Ana Rita Silva durante a XXVIII Astrofesta, em Constância. Foto: mediotejo.net

Licenciada em Astrofísica pela Universidade Hertfordshire, no Reino Unido, atualmente a frequentar o doutoramento em Astronomia, foi nos céus que a atual investigadora do Instituto de Astrofísica (IA) e Ciências do Espaço encontrou a sua verdadeira paixão.

Perante cerca de uma centena de pessoas que preencheram as bancadas do Anfiteatro Rómulo de Carvalho, no Centro de Ciência Viva – Parque de Astronomia de Constância, a investigadora começou por explicar a definição de exoplanetas, ou planetas extrassolares, que correspondem a planetas que orbitam estrelas fora do nosso sistema solar, a Via Láctea.

São designados de “exo” porque se localizam foram do no nosso sistema solar, notou, tendo afirmado que um dos motivos para o estudo dos exoplanetas é o facto de vir a permitir encontrar vida fora da Terra.

“Cumprem as mesmas regras para ser planetas que os do nosso sistema, mas orbitam uma estrela que não é o sol. Quando vocês olham à noite para o céu, estima-se que pelo menos a maioria das estrelas que vocês veem têm pelo menos um planeta. Portanto, é um fenómeno muito comum no nosso universo”, explicou Ana Rita Silva.

ÁUDIO | Palestra de Ana Rita Silva sobre exoplanetas e a procura por vida extraterrestre

A descoberta e estudo de exoplanetas são áreas significativas da astronomia moderna. No entanto, até ao início do século XXI, a maioria dos planetas conhecidos estava dentro do nosso sistema solar. Com os avanços na tecnologia de deteção, como os telescópios espaciais e instrumentos terrestres altamente sensíveis, os astrónomos começaram a detetar planetas que orbitam outras estrelas.

O fenómeno de descoberta destes planetas é ainda relativamente recente. Foi há 31 anos que se descobriu o primeiro exoplaneta, situado à volta de um pulsar. “Um pulsar é o que acontece a uma estrela depois da fase da supernova”, acrescenta a investigadora. Hoje, três décadas depois, os estudos desenvolvidos e os avanços tecnológicos permitiram que o número ascenda já aos 5500 planetas descobertos

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Animação sobre a cronologia da descoberta de exoplanetas, apresentada durante a sessão. Créditos: NASA

De acordo com Ana Rita Silva, foi em 1995 quando efetivamente foi publicada a primeira descoberta de um exoplaneta à volta de uma estrela semelhante ao sol, ou seja, “algo que poderia ser um sistema planetário semelhante ao nosso. É sempre o que procuramos encontrar, onde está outra vida e coisas parecidas connosco”, afirma.

O “método de trânsitos” é um dos mais utilizados na deteção de exoplanetas. “Através dele é possível ver o planeta a passar em frente à estrela. Quanto maior ele for, mais luz ele vai tapar. Vamos ter uma quebra naquilo que chamamos a curva de luz da estrela e podemos identificar que, se existe essa quebra, provavelmente existe lá um planeta”, referiu a investigadora.

“Quanto maior a quebra de luz, maior é o planeta que a está a tapar”, acrescenta. Este método foi responsável pela descoberta de cerca de 75% dos exoplanetas descobertos até à data, no entanto, não é o único utilizado pelos astrónomos.

O destaque vai ainda para o método das velocidades radiais, responsável pela deteção de cerca de 18% dos exoplanetas. Para o processo de deteção, são medidas as pequenas variações na velocidade da estrela devido à atração gravitacional do planeta que a orbita.

“A estrela não é um ponto absolutamente estático, se tiver planetas ou outros corpos a orbitar à sua volta. Por mais pequenos que possam ser, eles exercem sempre alguma gravidade sobre ela também”, referiu a oradora.

A nível de instrumentos utilizados para os descobrir, a investigadora destacou a missão Kepler/K2, realizada pela NASA entre 2009 e 2018, tendo descoberto cerca de 61% através do método trânsitos. Destaque ainda para a missão TESS, também da NASA e que desde 2018 até ao presente já descobriu 7% dos exoplanetas com recurso ao mesmo método.

Utilizado para descobrir 5%, através do método das velocidades radiais está o telescópio HARPS, do Observatório de La Silla, no Chile.

Até 2023, o maior planeta descoberto, o HAT-P67b tem duas vezes mais o raio de Júpiter, enquanto o mais pequeno, o Kepler-37b tem 30% do raio da Terra. Com o ano mais curto encontra-se o K2-137b que em cerca de quatro horas e dezoito minutos dá a volta à sua estrela. No oposto, o COCONUTS-2b realiza o mesmo movimento em 1.1 milhão de anos.

Ainda durante a sua intervenção, Ana Rita Silva afirmou que a descoberta de exoplanetas é emocionante porque sugere que existem outros planetas em torno de estrelas que não o Sol, levantando questões sobre a possibilidade de vida em outros lugares do universo e fornecendo valiosas sobre a formação e a diversidade de sistemas planetários.

“Mas porque é que nós queremos caracterizar os exoplanetas?”, questionou a oradora. “Esta ideia dos alienígenas e de conseguirmos comunicar com eles, descobrir do que são feitos, é claramente uma ideia que está sempre nas nossas cabeças desde há décadas, se não já há umas centenas de anos. Isto passa, neste momento e ligado à minha investigação, por caracterizar as atmosferas dos exoplanetas (…). Nós neste momento, no meu trabalho falamos só de detetar indícios de que a vida existe lá”, explica.

Em 2013, de acordo com a investigadora, foi conseguida uma “atualização” importante com a astrónoma Sara Seager. A “equação de Seager” é uma ferramenta que ajuda a estimar o número de estrelas que podem ter planetas com condições favoráveis para a vida. Embora a equação não seja uma fórmula única, tem em conta fatores como o número de estrelas que têm planetas, os planetas que estão na zona habitável das suas estrelas (a região onde as condições são adequadas para a água líquida), a probabilidade de que esses planetas tenham uma atmosfera e um ambiente adequados, e assim por diante.

Ana Rita Silva durante a apresentação. Foto: mediotejo.net

“Isto é uma coisa que nós conseguimos fazer, até porque alguns destes números nós conseguimos ter uma estimativa boa, dada a quantidade de exoplanetas que já conhecemos. Com este número podemos motivar-nos a continuar esta busca”, conta.

“Só para não desanimarmos assim tanto, também existem várias buscas no sistema solar, portanto temos neste momento três Rovers em Marte (…) e temos a missão Juice, que foi lançada há pouco tempo, para ir investigar as luas de Júpiter e tentar perceber se poderá existir algum sinal de vida que nós consigamos detetar”, afirma Ana Rita Silva.

Ana Rita Silva, investigadora no IA. Foto: mediotejo.net

Após o fim da sessão e em declarações ao mediotejo.net, a investigadora do IA explicou as especificidades da investigação que se encontra a desenvolver.

“Eu estudo as atmosferas de exoplanetas. Portanto, nós aqui na Terra estamos todos habituados à nossa atmosfera, mas existem outros planetas, nomeadamente planetas à volta de outras estrelas que também têm atmosferas. Estudando a luz que as estrelas e os planetas emitem, consigo perceber coisas como de que é que essa atmosfera é feita ou como é que o material está a circular em termos de vento e temperaturas”.

ÁUDIO | Ana Rita Silva em declarações ao mediotejo.net

Um dos motivos para o estudo dos exoplanetas é o facto de vir a permitir encontrar vida fora da Terra, afirma. “Claro que todos gostamos de acreditar que existirão extraterrestres e então, procurar outros mundos, nomeadamente uns que sejam semelhantes à Terra, poderá ser o local ideal onde um dia encontraremos vida, semelhante ou não à nossa”, concluiu Ana Rita Silva.

Atualmente a frequentar o Mestrado em Jornalismo na Universidade da Beira Interior. Apaixonada pelas letras e pela escrita, cedo descobri no Jornalismo a minha grande paixão.

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