prevenção de incêndios florestais, bem como permitiria a manutenção 
dos postos de emprego na Central do Pego”.

A Tejo Energia termina o seu comunicado referindo que, “apesar do desfecho deste concurso, mantém o seu 
entendimento de que o lançamento deste procedimento não respeitou os 
direitos que a empresa detém sobre o ponto de injeção” na Rede Elétrica de Serviço Público.

Esse é um diferendo que ainda terá de ser resolvido em tribunal. A Tejo Energia avançou em setembro do ano passado com uma providência cautelar contra o Ministério do Ambiente, invocando que a sua licença de exploração não estava caducada e que, por isso, deveria ser suspenso o despacho que determinou a abertura do concurso público para o licenciamento da futura exploração daquele ponto de injeção à rede elétrica nacional.

Foi só no passado dia 2 de março que o Tribunal Administrativo e Fiscal de Leiria emitiu a sua decisão sobre esta providência cautelar, considerando-a “improcedente”, entendendo que o contrato de vinculação assinado em 1993 terminava efetivamente em novembro de 2021 e que a licença de produção do Pego poderia assim ser licitada publicamente pelo Estado, tal como veio a acontecer.

Contudo, associada a esta providência cautelar existe uma ação principal, como a lei determina, que ainda segue os seus termos no Tribunal de Santarém, e na qual a Tejo Energia pede uma indemnização de 290 milhões de euros.

Paralelamente, prossegue em tribunal o processo de dissolução da Tejo Energia, consórcio  proprietário da Central Termolétrica do Pego há 28 anos, onde se inclui a Endesa, acionista com 44%, que se desentendeu com a Trustnenergy, detentora dos restantes 56%, composta pelos franceses da Engi e os japoneses da Marubeni, na definição do futuro da Central do Pego, quando a produção a carvão terminasse. O principal ponto de discórdia era a aposta na biomassa, defendida pela TrustEnergy, pelo que, além da dissolução da sociedade, a Endesa decidiu avançar sozinha para o concurso público entretanto anunciado pelo governo.

A Endesa e a TrustEnergy vão continuar, porém, a ter negócios em conjunto no Pego: a Central de Ciclo Combinado a gás natural que permanece em funcionamento é propriedade da ElecGás, detida em 50% por cada uma das empresas.

Patrícia Fonseca

Sou diretora do jornal mediotejo.net e da revista Ponto, e diretora editorial da Médio Tejo Edições / Origami Livros. Sou jornalista profissional desde 1995 e tenho a felicidade de ter corrido mundo a fazer o que mais gosto, testemunhando momentos cruciais da história mundial. Fui grande-repórter da revista Visão e algumas da reportagens que escrevi foram premiadas a nível nacional e internacional. Mas a maior recompensa desta profissão será sempre a promessa contida em cada texto: a possibilidade de questionar, inquietar, surpreender, emocionar e, quem sabe, fazer a diferença. Cresci no Tramagal, terra onde aprendi as primeiras letras e os valores da fraternidade e da liberdade. Mantenho-me apaixonada pelo processo de descoberta, investigação e escrita de uma boa história. Gosto de plantar árvores e flores, sou mãe a dobrar e escrevi quatro livros.

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