Foi uma Baja como há muito não se via… A chuva diluviana transformou a paisagem norte alentejana num enorme lamaçal e as ribeiras ganharam estatuto de “mar”. Grandes dificuldades esperavam os pilotos que, desafiando o temporal, se apresentaram à partida desta 34ª edição da prova rainha do todo-o-terreno nacional, a mítica Baja de Portalegre 500.
Se os concorrentes das duas rodas, os Quads e SSV cumpriram sem sobressalto o percurso definido pela organização, já nos automóveis as coisas não correram tão bem. O aumento do volume das ribeiras e o galgamento das margem começaram a colocar enormes problemas ao seu atravessamento.

Com muitos concorrentes a ficarem parados dentro de água, a organização deu ordem para o regresso ao Parque Fechado aos concorrentes ainda em pista. Apenas tinham carimbado a carta nove concorrentes na Chegada da Especial 2 (SS2).
A esses foi atribuído o tempo real e aos restantes o tempo nominal de 1:28:28.0. a quase vinte minutos do vencedor da Especial, o belga Guillaume de Mévius em Can-Am Maverick que aproveitou bem as características do seu veículo, leve e ágil.

A Organização foi obrigada a reduzir bastante a quilometragem do percurso da Baja, já que, como explicou Orlando Romana, Diretor de Prova Adjunto, havia ribeiras impossíveis de ultrapassar no dia de hoje: “Tentámos resolver a situação caótica, mas a subida do caudal de várias ribeiras levou a que não valesse a pena insistir. Por isso, anulámos a SS3, passámos para a SS4 dos carros e mesmo essa tivemos que reduzir a metade. Três ribeiras que não permitiam passar”.
Restou para o dia de sábado algo como 79Km a unir o Crato à cidade de Ponte de Sor num percurso possível, ainda assim competitivo.
MOTOS
Sebastian Buhler venceu a Taça do Mundo e António Maio arrecadou mais um título nacional.

O piloto da Hero, Sebastian Buhler conseguiu o seu primeiro hatrick na Baja de Portalegre. Com três vitórias consecutivas entrou na história da prova e sagrou-se vencedor da Taça do Mundo FIM de Bajas.
Vencendo o seu colega de equipa Joaquim Rodrigues por 21 segundos na SS3 arrecadou a vitória final e garantiu a “dobradinha” dos pilotos da marca indiana. O pódio ficou completo com Bruno Santos em Husqvarna que havia vencido o Prólogo.
Diria Buhler no final: “Ontem foi um dia muito duro porque fizemos a etapa toda debaixo de água, mas acabou por ser positivo porque ganhámos alguma vantagem para o dia de hoje. Esta etapa era para ter 300 quilómetros mas por causa da chuva toda, tiveram de cortar. Fizemos só 80 quilómetros. Ninguém o desejava, mas a organização teve de tomar esta decisão para a nossa segurança. Foi muito bom conseguir alcançar a terceira vitória em Portalegre e vamos tentar nova vitória no próximo ano.”

Nas contas do Nacional quem saiu a ganhar foi António Maio. Os problemas no motor da sua Yamaha impediram-no de averbar a sua sétima vitória em Portalegre e levaram-no ao abandono. No entanto, como a prova não pontuou para o Campeonato, o alentejano arrecadou mais um título.
QUADS
Vitória para o jovem Ruben Alexandre e título para o veterano Luís Engeitado.

A vila do Crato viu crescer um jovem de nome Ruben que não perdia uma passagem da Baja de Portalegre na sua zona. Sonhava um dia estar lá “dentro” e hoje, com 20 anos, o sonho concretizou-se na forma duma extraordinária vitória na prova rainha do todo-o-terreno. Foi terceiro no Prólogo mas logo na SS2 passou para a frente, imprimiu um andamento muito superior à concorrência e acabou com quatro minutos de avanço.
No dia de sábado geriu bem a vantagem, acabou por vencer a Especial e a Baja de Portalegre. “No primeiro dia, entrámos tranquilos no prólogo para evitar alguns problemas que pudéssemos ter. Não havia grande problema em arrancar atrás derivado ao clima que tínhamos. Fiz o terceiro lugar. No SS2, ataquei. Rapidamente cheguei ao segundo classificado que era o Fábio Ferreira. Entretanto, apanhei o piloto espanhol, o Oscar (Romero) e acabei com uma vantagem de quase quatro minutos. Hoje, arranquei para gerir a vantagem larga e consegui chegar ao fim sem qualquer problema”, afirmou Ruben Alexandre. Um sonho concretizado…
Nas contas do Nacional a vitória sorriu a Luís Engeitado fruto do pecúlio entretanto amealhado. O piloto da Yamaha Bluemotor ficou pelo caminho no terceiro setor seletivo, na segunda etapa, mas assegurou a vitória no campeonato.
SSV
Com a vitória em Portalegre João Dias sagrou-se campeão nacional e venceu a Taça do Mundo FIM da Bajas na categoria.

Depois de vencer o Prólogo, João Dias cedeu o primeiro lugar ao seu colega da Benimoto Racing, Ricardo Domingues na SS2. Na derradeira Especial venceu Alexandre Pinto por 49 segundos ascendendo à liderança por meros 19 segundos sobre Pinto. A correr em casa “Beto” Borrego alcançou um brilhante terceiro lugar.
Com esta vitória João Dias, em Can-Am da Benimoto Racing, alcançou a vitória no Campeonato Nacional e na Taça do Mundo FIM da Bajas nesta categoria.
“Fomos apanhados de surpresa com as mudanças no percurso do segundo dia, mas temos de dar os parabéns ao ACP porque não deitaram a toalha ao chão. Com a chuva de ontem, conseguiram que a prova não fosse cancelada. Fizemos menos quilómetros, mas fizemos. Hoje diverti-me imenso. A pista estava espetacular. Ataquei forte. Cheguei ao fim. Ganhei. Foi muito bom”, afirmou João Dias.
AUTOS
Vitória categórica de Bernhard Ten Brinke na Toyota da equipa Overdrive.
Mesmo sem terminar Miguel Barbosa sagrou-se Campeão Nacional.
Dupla de Abrantes, José Mendes/Jorge Batista, Campeões Nacionais de T8.

Depois de vencer no Prólogo o russo Vladimir Vasilyev em Mini Cooper voltaria às vitórias na SS3 desta vez ex-quo com o holandês da Toyota Hilux, Bernhard Ten Brinke.
O belga Guillaume de Mévius, que tão boa impressão deixara ao vencer categoricamente a segunda Especial, claudicou no dia de sábado obtendo o 12º tempo que lhe valeu a queda para o segundo lugar do pódio ainda assim à frente de Vasilyev. Grande vitória de Ten Brinke a deixar a concorrência a um minuto e dezassete segundos.

Apesar de ter desistido Miguel Barbosa venceu o Campeonato Nacional após anulação da Baja de Idanha. Espera-se polémica e muita tinta a “escorrer” nos jornais…
Entre os portugueses os primeiro foram Alejandro Martins/José Marques (Mini JCW Rallye) em sexto da Geral. Em segundo ficou Vitor Conceição em Mini All4 Racing em décimo, uma posição acima de André Amaral em Ford Ranger.

No Campeonato Nacional de Todo-o-Terreno os vencedores foram Henrique Lourenço/João Lourenço (Nissan Navara OffRoad) secundados por Francisco Barreto/Sérgio Cerveira também em Nissan Navara.
O tomarense Ivo Santos, a navegar o austríaco Michael Braun em Porsche Cayene Proto alcançou o degrau mais baixo do pódio.
O líder do Campeonato, José Mendes, navegado por Jorge Batista em Mitsubishi L200 quedou-se pelo sétimo posto com outra dupla de abrantinos, Tiago Alexandre e Filipe Rasteiro a levarem o seu Opel Mokka ao nono posto.

Com o Colégio de Comissários a determinar a não atribuição de pontos no Nacional por redução da quilometragem, conforme o regulamentado, o título de T8 foi direitinho para a cidade de Abrantes.
José Mendes e Jorge Batista arrecadaram assim mais um troféu para acrescentar ao vasto pecúlio da família Santinho Mendes.

Na Taça de Portugal os vencedores João Paulo Oliveira/Pedro Cação em Nissan Terrano II secundados pela equipa Mercar/Abrantes, Pedro Valverde e Vitor Martins no bonito Renault Megane Proto 4X4 a apenas 43 segundos.
O terceiro seria a dupla de Tiagos, Dias e Santos a tripularem um Land Rover 90TDS.
O abrantino Ismael Margarido, a solo, no seu Nissan Terrano I ocupou a sexta posição.

Com tantos condicionalismos a prova acabou por ser mais um êxito. Boa resposta do ACP às adversidade que o temporal ocasionou permitiu levar a Baja até ao fim pese o facto de ter sido amputada larga quilometragem. Ficamos a aguardar pela trigésima quinta edição.