Criada há um ano, a Planet Caretakers promove recolhas de lixo em zonas naturais, de forma a “mitigar a pegada do ser humano sobre espaços fundamentais para o equilíbrio dos recursos e biodiversidade do planeta”, como explica a fundadora, Débora Sá, que começou sozinha a limpar uma praia e hoje coordena cerca de 20 equipas da organização, em vários pontos do país, sendo o grupo mais ativo o Caretakers Castelo d’Bode, criado em julho de 2021.
Ao longo dos últimos meses, estiveram envolvidas nas ações da Caretakers cerca de 800 pessoas, retirando 15 toneladas de lixo da natureza – cerca de um terço saiu do rio Zêzere.

Mas a que se deve tanto lixo acumulado? “Há falta de educação e civismo, assim como falta de receptáculos”, responde a ambientalista.
Plásticos, embalagens, pneus, cotonetes, esferovite, restos de eletrodomésticos, garrafas, “tudo o que é lixo”, é recolhido pelos voluntários. “Os pauzinhos de chupa-chupas e de cotonetes são também um flagelo para a natureza, mas principalmente para a vida animal”, refere a organização, lembrando que “o lixo que produzimos não desaparece: move-se e acumula-se noutro lado”.
No caso da albufeira de Castelo do Bode, cuja água é consumida por mais de três milhões de pessoas, Débora refere que já chegaram a recolher embalagens de produtos químicos, situação que a deixa preocupada.
No final, os voluntários procuram fazer uma triagem dos detritos recolhidos, que são depois colocados nos pontos de reciclagem mais próximos.

Residente na Costa da Caparica, Débora Sá, 33 anos, abandonou a informática e o ioga para se dedicar a tempo inteiro ao projeto Planet Caretakers, para já sem qualquer apoio estatal.
“Através da dinamização e monitorização de várias equipas de voluntários espalhadas pelo País temos procurado ativamente aliviar os ecossistemas, potenciando a recuperação da sua fauna e flora”, diz, explicando que se pretende também “consciencializar a população em geral sobre a urgência e importância dos nossos atos e hábitos de consumo”.
Quando perguntamos se não sentem que se estão a substituir às entidades responsáveis, a resposta é rápida: “Não, temos todos de ser mais civilizados e ter um maior cuidado na forma como usamos o planeta”.
Uma tarefa sem fim
Geralmente uma vez por semana, os participantes, distribuídos por um ou dois barcos de madeira, percorrem as margens do rio Zêzere num trabalho que parece não ter fim. “Infelizmente, para a quantidade de lixo que existe, as mãos nunca são suficientes”, sublinha a fundadora do movimento.
É sobretudo através das redes sociais que os voluntários têm conhecimento das ações de recolha e se juntam – uma adesão que até agora “tem sido bastante boa”. O mesmo não se pode dizer dos apoios, “tirando algumas entidades particulares” e a União de Freguesias de Cernache do Bonjardim, Nesperal e Palhais, refere Débora Sá.
Ao fim de quatro horas, termina mais uma ação de limpeza. Para os participantes, a sensação é de que fizeram a sua parte e, com o seu exemplo, esperam inspirar outros.
É com esta motivação que se juntam há mais de um ano, quase todos os domingos. Até quando? “Enquanto tivermos voluntários e pessoas dedicadas à causa, estas iniciativas são para continuar”, responde Débora, que prefere não aparecer nas fotografias.