Nas margens do Tejo,, os passadiços de Ortiga já se encontravam submersos no dia de terça-feira, tendo no dia seguinte as forças das águas revelado o grau de destruição. Foto: mediotejo.net

“Efetivamente é uma situação triste o que aconteceu e os passadiços da Ortiga estão, não diria todos destruídos, mas em grande parte com alguma destruição”, disse à Lusa Vasco Estrela (PSD), tendo referido que se deslocou à zona ribeirinha, onde constatou que “algumas partes ainda estão no local e que muitas outras foram levadas pela corrente”.

No entanto, observou o autarca, a esta altura ainda não é possível ter uma “perceção total dos estragos” causados pela força das águas, uma vez que “o caudal do rio ainda está bastante elevado”, sendo de “dar mais alguns dias para se ter uma perceção mais fina daquilo que aconteceu, do nível de estragos e daquilo que eventualmente possa ou não ser feito, recuperado ou não recuperado, e para uma avaliação concreta dos prejuízos e da destruição que ali ocorreu”.

ÁUDIO | VASCO ESTRELA, PRESIDENTE CM MAÇÃO:

A construção dos passadiços, num percurso ribeirinho com cerca de 1.300 metros integrado nas Rotas das Pesqueiras e Lagoas do Tejo, representou um investimento na ordem dos 300 mil euros, comparticipado por fundos comunitários em 85%, tendo os mesmos sido inaugurados em fevereiro deste ano.

O percurso, junto ao antigo Bairro dos Pescadores de Ortiga, faz-se ao longo do Tejo, entre passadiços em madeira e trilhos pedestres, e em que o rio é o fio condutor de uma visita com direito a miradouro sobre o curso de água e sobre as mais de 20 pesqueiras tradicionais e de ligação às Lagoas do Tejo, tendo o projeto revitalizado uma zona de forte valor cultural, histórico e patrimonial.

O presidente da Câmara Municipal de Mação afirmou hoje que foi com tristeza que constatou no local o elevado grau de destruição dos passadiços de Ortiga, inaugurados este ano à beira Tejo, por força da corrente das águas. Foto: Joana Santos/mediotejo.net

“Estamos a falar de uma destruição grande e, efetivamente, com prejuízos avultados”, disse Vasco Estrela, tendo lamentado o ocorrido num projeto “estruturante” e que “estava a ter sucesso pelo número de pessoas que iam visitar aquele local”, num investimento que visava “devolver o rio às pessoas”.

Tendo reiterado a “imensa pena” e “tristeza” por aquilo que aconteceu, o autarca disse estar “ciente dos riscos” da construção, mas que nunca se contava com um cenário desta violência.

“Havia a possibilidade de haver cheias, como houve no passado, mas nunca pensámos que pudessem ser com esta violência e também não podemos descontextualizar aquilo que aconteceu aqui em Mação e o que aconteceu no resto do país, uma situação por muitos referida de perfeitamente anormal e que conduziram a este desfecho”, afirmou.

“Há sempre risco nestes tipos de projetos, infelizmente, as coisas correram mal para o concelho de Mação”, lamentou.

Autarca de Mação lamentou hoje o grau de destruição dos novos passadiços de Ortiga. Foto: mediotejo.net

O que é que pode dizer relativamente ao futuro? Os passadiços vão ser recuperados?

Eu… a esta altura não quero estar a antecipar nenhum cenário, evidentemente que gostava de recuperar, provavelmente não no mesmo local, enfim, outras soluções, é algo que ainda não pensámos, como disse, temos de perceber o grau de destruição, o que é que é recuperável ou não é recuperável, porque é que faz sentido mudar de sítio ou não mudar de sítio. Enfim, temos de avaliar, custos, tudo o que seja inerente…

É importante contar com alguns apoios para poder recuperar este investimento tão importante em termos turísticos?

Evidentemente que, se for possível, sim. Como disse, assumimos as nossas responsabilidades, sabíamos também o risco que, efetivamente, corríamos. Como qualquer investimento tem riscos inerentes, uns mais que outros, mas evidentemente que estaremos atentos a possíveis apoios que possam vir a ocorrer. Sabemos, também que situações similares a montante e a jusante e de outros municípios e, portanto, vamos aguardar para ver aquilo que o Governo e que eventualmente a União Europeia possam decidir relativamente a esta matéria e depois, se houver essa possibilidade, não deixaremos de apresentar as nossas candidaturas.

O que o mau tempo mais afetou a nível concelhio, além dos passadiços, tendo em conta a forte pluviosidade e o vento dos últimos dias?

Nós, enfim, há dois, três anos, tivemos na depressão Elsa também uma situação um pouco parecida com os passadiços, enfim, o prejuízo não foi tão elevado, mas foi a destruição da Praia Fluvial de Carvoeiro. Desta vez foram os passadiços e temos também aqui a assinalar aquilo que aconteceu um pouco por toda a região e pelo país, várias barreiras caídas, casas desabitadas e velhas que também caíram, situações deste género, estradas que tiveram de ser cortadas, enfim, uma série destas pequenas situações que fomos resolvendo e estamos ainda a resolver, mas, de alguma forma, e felizmente não aconteceu nada mais… a não ser esta infelicidade dos passadiços.

A ribeira de Carvoeiro saiu do leito e já inundou a praia fluvial?

A praia fluvial toda, também ainda não está no seu leito normal a ribeira e a praia. Portanto, presumimos que não haverá prejuízo de maior, mas neste momento também ainda não conseguimos ter essa perceção. Tivemos também muitos problemas na freguesia do Carvoeiro, foi das freguesias mais atingidas e, portanto, vamos também de esperar que o tempo possa dar alguma trégua para que podermos fazer uma avaliação mais precisa de tudo aquilo que aconteceu.

Ribeira do Carvoeiro

Caudais lançados no Tejo baixaram mas rio vai continuar a subir ao longo do dia

Os caudais lançados no Tejo baixaram hoje, mas, segundo a Proteção Civil, os níveis hidrométricos do rio vão continuar a subir até às 18:00 a jusante de Almourol, cuja estação registou um pico de 3.637 m3/s às 07:00.

Em comunicado, o Comando Distrital de Operações de Socorro (CDOS) de Santarém afirma que a diminuição dos caudais lançados pelas barragens “já se reflete a montante do Almourol”, mas, a jusante, as águas no Tejo vão continuar a subir ao longo do dia, “prevendo-se uma descida a partir das 18:00″.

Contudo, o CDOS de Santarém adverte que os “avisos meteorológicos para o dia de hoje, para precipitação”, tornam “expectável um agravamento dos caudais com consequente influência na previsão anterior”.

Na terça-feira de manhã, a Comissão Distrital de Proteção Civil de Santarém acionou o Plano Especial de Emergência para Cheias na Bacia do Tejo, no nível Amarelo, devido ao “aumento considerável dos níveis hidrométricos e caudais do rio Tejo, especialmente nos provenientes de Espanha”.

A chuva intensa e persistente que caiu na terça-feira causou mais de 3.000 ocorrências, entre alagamentos, inundações, quedas de árvores e cortes de estradas, afetando sobretudo os distritos de Lisboa, Setúbal, Portalegre e Santarém.

c/LUSA

Mário Rui Fonseca

A experiência de trabalho nas rádios locais despertaram-no para a importância do exercício de um jornalismo de proximidade, qual espírito irrequieto que se apazigua ao dar voz às histórias das gentes, a dar conta dos seus receios e derrotas, mas também das suas alegrias e vitórias. A vida tem outro sentido a ver e a perguntar, a querer saber, ouvir e informar, levando o microfone até ao último habitante da aldeia que resiste.

Agência Lusa

Agência de Notícias de Portugal

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