Apesar da sua origem bastante remota, nos últimos anos o castelo de Abrantes tem continuado a trazer-nos novidades, no âmbito de trabalhos arqueológicos na fortaleza e de intervenções de conservação e restauro na igreja de Santa Maria do Castelo.

Num primeiro momento, os arqueólogos descortinaram uma torre islâmica em tijolo de adobe (barro, material perecível que raramente sobrevive à passagem do tempo), um reforço defensivo das torres islâmicas, que será do século IX.

Em Santa Maria do Castelo, os frescos até há pouco tempo visíveis na capela-mor e algumas paredes laterais encontravam-se muito danificados e dificilmente se descortinava o seu real interesse. A remoção de alguns azulejos soltos das paredes laterais permitiu constatar que, por baixo destes, as pinturas continuavam, e em muito melhor estado de conservação. Trata-se de pintura rara e muito boa, de finais do século XV e pelas sondagens efetuadas deve ocupar quase toda a parede.

Pinturas do Séc. XV descobertas sob os azulejos de Santa Maria do Castelo
Pinturas do Séc. XV descobertas sob os azulejos de Santa Maria do Castelo

O castelo de Abrantes e zona envolvente constituem a marca ancestral mais visível da fundação de Abrantes. Considerado imóvel de interesse público pelo decreto n.º 41191, de 18 de Julho de 1957, a primeira referência documental à sua existência remonta a Setembro de 1173, aquando da sua doação, com seus termos, a favor da Ordem de Santiago.

Igreja de Santa Maria do Castelo
Igreja de Santa Maria do Castelo/Abrantes

No período compreendido entre 1248 e 1279, o concelho pediu autorização a D. Afonso III para executar obras de reparação e de reconversão do castelo. Admitindo que o castelo de Abrantes tenha sido edificado em meados do século XII (ainda que várias opiniões e as descobertas recentes vão no sentido de uma fundação mais antiga), uma obra de “reedificação” desta envergadura, efetuada cerca de cem anos depois, pode encontrar explicação no facto da construção anterior ter sido feita de emergência, imposta pela velocidade da Reconquista da linha do Tejo e, por consequência, de consolidação deficiente.

Nas Cortes realizadas em Lisboa, em 1456, o concelho solicitou a D. Afonso V nova intervenção no castelo, pedido a que o rei acedeu, mas quatro anos depois (1460) os procuradores de Abrantes às Cortes de Lisboa solicitaram ao monarca que autorizasse o concelho a fazer, à sua custa, a reparação dos muros do castelo, pedido a que, naturalmente, o rei acedeu.

Em 1664 deparamos com novas referências a reconstruções do castelo e também da vila. Assim, em 7 de março daquele ano, D. Afonso VI agradece ao juiz de fora, vereadores e procurador do concelho a maneira como concorreram para as fortificações de Abrantes. Numa carta padrão de D. Pedro II, de 11 de fevereiro de 1679, estão sumariados os serviços prestados pelo engenheiro militar e arquiteto Mateus de Couto, no período decorrido entre 1647-1678 e nela são referidos os trabalhos efetuados nas obras de fortificação de Abrantes.

No ano de 1704, o castelo viu novamente reconhecida a sua relevância estratégico-militar, sendo considerado como “chave da província da Estremadura”, pelo que D. Pedro II, em 8 de junho, encarregou o Conde de Soure de proceder aos trabalhos de fortificação, nomeando-o governador militar.

Em 1718, por carta datada de 24 de julho, foi concedido a D. Rodrigo Anes de Sá Almeida e Meneses o domínio da vila com o título de Marquês de Abrantes, tendo-se então procedido à reconstrução da antiga casa dos Condes de Abrantes.

Em 1765 o Palácio do Marquês voltou a beneficiar de obras com alguma importância, dado que foi preparado para alojamento da embaixatriz de Castela. Cerca de trinta anos depois, em finais de 1798, efetuaram-se novas obras no castelo e no Palácio do Marquês de Abrantes, para instalação das tropas da Legião do Marquês de Alorna.

Finalmente, por aviso de 6 de março de 1809, o príncipe regente, D. João, participa à Câmara Municipal que as despesas efetuadas com as obras de fortificação seriam pagas pelo concelho.

 

José Martinho Gaspar nasceu em Água das Casas (Abrantes), na década de 60 do século XX, e vive em Abrantes. É Professor de História e Mestre em História Contemporânea. Desenvolve a sua ação entre aulas, atividades associativas (Palha de Abrantes e CEHLA/Zahara, mas também CSCRD de Água das Casas), leitura e escrita, tanto de História como de ficção, sendo autor de vários artigos e livros. Apaixonado por desporto, já não vai em futebóis, mas continua a dar as suas voltas de bicicleta. Afinal, diz, "viver é como andar de bicicleta: não se pode deixar de pedalar e quando surge um cruzamento escolhe-se o nosso caminho".

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