Eis-nos chegados a mais um Natal. Na verdade, o Natal nunca é mais um, é sempre novo, é sempre o Natal! E eis que chegou, renovado de tudo, mais ou menos feliz, que nestas coisas da vida nunca é certo e seguro que esteja tudo bem.
Mas há coisas felizes que nos enchem o coração. Este ano, uma dessas coisas, para mim e para muitos de nós, é a pequena e muito catita Aldeia Natal que Mação viu nascer, totalmente sonhada e construída por funcionários da Câmara Municipal, onde trabalho.
Foi um rasgo de luz, um trabalho de colaboração e união, que foi o que mais me fascinou e que, depois, encheu o coração de todos. Não sei se tiveram essa sorte, mas eu tive-a, a sorte de começar há mais de duas décadas a trabalhar onde queria, Mação, num acaso feliz, na Câmara, e num grupo que se foi formando enlaçado por uma cumplicidade e união incríveis. E a verdade é que ao longo dos anos já se criaram e fizeram coisas fantásticas à luz dessa união. E é muito bom quando assim é.
Há efetivamente dias saturantes e frustrantes – bolas, se há – daqueles dias em que consideramos sair, deixar tudo e buscar algo novo num plano – talvez ilusório – de que haverá algo em que seremos mais felizes e preenchidos, mas é igualmente verdade que não me posso queixar pois raramente me negam um projeto e espaço para sonhar.
A Aldeia Natal foi sonhada por muitos, conduzida por um fio de conversas, ideias atiradas para o ar, trocas de mensagens com imagens giras e e-mails com mais uma dica. Foi-se formando desde há dois anos quando um grupo de funcionários com jeito, ou apenas boa vontade, deu forma a várias figuras de Natal que enfeitaram as rotundas da vila. Tínhamos os anjos, os duendes, as renas, os bonecos de neve, de tudo um pouco. E este ano o trabalho ganhou uma casa muto feliz. O Largo dos Combatentes foi remodelado e ficou perfeito para acolher este espaço. Depois, depois foi só lançar ideias e dar forma aos sonhos? Como? A imprimir um trenó e a vê-lo ser feito na nossa Carpintaria com um esmero incrível. A fazer um esboço da Aldeia numa folha com quadrados e retângulos e uma legenda escrita à mão, riscado e refeita, num papel que se foi amarrotando, de mão e mão, com novas ideias, alterações e planos de última hora, até chegar ao dia em que a Aldeia estava pronto e era mesmo aquilo! Mágico, sim?!!

Tudo feito entre todos, por muita gente, eu incluída ou não saberia dizer-vos como foi um processo único de união e colaboração. Não posso, sem esquecer quem começou há dois anos a costurar, a trazer tecidos de casa, a usar as máquinas de costura pessoais, em casa, a trazer tanto a este projeto, que sabem quem são, mas dizia que não posso deixar de referir o empenho do Júlio, do Augusto e do Vítor, do alvoroço de máquinas e plainas e tábuas e perfeição que se criou na nossa Carpintaria. Não, não posso.
Mais as ideias fantásticas da nossa linda Falua, que até laranjas secou em casa para enfeitar cada grinalda, cada coroa. E ter quem acreditasse, que dissesse sim sem pestanejar. Mais umas ajudas improváveis e a força de todos, que não soube de quem achasse falta de jeito ao que ali nascia.
Quando a Aldeia Natal ficou pronta, inundou-me uma onda de felicidade imensa. Acredito que a muitos de nós. E ver aquele espaço, brindado com uns dias de sol magníficos, famílias inteiras a visitar a aldeia, crianças felizes como nunca… é tão compensador…
O que mais me cativou, em todo este processo, foi a certeza de que a união faz mesmo toda a diferença, a entre ajuda, a cumplicidade, o sonhar e o ter quem ajude faz mesmo toda a diferença. Por isto e muito mais, meus caros, a pequena e muito catita Aldeia Natal de Mação é onde o Natal, com tudo o que o define, aconteceu.
Este ano não nos foi fácil, na Câmara. Num golpe rude e duro perdemos o Raul. Assim, num ápice de tempo que ainda não conseguimos assimilar, compreender, aceitar e que, na verdade, mal interiorizámos. E é-me impossível não vos falar da Aldeia sem falar na partida do Raul. Porque ficámos de asa partida, qual anjo de um qualquer presépio, peça que mesmo magoada não conseguimos deixar ir. E permanece, ano após ano no presépio, com a afeição e carinho de todos.

Eis-nos chegados a mais um Natal. Particularmente feliz. Muito triste. Mas se havia algo no sorriso, boa vontade e voluntarismo do Raul, era a certeza de que num dia reclamamos e no outro estamos a fazer tudo por todos. Que se mantenha este espírito. Na casa grande onde trabalho, nas casas onde todos trabalham. Nas nossas próprias casa. Nos corações de todos e cada um!
Boas, muito boas festas para todos!