Esta semana falamos de amamentação. Para muitas mulheres é um prazer, para outras um drama. Para mim, é uma escolha pessoal. As vantagens são inúmeras e conhecidas, tanto para o bebé, como para a mãe. Sendo uma “vacina natural”, as crianças terão assim menores probabilidades de apanhar vírus, infeções, alergias, etc. A mãe, tem menor probabilidade de desenvolver cancro da mama, para além de recuperar mais rapidamente do parto.
A amamentação é no entanto (e obviamente) uma decisão da mãe, e só da mãe. Tem as suas dificuldades que poderão ser muito complicadas de gerir por algumas pessoas. Apesar das vantagens, deve ser uma decisão pessoal e não deve obviamente ser criticada por terceiros. Vemos muitas vezes circular nas redes sociais comentários sobre as coisas que se dizem/ ouvem durante a gravidez e durante a amamentação. É tudo (ou na maioria) verdade e por vezes não são fáceis de digerir.
A pressão social para as mães (principalmente de primeira viagem) é muito elevada. No entanto, se nós mulheres conseguimos parir uma criança, não havemos de saber lidar com os comentários menos agradáveis? Era agora o que mais faltava! É por isso fundamental não dar demasiada importância aos comentários dos outros, nem deixar que isso influencie a nossa decisão.
Não é tarefa fácil, mas ser mãe também não é. A mulher deve ser apoiada nesta fase para tentar ultrapassar as dificuldades, caso entenda amamentar. Apesar de todos os benefícios que a amamentação traz para a criança, ser amamentada por uma mãe “contrariada” não ajudará em nada. Portanto, decidindo avançar, é das melhores sensações do mundo.
Para além das vantagens diretas para a saúde, há ainda a vantagem da relação mãe-filho ser estimulada e reforçada. O vínculo afetivo é fortalecido, sendo que as crianças ficarão mais seguras e com maior autoestima. É por isso um momento único, dos dois, onde ambos ganham. A vinculação à mãe é fundamental para o desenvolvimento do bebé.
Esta relação começa a ser construída ainda no ventre. No momento do parto, a magia acontece. Quando se vê um filho pela primeira vez e o colocam em cima de nós, é um momento inigualável, inexplicável, um sentimento tão belo e grande que não cabe no peito. A partir daí, e durante os primeiros anos de vida, a relação estabelecida com os pais vai marcar o adulto que o bebé será. É portanto importante que as medidas de incentivo à natalidade contemplem não só benefícios fiscais, apoios financeiros, melhores condições de saúde e de educação, mas que contemplem tempo para que os pais possam estar com os filhos. Possam mima-los, dar-lhes regras, criar rotinas, vê-los crescer, sendo sujeitos ativos na sua educação e não apenas meros espectadores.
Na Noruega, 98% dos recém-nascidos são amamentados e, destes, 80% continuam a mamar até completarem 6 meses de idade. Um país onde que as práticas hospitalares estimulam o aleitamento e as licenças parentais rondam um ano, divididas entre pai e mãe de acordo com a sua realidade e exigência profissional.
A Dinamarca segue o mesmo exemplo, a Finlândia permite o gozo de 42 semanas, mas é a Suécia que bate todos os recordes com um ano e quatro meses de licença. A Alemanha permite o gozo de 58 semanas, sendo que 8 são em exclusivo para o pai.
Em Portugal gozamos (nós mulheres) de, no máximo, 5 meses de licença parental, paga a 83% se partilhar a licença com o pai (mais um mês). Ora, a Organização Mundial de Saúde (OMS) aconselha à amamentação até aos 6 meses como forma exclusiva de alimentação do bebé e até aos 2 anos, como complemento alimentar.
O relatório da Iniciativa Mundial sobre Tendências do Aleitamento Materno vem esta semana recomendar que Portugal deve prolongar a licença de maternidade paga até aos seis meses para apoiar a amamentação exclusiva dos bebés e que os empregadores passem a ter zonas específicas para que “as mães possam amamentar os seus bebés e/ou extrair e armazenar leite materno”.
Acrescento ainda que estes espaços destinados à muda da fralda e alimentação do bebé não devem ser confinados ao uso feminino, mas sim serem espaços que os homens possam também utilizar. Parecem-me medidas simples de por em prática e que a sociedade verá retorno a médio prazo.