Carruagem 23 leva 'A Madrugada da Liberdade' a Limeiras. Foto: mediotejo.net

Chama-se “A Madrugada da Liberdade” e é a mais recente peça da Carruagem 23, grupo de teatro do Entroncamento, que se apresenta na quarta-feira, dia 1 de maio, às 21h00, em Limeiras, a convite da Junta de Freguesia da Praia do Ribatejo. A 25 vozes, de várias gerações, a companhia retrata a história do Estado Novo e da Revolução dos Cravos, no ano em que se assinalam os 50 anos do 25 de Abril.

A estreia da peça encheu a plateia do Centro Cultural do Entroncamento, na noite de 12 de abril e o mesmo se espera suceda esta quarta-feira no Centro Cultural Limeirense. Os aplausos no final da estreia refletiram a satisfação estampada nos rostos daqueles que aplaudiram de pé os atores de um grupo de teatro nascido no Entroncamento e que tem a batuta do encenador João Coutinho.

Em palco estiveram 25 atores, de diversas faixas etárias que, com o apoio de toda a equipa técnica, promoveram no Entroncamento um momento histórico e de exaltação da importância da Revolução dos Cravos, no ano em que se assinalam os 50 anos da sua ocorrência, e chega agora a Limeira, num espetáculo marcado para as 21h00 de quarta-feira, dia 1 de maio.

João Coutinho faz parte da Companhia de Teatro do Ribatejo, no concelho da Chamusca, e é o encenador da companhia Carruagem 23, do Entroncamento, fundada em 2023.

Carruagem 23 levou a liberdade ao Centro Cultural do Entroncamento em noite de casa cheia. Foto: mediotejo.net

Em declarações ao mediotejo.net, refere que este se trata de um espetáculo documental sobre a história do Estado Novo e que integra momentos que permitem um maior dinamismo e aproximam a audiência da história retratada.

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“Não queríamos que o público estivesse sempre em constante sofrimento, com cenas mais complicadas e mais fortes. Daí que tenhamos colocado canções que fazem sentido, ou que eram da época, no sentido também de suavizar um pouco o espetáculo”, refere.

Para além de encenador, é também o autor do texto que criou com base em factos históricos, tendo contado com o auxílio de técnicos para a seleção musical, em que se procurou “corresponder às diferentes épocas”. “Acaba por ser um espetáculo quase inclusivo, em que as pessoas estão muito próximas dos atores, as emoções passam e este é o caminho que nós vamos procurar desenvolver no futuro”, acrescenta.

Para Carlos Alves, um dos atores em cena, a peça permite retratar este período histórico que vai desde Salazar até à revolução com Salgueiro Maia, de uma forma “mais suave”.

Carruagem 23 levou a liberdade ao Centro Cultural em noite de casa cheia. Foto: mediotejo.net

“Tem aqueles momentos que têm mais carga, digamos assim, que provocam mais impacto nas pessoas. A questão da PIDE, da fome, da Catarina Eufémia, a própria hora do Salgueiro Maia,… tem assim episódios que têm mais carga emotiva e é isso que nós queremos passar às pessoas, é essa emoção”, explica o ator.

Este é já o segundo espetáculo da Carruagem 23, tendo a primeira peça – “Passa por mim no Entroncamento” – sido apresentado no Cineteatro São João, com lotação esgotada.

“Este ano, considerando as comemorações dos 50 anos do 25 de abril, balançámos para um espetáculo mais complicado. Mais complicado porque somos um grupo formado por gente que só se dedica ao teatro depois das horas de trabalho ou de escola e portanto, nem sempre é possível conciliar muitos ensaios”, explicou João Coutinho.

O objetivo do projeto passa por criar um teatro comunitário no Entroncamento, para que “o teatro saia de dentro da cidade e que sejam as próprias pessoas a fazer de atores e de atrizes”, acrescenta o encenador.

O elenco é composto por “miúdos e graúdos”, permitindo, ao longo dos ensaios e da convivência semanal, criar um “clima de afeto entre todos, que depois se transforma em espetáculos mais emocionais”, conta o responsável. Carlos Alves afirma tratar-se de um “grupo solidário” e que reúne todas as gerações o que, por vezes, cria dificuldades na reunião de todo o elenco para a realização dos ensaios.

“Imprimimos a nós próprios o valor que é a solidariedade, não deixamos ninguém para trás, portanto esperamos algumas vezes uns pelos outros, porque temos de ser cúmplices. Isso cria algumas dificuldades na questão dos ensaios, somos muitos e tem tendência a aumentar”, diz o ator.

“A Madrugada da Liberdade” foi um espetáculo que demorou cerca de dois meses a preparar, o que para João Coutinho não foi “muito complicado”. “Os ensaios podem não ser muitos, mas eles dedicam-se muito ao espetáculo. Portanto, não é muito difícil quando se trabalha com gente assim e acreditamos que o Entroncamento, na área do teatro, vai ter futuro”, declarou.

Carlos Alves acrescenta que não foram realizados muitos ensaios, devido à ocorrência de problemas técnicos. “Este espetáculo tem muito a ver com luzes e som e às vezes é difícil arranjar tecnologia que nos dê esse know how para fazermos a peça conforme nós entendemos”.

Para amantes do teatro, cidadãos anónimos, mais ou menos extrovertidos e possíveis atores, João Coutinho afirma que a Carruagem 23 tem “as portas sempre abertas para quem quiser experimentar”.

“Há pessoas que chegam, fazem alguns ensaios e não é aquilo… mas há muita descoberta incrível, pessoas muito tímidas, pessoas com muita dificuldade de relacionamento e o teatro transforma-as completamente. Este grupo recebe toda a gente, já tenha ou não feito teatro e tenho a certeza que a partir daí nunca mais parará de fazer espetáculo”.

Carlos Alves destaca que esta é ainda a segunda peça encenada pela companhia, pelo que se encontra num estágio “inicial” ainda. “As peças têm de ser trabalhadas (…). Vamos com calma, um passo de cada vez como se costuma dizer (…), gostamos de fazer as coisas com algum critério para que as coisas saiam com alguma qualidade”.

Foto: mediotejo.net

Em atividade desde setembro de 2023, “Carruagem 23” foi o nome escolhido, pela ligação aos comboios, sendo o número referente ao ano em que se iniciou o projeto. Esta foi uma iniciativa proposta pelo município do Entroncamento e trabalhada em conjunto com o encenador.

Para o futuro, além de outros projetos “em mente”, João Coutinho refere a criação de um grupo de teatro escolar, sublinhando a importância de que os “espetáculos comecem nas escolas”.

“Gostava de continuar a ver esta cumplicidade, esta emoção, este amor que existe entre as pessoas, esta combinação das gerações, dos mais pequenos e dos mais graúdos e que uns ajudem os outros, que haja esse diálogo intensamente e que as pessoas se fortaleçam psicologicamente que é muito importante (…) A parte humana é sempre aquela que mais nos predispõe a fazer alguma coisa de positivo para o futuro”, afirma Carlos Alves.

“A Madrugada da Liberdade” irá continuar a ser apresentada em locais fora do concelho entroncamentense, estando ainda prevista para setembro deste ano, uma nova revista que, nas palavras do encenador, será uma “viagem ao Parque Mayer”.

A experiência de trabalho nas rádios locais despertaram-no para a importância do exercício de um jornalismo de proximidade, qual espírito irrequieto que se apazigua ao dar voz às histórias das gentes, a dar conta dos seus receios e derrotas, mas também das suas alegrias e vitórias. A vida tem outro sentido a ver e a perguntar, a querer saber, ouvir e informar, levando o microfone até ao último habitante da aldeia que resiste.

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