António Carvalho dedicou a sua vida à enfermagem. Fotografia: Arquivo familiar

O meu Amigo Carvalho fez a sua viagem definitiva ontem, ao nascer do  dia. No último ano, foi partindo aos poucos, deixando-nos um gosto amargo pela impotência com que sentimos não conseguir travar a chegada deste instante.

Nunca se está preparado para uma perda destas, depois de um convívio constante de mais de trinta anos, quando as nossas vidas se misturaram tanto que falar dele é falar de nós próprios.

Por isso, com a sua ausência, há um pedaço de nós que se perde, uma memória guardada que fica mais distante e a sensação de que tantos projetos que tínhamos dificilmente de se irão concretizar.

Se recuar nos mais de trinta anos, vejo-o ainda no antigo Hospital da Misericórdia, com a disponibilidade, o empenho e a sabedoria dos seres de exceção. 

Acolheu-me aí, com a bondade dos mestres, orientando-me serenamente e suprindo com discrição, em muitos momentos, as minhas inseguranças de aprendiz.

Mais tarde, já num outro tempo das nossas vidas, sempre o envolvimento afetuoso, a ajuda, a colaboração e o empenho exemplares.  Numa busca constante de desafios. 

Juntos, desbravámos e abrimos caminhos novos no nosso trabalho, e conseguimos fazê-lo, em larga medida, devido ao seu entusiasmo. 

Em todas as circunstâncias, mesmo nas mais adversas, havia uma sabedoria serena que estava sempre presente e onde o impulso do seu querer era essencial.

Não gostava de falar disso, mas a sua vida em Angola, antes de aqui chegar, foi também marcada pela solidariedade e pelo combate pelos menos afortunados.

Um homem justo, solidário como poucos, empenhado e lutador.

Hoje sinto que a melhor forma de o recordar será como um alguém com os pés na terra e a cabeça no sonho. 

A Luísa, o Humberto e o Nuno, terão orgulho e saberão transmitir estes valores aos que agora chegam, à Joana e à Marisa, mas, sobretudo, ao João, à Diana e à Inês. 

E a enorme alegria que foi terem amado e sido criados por um Homem com esta imensa dignidade.

*Paulo Vasco é médico urologista e foi diretor clínico e administrador do Centro Hospitalar do Médio Tejo.


Cerimónias fúnebres

As cerimónias fúnebres decorreram de forma reservada à família na Capela de Sant’Ana, em Abrantes, esta sexta-feira, 29 de abril, tendo o seu corpo seguido depois para o crematório do Entroncamento. A União de Freguesias de Abrantes, São João, São Vicente e Alferrarede emitiu uma nota de pesar, agradecendo a sua dedicação: “Partiu um Amigo, partiu um Homem altruísta, sempre disponível a ajudar sem esperar nada em troca. Efectuou gratuitamente durante anos a fio os rastreios ao colesterol e à glicémia promovidos pela Junta de Freguesia, desde a cidade às nossas aldeias mais remotas, ninguém ficava para trás. Era reconhecido e acarinhado por todos, guardamos com carinho a sua boa disposição e o seu querer fazer. Bem haja enfermeiro Carvalho, obrigado por tudo.”

Médico especialista em Urologia, foi diretor clínico e administrador do Centro Hospitalar do Médio Tejo.

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