Cláudia Nunes e Thiago Pinto, de 24 e 33 anos, são brasileiros e chegaram recentemente ao Entroncamento. Quando notaram “sinais” no comportamento do filho, aos 20 meses, ainda no Brasil, procuraram ajuda pediátrica, mas o médico afirmava ser apenas “um atraso decorrente do processo da criança, que cada criança tem o seu jeito de se desenvolver”, conta Cláudia, mãe de Benício.
Optaram por deixar o menino fazer os dois anos, para que se pudesse desenvolver mais. “Ele não falava, não socializava, não ia ao colo de ninguém, ele apenas ficava no meu colo ou no do pai e, muitas vezes, apenas no meu, o que me deixava muito angustiada. Quando ele fez dois anos, coloquei-o numa escola, um infantário, e eu achei que ele se ia desenvolver e socializar mais porque estaria com outras crianças, mas desde então o Benício só tinha crises, chorava, não conseguia comunicar, porque não falava, não olhava nos olhos das pessoas, e tinha muitas estereotipias, que são os movimentos repetitivos do balançar dos braços”, explica.
Após algum tempo, os pais levaram o menino novamente ao médico, desta vez a um neuropediatra, que diagnosticou, mais uma vez, que Benício era uma criança normal, e que “não tinha nada”. Na insistência de que algo não estava bem, procuraram uma segunda opinião, de outro neuropediatra, desta vez especializado em casos de autismo, e o menino foi diagnosticado com autismo severo, não-verbal.
Além da falha na comunicação, o menino tinha ainda seletividade alimentar, só comia alimentos crocantes, de textura dura, sem molhos e temperos. Benício tinha também atraso motor no andar e não conseguia fazer muitos movimentos com os dedos.
Após o diagnóstico, os pais de Benício conseguiram um acompanhamento mais personalizado para o filho, com terapias, psicólogo, terapeuta ocupacional com integração sensorial, e conseguiram também colocá-lo na intervenção precoce.
Mas sempre procurando saber mais, os pais especializaram-se na área, fizeram um curso de intervenção precoce para o autismo, com base no método ABA, que promove o ensino de novas habilidades e ajuda a lidar com comportamentos, tais como crises que colocam em risco a integridade física seja da própria pessoa, seja dos outros ao seu redor.
“Depois de ter tirado o curso conseguimos ter um maior acompanhamento em casa, aliás, atualmente eu trabalho em casa, aqui em Portugal, e sou eu que faço esse acompanhamento de terapia. Mas o autismo é um mundo e todos os dias descobrimos coisas novas”, frisa Cláudia. “Eu sou mãe do Benício, e às vezes tem momentos que eu só quero ser só mãe, não quero fazer todas as funções de terapeuta, de educadora.”
“No próximo ano letivo espero que o Benício consiga vaga e possa entrar na escola, por agora vamos experimentar a escola pública que dizem ter acompanhamento de educação especial, e para conhecer melhor a inclusão em Portugal”. Cláudia conta ainda que o menino chegou a ser rejeitado no Brasil por algumas escolas pela sua doença. Inicialmente o menino tinha vaga mas após saberem da sua condição o cenário mudava, tendo sido mesmo reencaminhado para escolas de pessoas com deficiências motoras.
Cláudia afirma que foram muito bem acolhidos em Portugal e que o Sistema Nacional de Saúde é melhor que no Brasil. “O Benício vai começar a ter acompanhamento de terapia, após passar num médico no Centro de Saúde foi enviado para terapias e conseguimos a medicação que ele toma gratuitamente aqui. Lá no Brasil tínhamos de pagar tudo, ter seguro de saúde, e muitas vezes ficar muito tempo para ter uma vaga de consulta ou de terapia”, notou.
A maior dificuldade que os pais têm no dia-a-dia é a socialização do menino e o facto de ambos terem empregos. Sem rede de apoio familiar, não existe quem fique com Benício e que saiba como lidar com a situação do autismo.
Cláudia explica ainda como é lidar com as crises e aprender quando é realmente uma crise, e em que se auto agride, ou uma simples birra de criança. A palavra chave, destacou, é “acolher a criança”.
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Para marcar o Dia Mundial para a Consciencialização do Autismo, que se assinala sempre no dia 2 de abril, a associação A CLDS 4G – 2 Gerações em Terra de Sorrisos, do concelho de Vila Nova da Barquinha, organizou uma palestra sobre o autismo, no Auditório do Centro Cultural, com Juliana Belo, mentora do projeto CADI – Centro de Apoio de Desenvolvimento Individual, na véspera do dia comemorativo.
Este centro de apoio, CADI, tem sede no Entroncamento e é direcionado para pessoas com o espectro do autismo, através de terapias que as ajudem a colmatar as suas lacunas, mas não focar apenas na pessoa que tem esta condição, mas também trabalhar com as famílias, com as escolas, com todas as pessoas que convivam com crianças autistas, sendo parceiros diretos.
“Em Portugal a rede de apoio externa à família quase não existe, e nós queremos ser isso. Uma resposta social que ajude a colmatar essa falha na sociedade”, afirmou Juliana Belo, mentora do projeto CADI.

A mentora disse ainda que o número de casos de pessoas diagnosticadas com o espetro do autismo tem estado a aumentar significativamente, mas que “todos temos um pouco de autismo”. No Médio Tejo, ainda existem muitas lacunas de respostas adaptativas, afirmou Juliana.
Ao longo da palestra, para além de explicados todos os sintomas e formas de autismo, estiveram presentes muitos pais, educadores de infância, auxiliares e profissionais da saúde que expuseram as suas dúvidas e relataram algumas situações com que já conviveram, muitas saindo emocionadas desta tarde de partilha de conhecimentos e de experiências de vida.
Gostaria de parabenizar as pessoas responsáveis pelo projeto. Eu sou prima dos pais do Benício e estou muito feliz por eles terem encontrado acolhimento em Portugal onde eles poderão cuidar bem dele . Esse projeto é muito importante para todos que necessitam de orientação e esclarecimentos sobre o autismo. Parabéns pela iniciativa !!!