Foi numa tarde de emoções e de expectativa que dezenas de populares se deslocaram ao edifício que viu nascer o lar “Todos Irmãos”, em Vale das Mós, no concelho de Abrantes. O relógio marcava 16h00 quando o cónego José da Graça fez as honras da casa e, com um ramo de oliveira, fez a bênção da infraestrutura.
A cerimónia de inauguração, que decorreu durante a tarde de sexta-feira, 5 de maio, contou com a presença da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, que visitou o espaço, aproveitando a ocasião para trazer algumas “novidades” aos convidados, autarquia e população presente.

Perante uma casa cheia em que a satisfação pela infraestrutura era notória, a presidente da Associação Social “A Mó e a Água”, Florbela Aranha, começou por agradecer a presença da população, que surgiu em grande número, e também a todos os que permitiram, de alguma forma, a inauguração do lar “Todos Irmãos”.
Visivelmente emocionada, relembrou um sonho com mais de 40 anos e que foi fortemente desejado pelo então pároco da freguesia, o Padre José da Graça. “Surgiu uma nova oportunidade e o padre Zé abraçou esse sonho. Lançou-se nesta construção desejada pela população de Vale das Mós, ao início muito descrente, mas agora aqui temos a realidade desta obra”, afirmou
Dirigindo-se a José da Graça, Florbela Aranha deixou um pedido muito especial, em nome da Associação a que preside. “Se sonhar com mais algum projeto social, a direção da Associação Social A Mó e a Água acolherá esse projeto de mãos abertas e com todo o coração”, fez saber Florbela.
“Sabemos que o Padre Zé fez todas as obras a pensar nos outros e não em si próprio”, referiu a presidente, acrescentando que por opção da direção foi proposto o nome “Lar do Padre Zé”, título que o pároco não aceitou dizendo: “obra onde eu esteja envolvido e comprometido, nunca terá o meu nome”.
Manuel Jorge Valamatos, presidente da Câmara de Abrantes, usou da palavra e começou por lembrar uma freguesia onde foi “criado” e que marcou o seu passado. Saudando a comunidade, agradeceu a presença da ministra e o trabalho que tem sido desenvolvido na área social, em prol do concelho de Abrantes. “Para se concretizar esta grande obra, a senhora teve aqui um papel determinante”, frisou o autarca.
A infraestrutura agora inaugurada prevê uma resposta social na ordem dos 56 lugares e, aproximadamente, 30 postos de trabalho. O lar “Todos Irmãos” vai permitir complementar a valência de Centro de Dia, já existente, e visa colmatar uma necessidade há muito sentida na União de Freguesias de S. Facundo e Vale das Mós, onde a população é maioritariamente idosa.
“Nós estamos a falar de uma infraestrutura essencial para o regular funcionamento das nossas comunidades. Nós precisamos muito destas instituições para dar suporte, sobretudo àqueles que trataram bem de nós”, sublinhou Valamatos. Aproveitando a ocasião, dirigiu-se a todos os que ouviam atentamente e deixou uma “palavra de esperança e motivação” aos futuros trabalhadores da instituição. “Desejar que tudo corra bem e que possam dinamizar esta estrutura de forma capaz e competente”, acrescentou.
Dirigindo-se à ministra, o responsável autárquico deu conta da dimensão do concelho a que preside, que equivale à dimensão da Ilha da Madeira. “É um concelho difícil pela sua geografia, é imenso e disperso (…). Pelas nossas características, precisamos que estes tipos de infraestruturas possam acontecer e que possam funcionar verdadeiramente bem”.






Ainda durante a sua intervenção, Manuel Jorge Valamatos homenageou uma importante figura abrantina e mentor do projeto. Referindo-se ao pároco José da Graça, que o ouvia com muita atenção, falou de uma figura “central” na construção da infraestrutura. “Este edifício tem muito a ver com um homem, que é o Padre José da Graça. É um homem extraordinário”, destacou, perante os aplausos gerais.
Para Ana Mendes Godinho, este foi um dia “muito especial”, especialmente para a população de Vale das Mós. “É ver no terreno aquilo que parece ser a concretização de um milagre do Padre Zé, com a construção desta obra (…), contra ventos e marés, contra a dificuldade e o exercício de ouvir nãos, procurar sempre os ‘sim’ e a construção de soluções”, sublinhou.

Destacando o trabalho desenvolvido pelo impulsionador do projeto, Ana Mendes Godinho relembrou que esta se trata da terceira obra do país, de âmbito social, construída no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), o que considerou ser “espetacular”.
“É especialmente inspirador e dá-me forças para continuar este caminho. Se pensássemos em 2019 se seria possível encontrarmos formas de concretizar todo o investimento social que está a acontecer no país, ninguém imaginava que era possível”, deu conta.
A “inquietude permanente” e o surgimento da pandemia obrigaram a novas formas de pensar e “mostrou evidências de que quando temos de investir socialmente nas várias dimensões”, o trabalho é realizado. “É evidente que temos de ter mais respostas, estamos todos a ficar mais velhos e não temos um país preparado para responder ao envelhecimento e a pandemia deu-nos uma legitimidade social que nunca teríamos conseguido para colocar e mobilizar fundos como nunca aconteceu”, afirmou Mendes Godinho.
Ainda durante a sua intervenção, a ministra fez saber que no domínio nacional, estão neste momento a decorrer cerca de 600 projetos sociais, apoiados pelo PRR. Referindo-se ao lar “Todos Irmãos”, Mendes Godinho sublinhou a importância do projeto. “É um PRR transformado numa nova casa, para muitas pessoas que estavam à procura desta resposta”.
“É um dia para mim de inspiração e de esperança. Mal cheguei aqui, as primeiras palavras que ouvi da presidente e do padre Zé foi o que é que vamos fazer mais? Esta inquietude permanente é o que tem de nos alimentar, temos de aproveitar o momento que vivemos para acelerar do ponto de vista do investimento social, para garantir que nós conseguimos ter um país mais justo”, referiu Ana Mendes Godinho.
Aproveitando a ocasião, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social anunciou que serão lançados dois novos avisos para o PRR.

“Vamos lançar um aviso para apoio domiciliário, em que vamos pedir às instituições que já estão no terreno para fazerem adaptações nas casas das pessoas, para que as pessoas possam ficar nas suas casas, mas com acompanhamento. Que não estejam isoladas e que as casas estejam preparadas para que as pessoas possam ficar em casa”, afirmou.
Dando exemplos concretos, Mendes Godinho falou de pequenas obras que vão permitir que as pessoas permaneçam nos seu lares, como uma adaptação da banheira, a colocação de corrimões e ainda a disponibilização de tablets, para que os idosos permaneçam ligados “à distância de um clique”.
O segundo aviso do PRR vai procurar apoiar novas respostas para o envelhecimento, anunciou a ministra.
O discurso da ministra foi repleto de novidades para os presentes. A construção do lar em Vale das Mós decorreu, em grande parte, durante o período pandémico, sofrendo as consequências da escassez de materiais e do aumento do custo dos mesmos. “Já estamos a negociar com Bruxelas, com a Comissão Europeia, e já temos muito bons sinais no sentido do reforço do valor que já foi aprovado, que eu acho que vos dará uma liquidez inicial agora para arrancar”, anunciou Mendes Godinho.
“Pensar nos outros antes de pensar em si”, foi o lema que em muito marcou a trajetória de vida do cónego abrantino e que na ocasião transmitiu aos presentes.
“Se eu por ventura não me dedicasse ao assunto através das obras sociais, a minha vida de padre não tinha sentido. A minha vida de padre tem sentido na medida em que me dedico aos outros e quanto mais me dedicar aos outros, mais sentido tem a minha relação, a minha intimidade e a minha entrega total à causa do Evangelho e de Jesus Cristo”, afirmou José da Graça.


Aos presentes falou de um sonho que se iniciou há 40 anos e que “com muito sacrifício” conseguiu dar seguimento, transformando-o na obra inaugurada a 5 de maio de 2023.
“Esta obra foi sonhada há mais de 40 anos. Nunca pensei realizá-la. A vida traz muita curva, muita incerteza, muita dúvida e estava numa situação que podia dedicar-me agora a um sonho. Foi por isso que decidi esta construção”, recordou. Dada a dimensão da obra, o padre confessa que “não foi fácil tomar uma decisão”, mas ainda assim resolveu aceitar o desafio.

Durante a sua intervenção, não esqueceu aqueles que o acompanharam e agradeceu aos que o ajudaram, ainda que no anonimato, sem os quais considera que “teria desistido”.
“Por isso foi possível hoje estar aqui, num ambiente de festa e de alegria. É de alegria porque, como a placa de inauguração dizia, esta casa foi construída para ser uma casa da comunidade e dos afetos”, sublinhou.
A obra pensada e liderada pelo padre abrantino, passou então para a direção da Associação Social “A Mó e a Água”, tendo José da Graça contribuído de forma financeira para apoiar o trabalho da mesma. “Coloquei-lhes na conta da obra 5000€ para poderem iniciar o governo da casa”, fez saber o pároco.
Após os discursos iniciais, os presentes iniciaram uma visita pelas instalações do lar, que culminou num lanche confecionado e oferecido pela comunidade de Vale das Mós.










Após a inauguração e em declaração aos jornalistas, José da Graça explicou o futuro que objetiva para a instituição. “Eu não quero um lar para ser uma ilha. Quero um lar para entrar nas casas e para as casas entrarem no lar. Portanto, se existir na aldeia alguém que tenha dificuldades, o lar tem de ajudar a resolver essas dificuldades (…) O lar tem de tentar dar uma resposta social àqueles que necessitam”.
Para o futuro, o padre conta que associação tem já em planeamento novos projetos para acrescentar valências e aumentar a resposta da infraestrutura na freguesia de Vale das Mós.
No mesmo momento, Ana Mendes Godinho afirma que este terceiro projeto na área social tem um significado muito especial, representando o maior investimento aprovado no setor social.
“Mostra a grande capacidade de concretização. É disso que o país precisa, de pessoas e instituições que aproveitam estes instrumentos e concretizam ao serviço das pessoas”, afirmou.
“Estamos neste momento a negociar com a Comissão Europeia um reforço da verba dedicada aos projetos sociais no PRR, nomeadamente para apoiar as instituições relativamente a este aumento de custos, do ponto de vista da construção. Espero ter boas notícias brevemente”, disse ainda a ministra.
No final das declarações aos jornalistas, Mentes Godinho recordou que foi assinada, a 3 de maio, uma linha de financiamento para o setor social, que prevê um apoio de 120 milhões “para ajudar a complementar estes projetos do ponto de vista de montagem financeira (…) Permite o financiamento de operações até 1,5 milhões por operação e com um spread máximo de 1,75%, o que é também um instrumento financeiro útil para completar estes projetos”.

São destinatárias desta linha de apoio as Entidades que sejam Instituições Particulares de Solidariedade Social (IPSS) ou entidades equiparadas, sem fins lucrativos com certificação PME, quando aplicável, localizadas em território nacional e com atividade principal enquadrável.
As entidades podem candidatar-se a um financiamento máximo de 1,5 milhões de euros, através de empréstimos de curto, médio ou longo prazo (até 10 anos após a contratação da operação, podendo o prazo ser estendido até 15 anos), com possibilidade de até 36 meses de carência de capital.
As operações beneficiam de uma garantia prestada pelas Sociedades de Garantia Mútua – e contragarantida em 90% do Fundo de Contragarantia Mútuo – destinada a garantir até 80% do capital em dívida, a cada momento.
A abertura da Linha de Financiamento foi oficializada, numa sessão promovida pelo Ministério do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, pelo Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social e pelo Banco Português de Fomento, no âmbito da iniciativa Governo Mais Próximo em Braga.
Câmara apoiou o projeto em 60 mil euros
O projeto apresentado pela ‘Associação A Mó e a Água’, de Vale das Mós, foi aprovado no âmbito do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), contando assim com apoios financeiros para a execução do mesmo. Também a Câmara de Abrantes aprovou um apoio de 60 mil euros, em acordo com a associação de Vale das Mós, montante que procurou apoiar a compra de todo o equipamento da cozinha e da lavandaria.

Em declarações aos jornalistas, no final da reunião de executivo realizada no dia 6 de outubro de 2022, o presidente da Câmara Municipal, Manuel Jorge Valamatos (PS) disse que a nova infraestrutura “vai dar resposta a muitos idosos de forma qualificada” e que o apoio concedido a este investimento segue em linha com outros projetos similares em curso no concelho, nomeadamente em IPSS´s de Rossio ao Sul do Tejo, Tramagal, Mouriscas e Souto, com candidaturas aprovadas no âmbito do programa PARES.
No caso da Associação de Vale das Mós, que também viu a sua candidatura aprovada por Fundos Comunitários, as duas partes chegaram a um entendimento de 60 mil euros, neste caso para apoiar a compra de todo o equipamento da cozinha e da lavandaria.
“Esta é a forma que entendemos que era importante dar um apoio, nesta altura muito difícil para as nossas IPSS”, disse o autarca abrantino, tendo justificado a importância do “apoio ao trabalho da comunidade civil em torno de objetivos de melhoria das condições para os nossos idosos”.
A ERPI que nasceu em Vale das Mós ultrapassou os três milhões de euros de investimento, “é uma unidade completamente nova, ao exemplo daquilo que vai acontecer também em Tramagal”, acrescentou Manuel Jorge Valamatos, tendo feito notar que Abrantes, ao exemplo daquilo que acontece no país, “precisa deste incremento de valorização das respostas” para os idosos.
Vale das Mós está de parabéns. Muito obrigada a todas as pessoas que realizarem este sonho em realidade,Envio um grande Abraço com muito afeto ao Padre José da Graça, que foi o nosso Padre , para mim também e de Vale das Mós , Amo a minha terra e todas as pessoas que nela habitam. Com soudades ❤
Grande Homem o nosso Padre Cónego José da Graça, façam mais e melhor que ele em vez de o tentarem destruir.. BEM HAJA SR. CÓNEGO.