Município de Ourém oferece 4.001 noites extra para apoiar empresas. Foto: mediotejo.net

Numa década, a freguesia de Fátima, no concelho de Ourém, viu a sua população aumentar em 14% (mais 1628 pessoas). É o maior crescimento registado na região do Médio Tejo, que, de forma geral, perdeu habitantes.

As datas entre Censos abrangem o período do centenário das aparições, celebrado em 2017 com a vinda do Papa Francisco a Portugal, e o pico de turismo que Portugal viveu pela mesma época, mas quem trabalha em Fátima tem outras perspectivas e acredita que a tendência de crescimento da população vai manter-se no pós-pandemia de covid-19, a reboque do teletrabalho, qualidade de vida e concentração de serviços.

Os resultados preliminares do Censos 2021 não indicam ainda a percentagem de estrangeiros residentes por freguesia, mas uma parte significativa deste aumento de população ficará a dever-se também à fixação de imigrantes em Fátima, onde trabalham em diversos serviços, com especial incidência nas áreas da restauração e da hotelaria.

Dados de 2020 indicam que vivem atualmente 71 nacionalidades diferentes no concelho de Ourém, com os imigrantes a representarem 5% da população (2.160 pessoas), que ronda os 44 mil habitantes. Há três nacionalidades que se destacam, totalizando mais de metade da população estrangeira do concelho: brasileiros, ucranianos e romenos. 

Este aumento de população indicado pelos dados do Censos 2021 foi sentido de forma particular no mercado de arrendamento a partir de 2015/16, o que fez subir substancialmente o preço das rendas na “cidade da paz”.

Com lojas em Fátima e Ourém, a empresa de mediação imobiliária Impacto Verde opera no concelho há 26 anos. “Houve um crescimento do mercado do arrendamento a partir de 2015/16” de forma transversal, constata o gestor, Miguel Lopes. A empresa que geria até 2015 cerca de 80 arrendamentos, passou a gerir 320, não só na cidade religiosa como no resto do município. “A população portuguesa tem menos meios para adquirir imóveis”, explica, pelo que se foi deixando de comprar para se apostar no aluguer.

“Tenho a perceção que Fátima cresceu, não sei se derivado ao turismo”, reflete. Nesta freguesia há uma incidência de efetiva compra de habitação, mas não propriamente de população local. “Nota-se que o mercado de vendas em Fátima é mais externo”, frisa, para passar férias ou como habitação secundária. “Os que compram são mais investidores e não habitantes, que querem rentabilizar o imobiliário.” 

“Os preços dos alugueres dispararam e não há apartamentos para alugar”

A mesma observação é feita por Domingos Neves, empresário na área da saúde em Fátima e ex-presidente da ACISO – Associação Empresarial Ourém Fátima. “Os preços dos alugueres dispararam e não há apartamentos para alugar”, aponta, adiantando que tem sido abordado por imobiliárias interessadas em encontrar habitação para pessoas que trabalham em regime de teletrabalho e querem mudar-se para a cidade. 

“os construtores só estão à espera que o Plano de Urbanização de Fátima seja terminado para lançar novos projetos”

O empresário vê várias razões para este fenómeno, acreditando que a pandemia apenas veio acentuar a tendência. A sua clínica de saúde, a Clinifátima, tem crescido sistematicamente nos últimos anos, abarcando hoje clientes num raio de 50 quilómetros, incluindo de Abrantes. “Muita gente manifesta-nos o seu interesse em viver em Fátima”, constata, mencionando a “paz” e a “tranquilidade” que se sente na cidade, sinónimo de qualidade de vida.

Santuário de Fátima. Fotografia de Paulo Jorge de Sousa

“Fátima tem praticamente tudo”, frisa, mantendo porém algumas das suas características de ruralidade, que compensa com a proximidade a Leiria, onde existem as grandes marcas. “Mais pequenas coisas na cidade iriam atrair mais jovens”, comenta, apontando o efeito que teve a avenida central requalificada, que atrai atualmente parte da população para passeios e prática de exercício. Um “jardim de dimensão” ajudaria a esta imagem de bem estar que parece ser atualmente um dos grandes atrativos da cidade, considera. 

A finalizar um grande projeto na área da saúde que irá criar emprego e aumentar esta oferta na cidade religiosa, Domingos Neves acredita que a curto prazo a população irá crescer ainda mais, quer a nível de jovens como de terceira idade. Além disso, frisa, “os construtores só estão à espera que o Plano de Urbanização de Fátima seja terminado para lançar novos projetos”. Por tal, não tem dúvidas que a tendência de crescimento populacional se vai manter.

“Fátima terá sido a freguesia que mais conseguiu criar emprego e as pessoas foram-se fixando em torno da oferta”

A atual presidente da ACISO, Purificação Reis, vê no aumento da população um reflexo da existência de emprego. Sem dados objetivos, constata que foi notório o aumento de hotéis e outras empresas nos últimos anos na cidade religiosa. Além do turismo, salienta, os setores da cerâmica, da pedra, da construção e do imobiliário também cresceram. Além disso, “o setor do turismo é muito agregador de outros serviços”, como as padarias, em abundância na cidade. Fátima também é atrativa para a terceira idade, com muitos reformados a quererem viver para a freguesia. “É uma congregação de vários fatores”, reflete.

A cidade no concelho de Ourém junta vários fatores atrativos, em termos de qualidade de vida,, o que fez crescer o número de residentes. Créditos: Junta de Freguesia de Fátima

“Fátima terá sido a freguesia que mais conseguiu criar emprego e as pessoas foram-se fixando em torno da oferta”, comenta. Outro aliciante, recorda, até há poucos anos, era a qualidade do ensino cooperativo, que atraía muitos jovens ao ensino secundário, mas esta área sofreu reveses com as limitações de financiamento do Estado às instituições de ensino privadas.

“Para um território ter capacidade de fixar população é necessário que seja um local com boas condições para viver, para estudar e para trabalhar”, lembra Purificação Reis, considerando que “Fátima tem essas condições reunidas, mais que outras freguesias do concelho”.

Cláudia Gameiro

Cláudia Gameiro, 32 anos, há nove a tentar entender o mundo com o olhar de jornalista. Navegando entre dois distritos, sempre com Fátima no horizonte, à descoberta de novos lugares. Não lhe peçam que fale, desenrasca-se melhor na escrita

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1 Comentário

  1. Consequência da invasão de brasileiros e indianos que se sujeitam a virem para Portugal ganharem o salário mínimo a pedido do governo português pois há cada vez menos portugueses e cada vez menos nascimentos em Portugal.
    A verdade é que para quem procura uma vida digna Portugal é um país cada vez menos interessante para viver.

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