Atualmente, David Rosa é 1º no ranking nacional e o 28º do ranking mundial. O mediotejo.net entrevistou-o nas vésperas da sua partida para o Brasil, onde, a 21 de agosto, irá representar Portugal nos Jogos Olímpicos pela segunda vez na sua carreira, esperando ficar, pelo menos, entre os 10 melhores atletas do mundo.
David João Serralheiro Rosa nasceu a 12 de novembro de 1986 (29 anos) em Fátima, concelho de Ourém. É solteiro, Licenciado em Desporto e Mestre em Educação Física pela Faculdade de Motricidade Humana. Ainda lecionou entre 2010 e 2012 mas o objetivo de vida era estar ligado ao ciclismo — e com muita perseverança tornou-se ciclista profissional, defendendo atualmente as cores dos chineses da Tropix.
Dedicar-se a fundo ao ciclismo sempre foi um sonho para David Rosa e, com a assinatura recente do contrato com a Tropix e com a Bolsa por ser Atleta Olímpico, vai conseguindo viver. “Para mim, neste momento é possível viver do BTT. Assinei por uma equipa estrangeira, a Tropix, além do mais consegui ter marca para entrar em Projeto Olímpico e ter direito a uma bolsa, fui o primeiro da história a consegui-lo. Não dá para grandes extravagâncias mas permite que me dedique de corpo e alma à modalidade, tal como os atletas com os quais me bato em provas. Num país onde os apoios não abundam, estou bastante feliz por poder fazer o que gosto”, referiu o fatimense.

David Rosa será um dos dois portugueses a defender as cores de Portugal, na prova de BTT, nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, que se disputam entre 5 e 21 de agosto, o que serão as suas segundas olimpíadas, depois de em 2012 ter estado presente nos Jogos de Londres, onde obteve um 23º lugar entre 47 ciclistas. “Desde que terminou o ciclo olímpico de Londres, há quatro anos, o meu objetivo passou a ser o Rio de Janeiro. A partir daí fiz tudo o que tinha a fazer para me qualificar e para qualificar o país, fazendo o número de pontos necessários para que isso acontecesse. Cheguei a ter quase mil pontos de vantagem sobre o segundo do ranking nacional, pelo que, no início do ano, tinha praticamente garantida a presença no Rio de Janeiro”.
A qualificação no BTT não é igual ao atletismo, em que se estabelece uma marca de tempo e essa marca dá a qualificação. “No BTT, a qualificação é feita pelo ranking de nação, e esse ranking é dado pelo somatório de pontos dos três melhores ciclistas de cada país, em que as vagas ao país são atribuídas consoante a classificação no ranking desse país. Depois cabe à Federação de cada país estabelecer o critério de selecção dos atletas. Em Portugal, o critério definido foi o de melhor ranking individual. Portugal desde o início do ano que tinha praticamente garantida uma vaga através dos pontos, no entanto, o período de qualificação só fechava em meados de Maio, pelo que era necessário esperar por essa data para sabermos quantos ciclistas iríamos “meter” nos JO. Praticamente em fevereiro já tínhamos uma vaga e acabámos mesmo por ter duas vagas. Eu, em particular, fiz mais de 1800 pontos, o que representa o dobro dos pontos que Portugal faria no ranking de nação”, explicou.

Relativamente aos JO de Londres 2012, onde conseguiu um 23º posto, o ciclista de Fátima sente que tem contas a ajustar com a sorte e o destino. “Quando fui para lá, embora soubesse que estava em boa forma, tinha um ranking muito baixo e fui dos últimos a partir. Arranquei bem e quando ia bem dentro do Top 20 sofri uma queda aparatosa, que me fez perder muitos lugares. Depois da queda já nada foi como estava a ser. Consegui ainda recuperar algumas posições até ao 23º. Soube a pouco porque fiquei com a sensação que o Top 15 tinha sido possível, pelo que agora há umas contas a acertar”.

Sobre o que pode vir a ser a sua prestação no Brasil, David Rosa chega motivado mas com ambições realistas. “No ano passado, em Baku, no Azerbaijão, competi nos Jogos Europeus que funcionam quase como antecâmara dos Jogos Olímpicos. Não podemos esquecer que o continente europeu é, de todo o mundo, o mais forte a nível de BTT, e os atletas que participaram foram quase todos os que vão estar no Rio de Janeiro. Fiz 10º lugar, portanto julgo que com as condições certas e em que me sinta particularmente bem, o Top 10 é possível. O meu principal objetivo vai ser sair da lá sem a sensação que podia ter feito mais, dado mais um bocadinho ou que por isto ou aquilo podia ter feito melhor. Depois, não piorar o 23º posto de Londres e secretamente atingir o Top 10”, referiu.
Quanto a medalhas, o Campeão Nacional de XCO é peremptório. “Embora não haja certezas e classificações garantidas, para as medalhas há três atletas que estão um patamar acima de todos os outros: o suíço Schurter, o francês Absalon e o checo Kulhavy. Isso não quer dizer nada, pois é uma competição onde tudo pode acontecer, mas um Diploma Olímpico seria excelente. Temos que nos lembrar que é a competição mais importante do mundo, onde todos estarão na máxima forma e vão todos, tal como eu, estar lá na frente”.
A vitória, a 25 de julho, no Nacional de Cross Coutry Olímpico, foi uma grande injeção de moral e um bom indicador do atual momento de forma de David Rosa. “Sim, podemos dizer que estou motivado. Venci uma prova dura, disputada debaixo de condições atmosféricas adversas, estava um calor sufocante, onde tive que realizar um esforço suplementar, pois na primeira curva caí e tive que recuperar quase da última posição até à liderança. Mostra que já estou numa boa forma mas espero melhorar mais, para fazer uma grande prova pelo nosso país. Esta prova era muito importante e depois de a vencer nos moldes em que a venci, pode dizer-se que foi um grande tónico”, referiu confiante.


Em relação à preparação para a prova de dia 21 de agosto, David Rosa explicou o que tem sido feito. “O objetivo era conseguir o maior número de pontos para a qualificação e por isso tinha que estar em muito boa forma, mas não conseguia fazer um pico de forma. Depois quando essa qualificação terminou, em meados de maio, descansei até ao início de junho, começando ai a treinar já com vista aos JO, planeando o tal pico de forma para a altura da competição. As coisas estão a correr bem, estamos a controlar bem as coisas, inclusivamente hoje irei fazer uns exames para saber quanto é que tenho de beber e quanto de sais minerais é que terei de ingerir, para as condições de temperatura e humidade que vou encontrar no Rio de Janeiro. Além dos treinos em cima da bicicleta, estamos também a fazer treino para ganhar alguma força de braços e tronco para controlar a bicicleta. Faço também treinos de força, onde por exemplo, a subida em Alvega, entre Ourém e Fátima, uma subida muito dura, faço-a cinco ou seis vezes seguida, numa grande cadência, ou seja, é um grande conjunto de exercícios físicos, para força, reação e técnica que me irão levar a um pico de forma. Também a alimentação é importante. Faço algumas restrições, como comida processada e açucares. Antes só comia massa, arroz e carne, algumas vezes ficava doente porque me faltavam outros nutrientes. Desde que introduzi frutas, legumes, sopa, peixe, passei a ficar mais saudável e o meu desempenho melhorou bastante”.
Ainda não teve contacto direto com o circuito mas já foi vendo o que pode encontrar através de vídeos. “No ano passado houve um test-event mas eu não consegui estar presente porque estava a recuperar da lesão. Penso que há circuitos mais técnicos e até fisicamente mais duros, mas o que vai fazer a real diferença é a competitividade. Estamos nos Jogos Olímpicos, onde todos vão estar no limite das suas capacidades físicas, isso faz com que o ritmo fique muito superior ao que é normal e isso pode fazer a diferença e tornar o circuito realmente duro. É um circuito artificial, foi todo desenhado à mão. Em termos de subida está bem dotado, tem zonas planas e zonas abertas, o que o torna esquisito”.

Relativamente ao outro elemento decisivo na sua prestação, a bicicleta, David Rosa vai para o Rio de Janeiro com duas máquinas e uma surpresa. “Vou levar para lá duas bicicletas. Uma de suspensão total e outra só com suspensão à frente. Só depois de analisar o circuito é que irei decidir qual vou utilizar. A de suspensão à frente é um quadro novo e tem uma pintura especial que evoca os Descobrimentos. No quadro tem a imagem de Pedro Álvares Cabral, de D. Afonso Henriques e de uma caravela. No fundo é uma pintura especial para marcar um acontecimento especial”.
Por fim, David Rosa deixa uma mensagem a quem ficará a torcer por si e um lamento relativo ao acompanhamento que os media fazem de atletas como ele. “Que se lembrem que os Jogos Olímpicos são o evento desportivo mais competitivo à face da Terra e que apoiem toda a comitiva, independentemente da modalidade, pois esse apoio é fundamental e acreditem que, mesmo longe, os atletas sentem-no”. Quanto aos media é lacónico: “Os nossos ditos jornais desportivos só muito raramente, arrisco a dizer que apenas uma vez por ano, é que dedicam uma capa a uma modalidade que não seja o futebol. Mesmo quando um atleta individual consegue um feito num Europeu ou Mundial, a noticia é dada, mas sempre com maior destaque para o que se passa no futebol. Quantas vezes houve que atletas portugueses foram campeões europeus ou mundiais e nos jornais desportivos a capa é feita com a transferência de um jogador de futebol? Se és Campeão tens que ter o destaque de um Campeão. As linhas editoriais deveriam ser mais ecléticas”.
David Rosa entra em ação nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, no próximo dia 21 de agosto, pelas 16h30, hora de Portugal Continental, estando prevista a transmissão da prova de Cross Country no Canal 1 da RTP.