Neste mês, em que comemorarmos a Floresta e a Primavera, quero destacar o Carvalho Cerquinho, uma espécie da nossa floresta autóctone e um dos principais símbolos da biodiversidade na região em que nos inserimos.
Todos os estudos indicam que Portugal foi, outrora, um país com uma floresta bem diferente daquela que hoje temos. Terá sido uma floresta em que as espécies dominantes eram sobretudo folhosas, nomeadamente quercíneas, onde se incluíam o sobreiro, a azinheira e diversas espécies de carvalhos.
São espécies com um enorme valor ecológico dado que são a base de ecossistemas com uma elevada biodiversidade e em equilíbrio com as condições locais de clima e de solo.
Também representam um elevado valor patrimonial, dada a ligação estreita que apresentam com a história e a cultura do nosso país e do nosso povo. Como é patente na numerosa toponímia em que figuram as palavras: “carvalho” e “carvalhal” e nos nomes de família a ela associados.
São importantes fontes de matéria-prima enquanto fornecedores de madeiras nobres para mobiliário e constituem um recurso cujo valor de mercado directo, pela madeira, e indirecto, pelos bens produzidos, (paisagem, recreio, produtos silvestres, etc.) é significativo para a economia.
Constituem florestas com características favoráveis em termos de prevenção contra incêndios, dado que são espécies pouco inflamáveis e com uma grande capacidade de regeneração após o fogo.
Enquanto florestas com um longo ciclo de vida, permitem a imobilização de carbono durante longos períodos de tempo, contribuindo assim, de forma eficaz, para a redução de gases de efeito de estufa e consequentemente para combater o drama das alterações climáticas.
Na nossa região, desde as Serras de Aire e Candeeiros e estendendo-se pelo sítio Natura 2000 Sicó-Alvaiázere, encontram-se as manchas mais significativas de carvalho cerquinho integradas em paisagens que confirmam o enorme valor paisagístico que esta espécie confere às áreas onde se encontra.
Confinados a zonas do país com uma estrutura fundiária menos favorável à conservação de manchas florestais extensas e com tradições de práticas de pastoreio livre, estes carvalhais foram desaparecendo do nosso território, levados pelo machado, pelo fogo, pelo pastoreio, pela construção de infra-estruturas e, mais recentemente, pela substituição por outras espécies concorrenciais.
O que hoje existe são singelos resquícios de florestas outrora frondosas e extensas a necessitarem de um olhar conservacionista.
Já vem de longa data a primeira legislação de proteção ao sobreiro, a qual foi seguida pela da azinheira, ambas as espécies largamente representadas no sul do País e que são aquelas que conservam áreas mais extensas devido a essa salvaguarda legal facilitada pela sua importância económica e ao facto de se encontrarem sobretudo em zonas de latifúndio.
É imperioso refletir sobre o interesse de se estender também essa atitude ao carvalho cerquinho e outras relíquias da nossa floresta autóctone de forma a garantir futuro para essas joias que merecem e devem ser valorizadas e preservadas
Neste mês da Floresta é importante dar a conhecer a todos e sobretudo aos mais novos esses símbolos da nossa identidade sendo essa é a maior garantia de futuro!